CONTRA-ESPIONAGEM
Lílian Maial
E como não querer-te,
Se tens a exata noção do quanto me exibo a ti,
Somente para teus olhos?
Como não sentir-te,
Se estás materializado em meu peito,
Em meu coração, em meu suor?
Como não saber-te,
Se te afogas em meu amor,
Se te vestes da minha nudez,
Se te banhas em minhas chamas?
És cônscio de minhas fantasias,
Parceiro de minhas aventuras,
Cúmplice de meus delitos,
Juiz de minhas peripécias,
Algoz de minhas torturas.
Teu meigo e inflamado olhar me despe,
Me arrebata, me arrepia,
Teu furtivo espiar me excita,
Me faz sentir mais bonita,
Me rouba a privacidade,
A castidade, a idade.
Sei da tua presença onipresente,
Sinto teus aromas, teus ruídos,
Ouço teus ais, teus sussurros,
Pressinto teus beijos, teus toques,
Tuas mãos explorando meus caminhos,
Tua boca me cobrindo de carinhos.
O desejo toma conta do meu corpo,
As ondas, os espasmos, me engasgam,
Me fazem soluçar.
É quando descanso e percebo
Que agora é minha vez de te espionar.
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