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Contos-->A manchete que não saiu -- 11/02/2007 - 11:07 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A manchete que não saiu


Em 1962, quando estava com dezessete anos, trabalhei como garçom num restaurante de Barra do Piraí, RJ, aonde o meu tio Pedro era o gerente todo poderoso. Aquele foi o ano da Copa do Mundo, no Chile, e o Brasil se sagraria bi-campeão mundial. Um dos times que mais tinham fornecido jogadores para a seleção brasileira fora o Botafogo do Rio de Janeiro. Àquele tempo jogavam no time da Estrela Solitária craques como o goleiro Manga, Zagalo, Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo, Garrincha, Didi e outros de quem não me lembro mais. O time do Botafogo já era em si uma perfeita seleção. Dois meses após a copa, o Brasil feliz e já bi-campeão do mundo, o time milionário veio fazer um jogo amistoso em Barra do Piraí contra um combinado local formado pelos dois melhores times da cidade: o Central e o Royal. Na noite anterior, os famosos jogadores chegaram para jantar no “meu” restaurante.
Na hora em que as “feras” entraram, lembrei-me de que havia uma reforma em andamento no porão do restaurante e a presença de tantas estrelas famosas no local me deixou preocupado. Um desastre de grandes proporções poderia ocorrer. Falei para o tio que o piso talvez não suportasse o peso de tanta gente, mas ele, um flamenguista convicto, ignorou-me solenemente e ainda me chamou de pé-frio: “Cale a boca, seu seca-pimenteira!...”
Calei-me, mas fiquei esperto, observando. As mesas foram dispostas em fileiras no centro do salão, depois cobertas com toalhas novas, cheirosas, formando um gigantesco “U”. Era um banquete digno dos cavaleiros do Rei Arthur. Havia um forte esquema de segurança na porta para conter a multidão de curiosos. Eu estava vaidoso, usava minha gravata borboleta e navegava no meio dos atletas famosos. Sentia-me importante por estar servindo delícias àqueles homens diferenciados, conhecidos no mundo todo.
Na parte de cima onde estávamos, no luxo do salão, homens ricos e famosos enchiam o bucho, enquanto lá em baixo homens esforçados se moviam em meio a ferragens, areia e cimento, dando andamento à reforma que se fazia urgente. Felizmente, contrariando os meus temores premonitórios, o jantar foi um sucesso e tudo transcorreu tranqüilo. Já passava da meia-noite quando os atletas saíram. O salão já tinha sido esvaziado para a continuidade da reforma, as mesas estavam empilhadas num canto.
Vi quando um servente entrou pilotando o seu carrinho-de-mão pesadíssimo, lotado de areia e cimento. De repente, o chão se abriu e o homem desapareceu. O amplo e aparentemente sólido piso do restaurante cedeu, mergulhando tudo no vão de baixo. Em meio a uma nuvem de pó, o pobre operário fora engolido pelo buraco que se abrira. Caiu quatro metros abaixo, sobre pontas passivas de vergalhões enferrujados e contundentes. Minutos depois, já sem vida, o homem seria retirado dos escombros e levado para desaparecer no anonimato da sua família. Se fosse um daqueles jogadores famosos, aposto que a notícia teria saído nos jornais. E eu também.

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