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Contos-->O caso do "silêncio" -- 02/01/2007 - 21:07 (Osmar Malheiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

E um dia Olavo calou-se.

Não por birra, nem por vaidade, mas era aquela fase que o remetia ao introspectivo, ao pensamento dele consigo mesmo. Aquele olhar mortiço que não indicava nem ódio nem paixão, mas um vazio como se ele não tivesse alma. Não era mudo, mas seria melhor se fosse, pois parecia tratar o mundo com uma indiferença que não era dele ou que pelo menos ninguém sabia desse seu lado. Respondia o básico, não se aprofundava na natureza dos assuntos, não explicava e não fazia muita questão de entender.
Olívia notou. E como notou. Num primeiro momento esboçou uma pergunta, mas com medo de ser maltratada por ele que fazia uns meses estava um tanto diferente, tratou de assumir o estilo resignado, queria saber, mas não perguntava e devagar isso foi envenenando-a.
Olavo passava os seus dias, ora com algumas aflições, ora com algum contentamento furtivo, mas sempre retornava para dentro, para as voltas de seu caramujo interior, experimentava as sensações do mundo, opiniões, ações e conselhos que o mundo dá, mas não interagia, carregava-os para dentro de si para manipulá-los ao seu modo, quieto e introspectivo. Era uma necessidade antiga de ficar quieto. Não necessariamente sozinho, mas quieto, num primeiro momento buscando alinhar seus sentimentos às suas necessidades. Fazendo os cálculos da vida e do dinheiro, somando coisas, subtraindo números e testando conclusões. Num outro momento era só o silêncio mesmo, uma espécie de depressão bem vinda, que os ouvidos buscavam o silêncio de um olhar, a quietude de um entardecer. Coisa simples de desejar, mas difícil de explicar.
E Olívia? Olívia também tinha seus problemas, suas ânsias e vontades, mas já se sentindo preterida por Olavo, tentava não expressar nem o bem nem o mal, agia como espelho, tentando aplicar nele o mesmo sentido de veneno que ele de forma tão silenciosa e impassível nela injetava. Mantinha-se resignada na dúvida de saber se era ela o problema ou se ele tinha desfeito o sentimento que antes dizia nutrir.
Olavo sentiu? Sentiu sim, meio na dúvida em saber se havia algum outro problema maior ou se o problema era ele, mas ao invés de comunicar Olívia sobre sua necessidade de silêncio, que é diferente de solidão, apenas tratou de carregar as sensações de Olívia para dentro de si e ela virou matéria de estudo dentro das voltas de seu caracol. Dentro dele ela era um sentimento vasto e quente, um cobertor bem quente e necessário de uma noite de frio. Um alento que enquanto houvesse interação, ele não precisava se preocupar. Mas ele não queria interagir, não naquele momento, não naqueles dias, pois naqueles dias ele não interagia nem com Deus. E como os outros viam essa atitude de Olavo? A especulação se alastrava. Uns diziam que ele estava triste, outros que ele estava com raiva. A mulher da limpeza chegou a dizer para a outra que ele foi mandado embora e ele, ele não dizia nada, fazia o que tinha que fazer e voltava para dentro de si, para contemplar não sei o que, sabe-se lá que loucura era essa. Mas fazia, queria fazer e gostava.
Sabendo-se que o mundo não para, nem com reza ou mágica, o mundo realmente não parou e as coisas seguiram seu rumo, acomodando-se e ajeitando-se ao seu silêncio chato e ensurdecedor. Isso envolvia Olívia que moldou-se a seu modo, ao silêncio insípido e perfurante de Olavo.

Mas um dia Olavo falou...

Num primeiro momento foi como abrir uma porta grande e pesada, com um rangido lento e extenso. Uma porta que parecia guardar a mil chaves uma imensidão de sentimentos e conclusões enclausuradas e que agora já amadurecidas faziam força para sair e saíram. E Olavo desembestou a falar sobre suas conclusões e teorias, aquelas que ele ruminou tanto tempo em seu solilóquio até que um atalho de pensamento levou-o direto até o estomago e lá estava frio, frio como o corredor de um hospital, frio como algo que necessitasse de um cobertor bem quente... Lembrou-se de Olívia.
Quantos dias já não a via? Muitos dias... Que agora parecia ser uma eternidade e uma necessidade de urgência afastou todo e qualquer outro pensamento. Pegou o telefone e ligou:

- Alo? – uma voz feminina conhecida atendeu do outro lado.
- Olívia? – perguntou baixo quase querendo cochichar.
- Olavo?
- Oi! Sou eu! Olha, eu preciso dizer que te amo!
-...
Um silêncio frio entrava por seu ouvido fazendo eco em sua cabeça.
- Olívia?
- Oi...
- Você ouviu? Eu te amo!
- Ama mesmo? – Perguntou Olívia com voz interessada.
- Sim, amo muito, tanto que nem sei o quanto!!
- Ama de verdade?
- Sim, amo de verdade! Muito! Demais!
- Então enfia o seu amor no cú, por que eu cansei!

Desligou o telefone e o mundo seguiu girando nas voltas doidas que a vida dá.
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