Numa cidade do norte do Paraná imperava a calma e a tranquilidade. A cidade, com cerca de 10 mil habitantes, era composta em sua maioria por pessoas que tinham como principal atividade laboral a agropecuária. Como na maior parte das pequenas cidades todos ali se conheciam (ou quase todos). "A filha de fulano está grávida." "O dono da padaria foi visto aos beijos no beco com uma menina de 17 anos." Esses eram alguns comentários proferidos amiúde entre os habitantes do pacato vilarejo. Como não podia deixar de ser essa cidade tem uma praça principal onde se concentra toda, ou melhor, praticamente toda a rede comercial da região. Os bares mais badalados, as lanchonete ambulantes e a igreja matriz. A igreja matriz é uma homenagem ao santo dos motoristas: São Cristovão. A Igreja de São Cristovão realiza praticamente todos os casamentos daquele lugar. Além disso são realizados também batizados, crismas e cursos de catequese. Padre Macedo é o pároco da Igreja de São Cristovão. Uns 70 anos de cidade, corcunda, careca e alguns fios brancos na cabeça e com pele rosada. Padre Macedo tinha uma imagem de um sujeito bonachão. Sempre dando conselhos e palpitando sobre a vida alheia. Bastava saber de algum fato ocorrido em alguma família, mesmo que esse fato tivesse ocorrido na privacidade do lar, padre Macedo já ia dar seus pitacos e aconselhar àquela família um melhor caminho. Certo dia começaram a chegar às mãos do prefeito cartas anônimas que davam conta de que o padre Macedo era casado e mantinha sua famíla numa cidade vizinha a pouco mais de 20km de distância dali. Não tardou para que a notícia começasse a correr a cidade toda até que chegou aos ouvidos do padre Macedo. Quando ficou sabendo da notícia este entrou em pânico. Na tentativa de manter sua imagem incólume o padre bolou um plano para tentar salvar sua reputação. Ele combinou todo o plano com uma moça da capital. Tudo aconteceria dali a 15 dias na missa de Páscoa. Os dias foram passando e as fofocas iam tomando conta das conversas de toda a cidade, até que chegou o domingo de Páscoa. A missa transcorria normalmente. A igreja estava lotada, apesar da imagem arranhada de padre Macedo as beatas da cidade custavam a dar crédito àquelas conversas absurdas. Prefiriam acreditar que se tratava de uma injúria criada por alguém sem caráter. Quando se formou a fila para a comunhão padre Macedo avistou no meio da fila a moça com a qual ele havia arquitetado o plano que tencionava reconstruir sua imagem. A fila ia andando, enquanto entregava as hóstias padre Macedo suava frio. Até que chegou a vez da moça. Ela recebeu a hóstia e pediu um beijo no rosto do padre, este ofereceu a face e a moça deu-lhe um beijo nos lábios. O padre a empurrou e ergueu a voz dando-lhe um sermão: "Isso não é coisa que se faça minha filha. Eu sou um home de Deus. Sou desapegado as coisas mundanas." Como o combinado a moça respondeu: "Mas eu o amo padre, sempre o amei. Quero tê-lo para sempre ao meu lado." Nesse instante uma mulher de aproximadamente 45 anos corre em direção ao altar empurrando todos à sua frente. Quando chega na frente de padre Macedo este, livido de pânico, sente uma vertigem e quase desmaia. Como era uma celebração festiva a esposa do padre Macedo, que morava numa cidade vizinha, resolvera ir até a missa discretamente para apreciar a cerimônia, porém como não sabia do plano de padre Macedo chegou no altar e disse aos berros: "Quem essa aí pensa que é? Ele tem mulher, não vai ficar dando bola pra qualquer uma não. E ai dele se fizer isso. Você tá pensando o que minha filha? Você tem a idade da nossa filha." Houve um silêncio ensurdecedor na capela. Alguns se entreolharam e o padre, com os olhos marejados, olhou pela porta aberta a chuva que começava a cair.
