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Contos-->Um dia um gato -- 18/02/2001 - 00:36 (Maria Antonieta Figueiredo Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM DIA UM GATO

Maria Antonieta Figueiredo Mello

Sou um gato mestiço de siamês.
Meu pai era um siamês lindo e minha mãe uma gatinha preta de rua.
Meu nome é Cafú.
Sou tão famoso que tem até um jogador de futebol da Seleção com o meu nome.
Eu e minha filha Sabatini, uma linda siamesa e uma gata amarela bem peluda chamada Gatita, moramos numa casa muito grande e confortável. Também andaram copiando o nome de minha filha. Uma tenista argentina, moça muito bonita.
Temos nosso jardim para tomar sol todas as manhãs e duas salas com sofás e poltronas macios para deitar e afiar nossas unhas. Na parte de cima, várias camas com cobertas macias e quentinhas sem falar no carpete.
Sou dono de uma família de humanos. São sete pessoas. O pai, a mãe e cinco filhos.
Gente complicada, os humanos. Sempre com pressa, não sabem aproveitar a vida.

De manhã, bem cedo, solto o pai. Ele faz seus agrados no meu pêlo macio e sai feito um louco para correr pelas ruas e praças do bairro. Não entendo bem dessas coisas mas acho que é para manter a forma. Humanos têm cada uma !
Vários despertadores tocam na casa. Os meninos, são três, acordam e vão para o banheiro. Que coisa horrível um banho logo de manhã. E ainda por cima com pressa. Banho é coisa para o dia todo. Ficar se lambendo com calma debaixo do sol. Mas como eu já disse antes, esses humanos são mesmo diferentes.

As meninas fazem um barulhão com uma máquina que seca os cabelos. Ficam bonitos, eu sei, e tem uma cor parecida com a Gatita.
Depois, com a pressa de sempre, correm todos para a copa para tomar o café.
Eu tomo conta de tudo. Sento na janela e ordeno que joguem pedaços de queijo prato. Todos me obedecem cegamente. São muito bem ensinados. Brigam por causa de uns pedaços de papel que chamam Jornal. Mais uma dessas esquisitices. Ficam olhando para os papéis e reclamam muito do tempo e do futebol. Falam até palavrões. Não posso contar aqui. De uma hora para a outra, vão todos embora, com muita pressa. Fica um silêncio gostoso.

Mais tarde desce a mãe. Ela gosta de dormir tarde. Fica horas fazendo companhia para mim. Senta numa mesa e fica olhando para um aparelho luminoso e batendo os dedos num teclado cheio de marquinhas. Eu adoro sentar no colo dela e ficar ronronando. Passo também por cima desse teclado e parece que ela não gosta muito. Ouvi dizer que o aparelho se chama computador. Aqui na minha casa todos discutem muito por causa dele. Parece que todos querem ficar batendo os dedos lá na mesma hora. É uma grande confusão. Ao lado do computador tem mais duas máquinas. Os humanos não vivem sem elas. As duas cospem papéis. Uma delas, ouvi contar, se chama impressora. Não sei bem para quê serve. A outra toca uma sirene e faz um bip antes de soltar o papel. Ela sabe falar. Só que eu não entendo nada. Parece uma língua diferente. E o nome podia ser de gato: Fax.

Essa humana mais velha, a mãe da molecada, toma café sozinha. Acho que ela gosta de ficar sossegada. Pega aqueles papéis, o Jornal, e fica muito tempo olhando para eles. Depois disso ela sobe para se trocar. Arruma a cama do casal para eu poder deitar. Mandei comprar uma coberta deliciosa. Toda colorida, pintada por mãos humanas.

O pai vai também para o banho depois daquela corrida de todos os dias. Ele fica na frente do espelho, passa uma espuma engraçada na cara e depois arranca os pêlos junto com a espuma. Fica escutando um aparelho com uma voz muito alta. Me disseram que é o rádio. Acho que ele também não gosta muito de ouvir o que os homens lá de dentro falam. Reclama muito. Não sei como um humano pode caber dentro de um aparelho tão pequeno. Mas que faz barulho faz. O pai leva esse rádio para dentro do chuveiro, um tubo com uma ponta cheia de furinhos de onde vem a água. Todos da minha casa sabem que eu detesto água. Não ousam ligar o chuveiro quando eu entro para beber aquela aguinha gostosa que fica lá embaixo depois que eles tomam banho. Depois do banho, ele vai se vestir. Eu acompanho tudo de perto para ver se meus humanos vão sair bonitos. Não fica bem para um gato como eu, ser dono de uma família feia e mal vestida ! Ele toma café sempre com pressa também com o tal do Jornal e depois vai para a garagem, meu lugar preferido. Liga a máquina gigante. Um barulhão. O portão abre sozinho, não sei como.

Aí começa meu trabalho, depois que mando todos trabalhar e estudar.
Na garagem passo toda a manhã. O piso de tijolo fica quentinho com o sol. Penso na vida, fico filosofando. Minha música predileta, o canto dos passarinhos, toca o dia inteiro na minha casa. Mandei plantar uma jabuticabeira no jardim e quando as frutinhas aparecem eu consigo caçar algum passarinho mais afoito. Sou um gato moderno. Tenho uma dieta equilibrada, como ração de vários sabores e adoro milho verde e melão, coisa que aprendi com esses humanos. Mas caçar um passarinho de vez em quando faz parte das tradições felinas. Inventaram até uma areia sintética, o pipicat, colocado numa caixa grande. Mesmo assim continuo fazendo meus pipis e cocôs na terrinha do jardim. Tanta modernidade é demais.

