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Poesias-->O sítio do Edgar -- 20/11/2007 - 23:55 (Antonio Jurandir Pinoti) |
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O sítio do Edgar
Limoeiros espinhentos e ouriços
enfeitiçavam o sítio do Edgar.
À noite as luzes eram lamparinas.
A fumaça do querosene afastava os mosquitos.
Na casa mais bonita do sítio morava uma mulata,
que Edgar amava nas noites, e às claras.
Todos sabiam:
a mulher do Edgar
invejava os cabelos brilhantes da moça.
Havia um alemão nazista
escondido lá.
O homem não fazia nada,
a não ser olhar os girassóis.
Numa sexta-feira ele quis comer a mulata.
Também havia rosas no sítio do Edgar.
Ela não aceitou a flor vermelha
e nem o dinheiro do alemão.
Fazia frio naquele dia,
quando a moça trepou na árvore.
Subiu para apanhar pitangas.
O nazista não se conteve.
Lembrou-se da desfeita que sofrera
e matou a coitada
com um tiro no coração.
O estampido
e o grito
ecoaram no sítio do Edgar.
As crianças olhavam com medo
o lugar onde o sangue empoçou.
No velório dava pena de ver as lágrimas do Edgar.
E um pouco de ódio do sorrisinho da mulher dele,
afagando as orelhas de uma sonolenta cadela branca.
Na cadeia, o cheiro de pitanga
assombrava os dias do alemão.
Ele escolheu os pulsos.
Cortou-os no sentido longitudinal.
Rasgou veias, músculos
e artérias.
E ninguém velou o cadáver.
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