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Contos-->Cela de aula - parte III (final) -- 19/02/2007 - 14:43 (Valter Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Agora, na solidão de sua cela, Severino não aprovava aquilo que fizera, porém, tampouco se arrependia. A dor em seu peito era tamanha que às vezes sentia vontade de gritar. Corriam-lhe por entre os vincos de sua face lágrimas de saudade de tempos atrás. Aos cinqüenta anos de idade Severino via-se obrigado a seguir regras de convivência para que a sua estada naquele lugar fosse suportável. Horário para comer, para dormir e para o trabalho adestraram-no aos poucos. Homem de poucas palavras e poucos amigos. Já no segundo mês de “estadia” Severino descobriu uma escola no terceiro pavilhão. Começou a freqüentá-la e lá conheceu pessoas que estavam em iguais condições às suas ou, às vezes, até pior. Nunca fora alfabetizado. Desde a infância fora obrigado a cumprir longas jornadas de trabalho na roça em sua cidade natal. As condições de sua família eram precárias. Nenhum de seus nove irmãos teve a oportunidade de freqüentar uma sala de aula. Severino já tinha se conformado com o fato de nunca ter tido a condição de aprender as letras. Trabalhou no corte de cana desde os oito anos de idade. Tinha as mãos e os pés cobertos de cicatrizes provocadas pelo facão. Um de seus irmãos, José Ribamar, morreu num dia de trabalho no corte de cana. Rodava o facão no ar removendo caniçais quando tombou já sem vida. O dono da fazenda negou ajuda aos familiares e, por conseguinte, demitiu todos de sua fazenda. Severino não tirava de sua mente suas lembranças de tempos vividos no Nordeste. Fazia conjecturas: “E se eu não tivesse vindo pra São Paulo?” “E se eu tivesse ficado em casa...Nada daquilo teria acontecido.” Cada vez que pensava nisso sua dor doía mais forte. Os primeiros tempos de Severino freqüentando a escola na prisão foram muito difíceis, já que aquela era a primeira vez que ele tinha contato com as letras. A história de Severino comoveu a todos naquele lugar. Era respeitado por todos. Como o apoio dos professores Severino insistiu em levantar adiante sua ambição de aprender a leitura. Após um ano freqüentando a escola, quando sua história já havia emocionado todos por ali, Severino, numa manhã de segunda-feira, chegou à frente de seu professor com um pedaço de papel nas mãos e leu em voz alta suas primeiras palavras: “Obrigado por me ensinar”. Com lágrimas nos olhos eles se abraçaram. Por um instante percebeu-se a mudança nas feições daquele lugar.
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