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Cronicas-->LEOPOLDINA NA CONTRAMÃO -- 25/09/2004 - 20:49 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

LEOPOLDINA NA CONTRAMÃO
Crónica urbana


Juan De la Ville
25 de setembro de 2004


As duas haviam namorado o mesmo rapaz. Alexandre. Leopoldina o deixou três anos atrás porque, dizia, era muito mulherengo. Deixou-o por ciúmes, de tanto que gostava dele. Luísa o deixou pelo mesmo motivo porque, segundo ela, era tremendamente mulherengo. O tempo passou. Leopoldina arranjou um namorado novo, casou e agora já tem um neném. Terminou seu curso superior e trabalha como psicóloga numa empresa multinacional.
Luísa só agora está terminando a Faculdade mas já leciona num cursinho de inglês Wisdom em escolinha de condomínio nos arredores de Brasília.
As duas foram sempre amigas.
Estavam tranquilas, ali, na varanda da casa de Leopoldina , tomando um chá indiano ao ar livre, junto ao lindo jardim de variadas plantas decorado com as figuras dos sete anões em ceràmica.
Falavam de seus tempos de adolescentes jovens de 18, 19 e vinte anos. Lembravam estórias dos tempos de colegiais e dos tempos da Faculdade, incluindo namoros e aventuras. Falaram de Alexandre. E a figurinha do moço, ao que narravam, era a de um bom machão, irredutível em suas aventuras e conquistas, e despertava, ainda hoje, nas duas, doces emoções e muitas saudades.
Leopoldina curtia Alexandre, demais. A figura do moço passava por ela de tempos a tempos como um vendaval. Era mulherengo? Era. Mas... agora ela compreende. Os outros não são melhores, em sua opinião. Talvez nem o atual marido seja melhor, porque quase todos, mesmo que moderadamente, têm seus pecadilhos nessa matéria...
Na avaliação das duas parece que para Alexandre havia uma certa indulgência. Era um cara muito educado, diziam elas, muito terno e muito disputado. Ao dizerem isto, se emocionavam.
-Era um cara feito para amar, disse Leopoldina.
-Perfeito no amor, acrescentou Luísa.
-Depois, se pensarmos bem, é esta sociedade que faz estes monstrinhos do amor... Risos...
-Repara, disse Leopoldina. Com esse negócio do "ficar" desta nossa sociedade jovem, o que estamos é treinando os homens para terem várias mulheres e treinando as mulheres para terem vários homens... Estamos treinando a volubilidade no amor...o amor livre...Por que nos rebelamos depois???...Criamos o monstrinho e depois o expulsamos???Não tem lógica, minha amiga. Leopoldina dizia isto de uma maneira viva, como alguém que estava sentindo na carne tudo aquilo que dizia... Se emocionava como se fosse dominada pela saudade e pela paixão...
-Tens toda a razão -disse Luísa.
-É..., disse Leopoldina. Esse negócio do "ficar" é bom para os quinze, dezesseis ou dezessete anos... A gente passa por lá e acha bom... Mas, a partir daí começam nossos problemas... É claro que as experiências e os hábitos vão ficar conosco para tudo o que vier... No meio de tudo, um dado fica como indiscutível: estamos, sim, treinando nossos futuros maridinhos a experiências extra-conjugais...É lógico também que o "ficar" está treinando muitas mocinhas na liberação sexual que poderá funcionar mais tarde, se casarem, como treinamento para buscarem seus futuros amantes...
-Isso, disse Luísa. Treinando...E queremos depois ficar disciplinadinhas, mulheres submissas de um só homem...
-Treinando a oposição, atirou Leopoldina...
Riram muito...
-Isso mesmo, disse Luísa...Estamos treinando a oposição... Ou seja, treinando machos pluralistas... num esquema social onde nós devemos regressar à monoandria, ou seja, ao sistema de um só homem para uma mulher... Contradições na estrutura...
- Mas não é que esse tal "ficar", lembrou Leopoldina, está treinando um sem-número de feras...e isso, na maior indiferença dos que o praticam???
-Verdade, ajustou Luísa. As pessoas se lançam ao jogo pelo jogo... Mas com isso estão eliminando do futuro de suas relações...a realidade que sobra...quando as pessoas acalmam com a idade...
-Num certo período da vida, eles são essencialmente mulherengos como se fossem machos puros e nós, mulheres, mostramos que somos essencialmente homengas, fêmeas a caminho do macho...Depois, a experiência vem. Apertamos o cinto, e voltamos a ser mulheres sérias...
-Tentando trazer eles de volta à seriedade também... disse Luísa, rindo.
E acrescentou:
-Precisamos de ser ascetas de nossos impulsos...criar novos hábitos...E levar nossos homens a curtir conosco esses novos hábitos...
- Bom para quem tem excesso de energia e precisa de entrar na linha...
Riram. Mas achavam que a moral da maturidade ronda por aí. Leopoldina, rematando disse:
-É, minha amiga. Como é bom lembrar tempos romànticos, tempos de amor, tempos de liberdade. Para te dizer a verdade, "ficar", de uma maneira geral, é bonito e agradável demais...
Mas... trasborda... e deixa marcas... para terapeuta cuidar...

Juan de la Ville
25 de setembro de 2004
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