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Contos-->Direto no Queixo -- 15/02/2001 - 23:59 (Fabio Robson Massalli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O vestiário mal-iluminado e úmido, repleto de goteiras e vazamentos era um misto de euforia e desapontamento. Alguns ainda se recuperavam dos golpes, outros já colhiam os louros de vitórias sobre adversários que nada ou quase nada significavam. Para Luiz Carlos Silva, vulgo Marreta, o sentimento era um só: a expectativa. De seu adversário nada sabia, apenas que se chamava José da Costa, era mais alto, um pouco mais leve e também estava debutando no mundo boxe amador.
Entre Marreta e seu técnico imperava o silêncio. Jofre Martins, 25 anos como instrutor e técnico de boxe, nunca formou nenhum campeão, mas alguns de seus pupilos chegaram até mesmo a se profissionalizar e um ou dois chegaram a estar bem ranqueados na Confederação Brasileira de Pugilismo. Mas nenhum disputou um título. Martins jamais considerou Marreta um campeão, mas mesmo assim deu algumas esperanças ao rapaz. Tinha uma boa pegada e era bem resistente. Faltava-lhe bastante técnica e alguma rapidez. Mas com um pouco de sorte talvez conseguisse se profissionalizar e até ganhar algumas lutas. Não muitas. Porém serviria para lhe arranjar alguns trocados, sempre há bons lutadores precisando de um sparring com queixo duro e uma forte pegada.
O espelho atrás de Martins refletia um senhor já de cabelos brancos enfaixando as duas mãos de um mulato de olhar um pouco assustado. Cabeça raspada, estrutura forte, porém sem muitos músculos, mas também sem muita gordura. Um metro e setenta pesando sessenta e três quilos. Lutaria na categoria médio. Não exatamente a sua, mas aquela que conseguiram lhe encaixar. Marreta trabalhava como pedreiro durante o dia e treinava na academia de Martins durante à noite. Todas as noites, de duas a três horas por dia. Todos os seus colegas torciam por ele e até conseguira de seu chefe a última semana de folga para poder se dedicar mais ao treinamento.
“Quando for campeão do mundo lembre de dizer que nós incentivamos o esporte” – disse o capataz sorrindo do alto de seus cento e vinte quilos. E ele treinou, oh senhores, como ele treinou. Corda, saco de areia, sombra, corrida, musculação. Se imaginava um novo Maguila, saindo dos tijolos e argamassa para os ringues do mundo.
“Pronto, Marreta, vamos agora aquecer esses músculos. Quero ver essa bomba de direita acertando em cheio o queixo daquele sujeito. Vamos lá, rodando, pulando, socando, esquerda, direita, esquerda, esquerda direita. Nervoso. É normal. Sua estréia. Tá na hora, veste a luva e vamos para a briga. Já sabe, cuidado com a defesa, trabalha com jeb e cruzado na linha da cintura e em cima e hora que ele abri a guarda acerta o seu direto”.
E lá foi Marreta para o ringue, ouvindo o tema do filme “Rocky, um lutador”, a mesma música que tocaram para todos os antecessores, vencedores e perdedores.
* * *
Duas horas depois Luiz Carlos Silva, vulgo Marreta, ainda estava sentado no vestiário mal iluminado, úmido e agora também mal cheiroso. Sua luta, de três rounds já acabara há muito tempo. Jofre Martins já estava em casa, deixara o ginásio depois da derrota do seu último lutador, na categoria meio-pesado. E ele acertara sobre a luta de Marreta. Fora mesmo um direto no queixo que definira a luta. Mas ao soar do gongo era Marreta que estava na lona e seu adversário quem tivera o braço levantado.
Marreta até que começou bem, mas um golpe fortuito, resultado de um descuido em sua defesa, destruiu todos os seus sonhos. Agora ele ficou ali, sentado no vestiário frio, mal iluminado e mal cheiroso, repleto de poças d’água e vazamentos, sentindo a dor no queixo (talvez tenha até perdido um dente) e uma dor muito maior ainda em seu peito.
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