- E o seu pai como ele está, melhorou?
- Um pouco.
- O que ele tem?
- Oitenta anos!
- Ele parou de fumar?
- Alguém para de fumar aos oitenta anos?
- Mas não pode?
- Claro! Que pode!
- Você é doido?
- Doido! Doido ta é meu pai pra fumar.
- Ele ta fumando?
- Claro!
- Ele ta querendo morrer?
- Não! Vamos mudar de assunto que lá vem ele.
- Você conseguiu o negócio pra mim?
- Consegui. Segura esta sacola pra mim, eu já volto.
- A dona da padaria me entregou pra sua mãe.
- Não, quem perguntou pra ela se o senhor comprou cigarro foi a minha mãe.
- Então ta eu só tirei dois!
- Eu sei o maço vai ficar lá em casa, mas só vou liberar um por dia.
- Só um?
- Se o senhor quiser eu te dou o maço todo, mas depois, se tiver que ir para o balão de oxigênio o problema é do senhor.
- Tá certo!
- Não, eu não sei se estou certo; o senhor é que tem que escolher; viver mais um, dois ou três anos não sei como, ou viver alguns meses fumando?
- Depois, você vai lá em casa tomar um café, comprei um pão novinho.
- Você pirou?
- Por quê?
- Dando cigarro para o seu pai?
- Não, eu estou comprando para ele sabe por quê? Porque ele fuma a sessenta e um anos e não dá para parar de uma vez não!
- Se ele quiser fumar eu não vou fazer nada, quem sou eu para decidir o que uma pessoa com oitenta anos deva fazer ou não.
Autor: Marco Túlio de Souza
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