Minha filha Sabatini é muitíssimo preguiçosa. Nem caçar passarinhos ela gosta. Coisas da adolescência! Passa horas dormindo no jardim do fundo. À tarde, prefere a sala do tal computador e deita em cima de um aparelho quentinho também muito usado por aqui. Ele funciona junto com uma tela grande que fala e tem imagens. Se não me falha a memória é um videocassete e a tela é uma televisão. Quanta tralha essa gente humana precisa para ser feliz ! E olha que na minha casa eu sou muito compreensivo, até liberal. Entendo que o mundo mudou. Mas a vida poderia ser tão simples...

Na hora do almoço fico muito nervoso. A casa é um barulho só. Primeiro chega o menino mais velho. Ele estuda engenharia, não sei explicar direito o que é isso mas sei que deve ser muito difícil porque vem uma turma estudar na minha casa até de madrugada. Esse moleque sabe que gosto de belos agrados e como bom dono sei exigir direitinho minhas coçadas nas costas.
Depois chega o caçula. Eu reconheço cada um pela batida do portão e da porta de entrada. Tem os barulhentos como esses dois e os silenciosos como o terceiro. Entra sem alardes e pisa macio como nós gatos. Recebo meus agrados das meninas também. A mais velha faz um barulhão. Fala alto, às vezes é brava mas é bem tratada por mim. Estuda uma tal de psicologia coisa para entender as loucuras dos humanos. Ainda bem que existe essa escola ! Por aqui parecem meio malucos mesmo... A menor obedece os felinos muito bem. Pega no colo, leva para o quarto.

Conheço todos da casa. Sou um gato sensível. Sei quando estão tristes ou bravos. Os que gostam de música, os que gostam de sossego. Sei quando chegam cansados, com problemas que só os humanos têm. Não me intrometo, peço um agrado, fico por perto para um desabafo.

O almoço é concorrido. Chegam vários estranhos mas não sou um ditador e permito que almocem todos na minha casa. Comem pra valer. Mas a minha ração ninguém ousa comer.

À tarde tudo é sossegado. Todos saem para suas atividades humanas de novo e deixam minha casa em paz. Passeio um pouco pela garagem, pelo fundo do quintal e tiro um cochilo no sofá da sala do computador. Sabatini e Gatita têm seus lugares preferidos também, lá no salão do fundo com uns sofás bem macios.

E no final da tarde começa a bagunça de novo. Todos meus humanos voltam do trabalho ou da escola. A mãe vive dando broncas por causa das mochilas que largam na entrada da minha casa. Acho que ela tem medo que eu perca a paciência e mande todos embora. Não faria isso. Como já contei, sou compreensivo. Sou um gato manso e não perco a paciência por besteiras como essa.

Eu e minhas gatas temos uma veterinária que vem aqui em casa de vez em quando para nos dar vacinas ou se temos alguma gripe. Também indicou um remédio para um dos problemas que mais me incomoda na vida: pulgas. Tenho pavor de pulgas. Será que é uma neurose ? Eu ando cheio de manias. Será que terei que fazer terapia com um psicogatólogo ?

Na hora do jantar mando todos sentarem na mesa grande. Eu fico sentado numa mesinha observando a ordem, controlando tudo. Às vezes saem discussões barulhentas. Coisas de humanos. O pai discute com os filhos, a mãe com o pai. Eu não interfiro, já disse que sou liberal. Recebo meus agrados todas as noites, como meu melão cortadinho de sobremesa.

Depois do jantar, vou para o colo da mãe dos meninos no computador ou para assistir a tal da televisão. Ela gosta de ler na cama até tarde. Já o pai fica escutando aquele rádio com um homem dentro. Tem noites que todos se interessam pelo jogo da bola grande, o futebol. Diria que são todos fanáticos nessa casa. E nesse país. Não é à toa que deram o meu nome para um jogador de futebol. Um lateral direito até que razoável..

Sou um gato diferente. E muito especial. Não sei mais passear em telhados. Chamam isso de superproteção. Não ando pelas ruas. Tudo muito perigoso e violento. Um gato moderno e urbano. Meus antepassados viviam no Egito Antigo, aquela terra das pirâmides enormes. Meus tataragatos eram donos de uns humanos chamados faraós. Esses tataragatos mandaram construir as pirâmides para serem enterrados nelas e deixavam que os tais faraós ficassem lá também. Foi com eles que aprendi a ser tão liberal e gostar de humanos em casa.

Sou um bom chefe de família e gosto de ficar isolado na minha casa tranqüila. Se pudesse prendia todos comigo, me agradando o dia inteiro. Entendo que trabalham para mim, não posso ser egoísta. Mas não gosto quando chegam muito tarde em casa. Os meninos abusam. Chegam de madrugada quando os pais já estão dormindo. Com tantos gatos de rua soltos por aí, sem nenhuma educação. Acho perigoso mas não sou de interferir. Assim é minha vida felina...


MIAU
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