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Cronicas-->- Rapaz... Onde meteste as tuas cuecas ?... -- 16/09/2004 - 10:15 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Por volta dos meus 16/17 anos, de sábado para domingo, quando regressava a casa depois da meia-noite e, apesar de minha entrada sorrateira, meus pais, ainda acordados, davam por isso, o triálogo era mais ou menos como descrevo.

Meu pai, de seu quarto e com voz bem audível, iniciava a breve troca de palavras:

- Ei lá... Ó rapazinho, isto são horas de chegar a casa?...

- Desculpe, ó pai, atrasei-me porque me distraí um pouco à conversa com os amigos...

- Tu andas sempre distraído... Andas. Mas... Ó pazinho, aonde estiveste até às duas horas da manhã?

- Estive no baile da Associação...

- Logo... Quando me puser a pé, vou perguntar ao Diogo se de facto foi lá que estiveste.

Intervinha então minha mãe com a sua poética lengalenga. Minha progenitora adorava poesia embora não fosse poetisa...

- Ó homem... Deixa pra lá. Dance aonde dance, ele foi sempre um grande dançarino desde miúdo. Então não te lembras daquela vez...

- Ó Maria, bem... Vamos mas é dormir. Ó rapazinho... Vê lá se te deitas ligeiro e apagas essa luz.

O pequeno e elucidativo pormenor que acabo de referir dá exacta ideia de meu pendor para a dança.

Não queiram saber como desde sempre adorei andar de peito bem assente entre um bom par de mamocas. Ó santinhos... Eu delirava a perpassar-me sobre os erectos mamilos das miúdas. Delirava e fazia delirar minhas parceiras.

Quantas vezes, a levitar em deliciosas galáxias, me molhei todinho, a ponto de ver-me obrigado a recorrer aos lavabos para tirar as cuecas, limpar-me com elas e deixá-las lá ficar.

Tarde ou cedo, na mais inesperada altura, mas possivelmente de propósito à frente de meu pai, minha mãe interrogava paremptória:

- Rapaz... Onde meteste as tuas cuecas?...

Meu pai, olhando de rosto iluminado para o tecto, retorquia:

- Ora não querem ver que este diacho já anda mesmo a dançar a sério?!...

E ria... Ria feliz, procurando rebuscar uma forçada seriedade para que eu não tomasse seu revelado assentimento em abuso.

Naquela altura, eu não vislumbrava absolutamente nada. Mas vejo agora, agora, tantos anos depois, quando fecho os olhos e meu pai se me depara nitidamente, saudosamente em memórica imaginação como se deveras regressasse meio-século atrás.

Trinta... Trinta e cinco anos idos, exímio na bailação, garboso, rebuscado na elegància dos passes e dos gestos, algo de muito atirado para o céu, como se fosse um "diestro" e a "mujer" a minha capa.

Agora que, mesmo sem querer, vou dançando na corda bamba e, logo que constato isso mesmo, fico danado com os donos deste atípico bailarico... E também, maceradamente claro, sorrio, rio das minhas antanhas cuecas com quatro botões de madre-pérola para bem fechar e abrir o sítio das precisões...



Torre da Guia = Portus Calle



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