Domingo com gosto de domingo!
Hoje é domingo, e tem gosto de domingo! Gosto brejeiro de fazenda. Sabor de café com leite fresquinho, com pão quentinho à mesa, frutas tiradas do pomar, bolo de banana feito pela vovó e queijo mineiro frescal.
Lá fora, é ouvido o mugido de vacas e o canto das galinhas caipiras que já ciscam o quintal. O galo soberano anuncia com a sua voz à hora cedo da manha ensolarada.
As crianças ainda dormem esparramadas em baixo da colcha de retalhos e Sebastiana, (a empregada) sopra as brasas do fogão a lenha para manter o fogo acesso e deixar a serpentina funcionando para o banho matinal.
Não demora muito e lá do fundo do corredor, vem Ricardinho arrastando uma fralda pela ponta, chupando a chupeta preferida à procura da mãe, pedindo a mamadeira que já está em banho-maria cheinha de leite da cabra, que Afonso (empregado) se preocupou em tirar.
Longe os sinos da pequena igrejinha de Nossa Senhora das Graças tocam para avisar os mais despreocupados que a missa está por começar.
Vilma e Paulo já trocaram as roupas com que dormiram, estão prontos e se apressam por levantar Mariana, Julia e Roberto, que acordam com gosto de preguiça e sono. Ricardo já trocou as fraldas e espera alegre e bem acordado, depois de tomar banho e toda a mamadeira no colo de Bastiana, balbuciando algumas palavras como mamãe e papai.
A criançada também se veste pra missa. Tomam o café e todos apressados saem de charrete para ir para a Igreja. Padre Júlio já está na porta cumprimentando os fiéis, e Tinoco, o sacristão, ajeita os vasos de flores colocados sobre o altar.
A família reunida assiste a celebração, os que podem comungar, comungam, os outros rezam com devoção. Missa acabada, os fiéis se cumprimentam, cada uma das famílias cristãs segue seu caminho de volta para suas casas.
Paulo e Vilma hoje receberão visitas, pois eles convidaram para o almoço a família de Fernando, um velho e querido amigo do tempo de liceu. Eles virão de longe, por isso, o casal com seus filhos voltam para a fazenda onde Sebastiana e Afonso já preparam o almoço, para eles e seus visitantes.
No fogão à lenha o cheiro do feijão bem temperado no alho, deixa o aroma gostoso espalhado pelo ar. No forno um pernil de porco com pele, já começa a pururucar. A couve fina já está cortada, prontinha pra refogar. Na outra panela o arroz branco soltinho, parecendo querer voar.
Enquanto as crianças brincam no quintal, Paulo lê as manchetes do jornal, enquanto Vilma dá mais uma mamadeira para o pequeno Ricardo, que com sua alegria, também alegra a família inteira.
Agora falta fazer a farofa. Isso fica por conta de Vilma. Ovos frescos com as gemas vermelhinhas são colocados na frigideira de cobre, juntadas a manteiga caseira, misturadas à farinha grossa de mandioca, sal e pedacinhos de toucinho com carne, cebola bem picadinha, uns dentes de alho para dar mais sabor e tempero verde para ressaltar a farofa mineira.
Mas em casa de mineiro que se preze não pode faltar uma galinha ao molho pardo. Isso ficou por conta do Afonso que nesse prato é competente. Matou e sangrou as galinhas caipiras, que ficaram cozinhando por horas, depois de marinadas com ervas, vinagre, sal e pimenta. O angu que as acompanha não leva tempero nem sal, é só fubá mimoso e água, que no fogo vai cozinhar até dar o ponto certo, nem muito duro, nem muito mole.
As sobremesas são importantes para serem apreciadas, e Bastiana já havia preparado doces de leite (ambrusia), de goiaba e de abóbora com coco, tudo pra ser servido com o queijo mineiro.
Pra beber, nada de cerveja nem refrigerantes, para os adultos apenas uma cachacinha como aperitivo e suco de frutas frescas para toda a família e seus convidados. E para finalizar, um licorzinho de jabuticaba para ajudar a desgastar.
Mesa farta, tudo pronto, aguardam por Fernando e família, que não tardam em chegar.
Depois dos cumprimentos e as crianças se divertirem, todos se reúnem à mesa fazem uma oração e almoçam com alegria, contando as histórias antigas do tempo de liceu. Depois do almoço, mais uma prosa, e depois da prosa...
Chegam mais alguns conhecidos, os homens se reúnem na mesa do quintal e jogam “truco” com animação, enquanto as mulheres trocam receitas e falam de coisas de família olhando as crianças travessas que brincam de pique e pulam corda.
Anoitece. É hora de café e bolo. Broa de fubá quente com manteiga e alguns pastéis de goiabada. Todos comem com satisfação e após mais uma refeição é hora de cada família se despedir e ir para suas casas, pois amanha é segunda-feira, dia de trabalho, dia de acordar cedo, de tirar leite ainda na madrugada, de cuidar da bicharada, de levar as crianças para a escola e continuar a vida para que ela possa virar história.
Paulo e Vilma não têm computador, vêem muito pouco televisão, somente na hora de ir para a cama, às vezes, antes de namorar.
Mas aos domingos adoram receber e fazer visitas aos amigos da região, compartilhar alegrias e falar da vida caseira, da trabalhosa lida com o rebanho e com a plantação.
Assim é um domingo no interior, que precisa de muito pouco para ser alegre e agradável, mas que com toda a simplicidade nos dá uma grande lição:
Amizade, fé, fartura e a saúde de suas familiares é tudo que eles precisam para serem realmente felizes!
22/01/2007
Paulo M.Bernardo
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