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AMOR SALPICADO DE OUTONO
O chão se salpica de outono enquanto aprecia o frio vento soprar a árvore. Ela lacrimeja, respinga e, se for da natureza, prepara-se para secar.
Ah, sim, no inverno, algumas secam! Voltam-se totalmente para dentro e se fortalecem nas raízes. Renascem na primavera.
E eu, enquanto observo a deusa da terra, GAIA, abrir seus poderosos braços para asilar as folhas, agora órfãs, debruço-me sobre aquele rosto desnudo, pálido e roço minha face na sua. Célere, o calor eleva-se, corando o que não tinha cor.
O parque era meu. Só meu e dele.
Enrosco ali mesmo meu corpo, num amor arrebatador. A paixão se emoldura empoando fagulhas nos fragmentos de terra seca, muito seca.
Nada existe além do desenho das silhuetas no crepúsculo. Respiro entusiasmo e amargura. Minha alma desprende nós de outros enlaces e sai em busca da dele.
Por longos anos não soube dizer qual era uma, qual era a outra.
Implacável, o tempo trespassa as suaves chuvas de folhas douradas, coroa nossas cabeças de fios brancos e desmedidos vazios.
Raras são as folhas que por mero acaso sobrevoam agora nossos corpos. Algumas derramam fiapos de alegria e outras, enfim, lamúrias sobre nossa história.
Enquanto cai uma a uma, fito o horizonte, como se uma tela nos remontasse ao passado. De quando em quando, num átimo, ainda arrebanho um tolo, quase invisível fragmento desse amor de ontem.
Respiro profundamente e mergulho no efêmero lampejo antes que desapareça. Minha vida, não é vida sem ele.
Heleida Nobrega Metello, 2005 |