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Cronicas-->Café solúvel, mundo não. -- 14/09/2004 - 00:24 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Café solúvel, mundo não.

Carlos Canhameiro

O menino chorava, inconsolável. Não por alguns minutos, mas por longas horas. Os pais, num primeiro momento, tentaram animá-lo. Depois, preocupados, chamaram um médico que assegurou não haver nada de anormal, exceto o excesso de lágrimas. Talvez fosse o caso de ajuda psicológica. A choradeira só cessou no dia seguinte. Ninguém póde compreender a tristeza impar do pimpolho e jamais o mundo iria conhecer seu amigo imaginário que falecerá atropelado.

- Eu só queria ser profundo. O que há de errado nisso?
- Nada.
- Então por que me reprova?
- Não sou eu, é você.
- Mas foi você quem disse não.
- Respondi aquilo que você queria ouvir.
- Como sabe?
- Não sei.

Pediu perdão aos pais, aos amigos, aos conhecidos e a quem mais pudesse se interessar. Desculpou-se pelo que havia feito, pela maneira que havia procedido, pelo que omitira, pelo que revelara, por desistir quando não devia, por persistir quando não poderia, por tudo de errado que acontecera e pelo mal que havia causado quando em princípio desejava o bem. Desculpou-se tanto que não havia mais como culpá-lo de algo. Foi acusado de presunçoso.

- Eu odeio você.
- Não posso fazer nada a respeito. Não sei quem você é.

Ela até gostava dele. Mas havia uma certa mania de coçar o nariz que a irritava. Depois vieram os vícios de linguagem. O penteado estranho, o tênis surrado, a barba por fazer, unhas compridas, a melancolia, os livros da Zíbia Gasparetto. Não podia dar certo. Tanto que não deu. Ela queria um homem diferente dele e ele era muito diferente para ela.

- Papai, quando alguém vence outra pessoa tem sempre que perder?
- Nem sempre.
- Quando então?
- Pergunte para sua mãe.

Eram amigos, não se sabe desde quando. Diziam-se inseparáveis, irmãos... Unidos. Sabiam tudo um do outro. Não sabiam mais quem eram. Já não eram os mesmos, mas compartilhavam o mesmo ideal, eram inimigos.

- Você ainda acredita na humanidade?
- Claro, ainda sou humano.

Ela havia mudado. Eram o que todos diziam. A criança doce agora não parecia sequer um ser humano, tamanho desprezo por todos. Não podiam entender a transformação: falha dos pais, influência dos amigos, falta de caráter, namorado. Afinal o que poderia ter feito tamanho estrago? Diziam as más línguas que ela apenas havia deixado de ser criança.

- Por que você falou aquilo de mim?
- Porque não havia nada melhor a dizer sobre você.

Ele sentia pena dos outros. Não sabia controlar a sensação. Conversava e em seguida se desmanchava em dó. Sofria com o mal que acometia qualquer pessoa e mesmo o bem o fazia lembrar que não seria eterno. Viveu pouco devido ao esgotamento causado pela comiseração imensurável pelos conhecidos. Não havia ninguém para carregar seu caixão.

- Você não poderia dizer algo alegre?
- Isso te deixaria feliz?
- Claro!
- Então não.
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