Porto da Nossa Nascença, 15.8.01
Mano, Feliz Aniversário!
Nossa sorte é termos um médico na família. Nosso azar é sermos bem conservados e querermos atingir um décimo da existência de Matusalém.
Varo dias e noites no afã de encontrar a fórmula singela de comemorar aniversários sem ter de ficar velho, sem cruzar o prazo de validade para se fixar na vegetatividade.
Celebrar anos de passagem por essa vida sem perder a estatura, sem demenciar a memória, sem perder os cabelos de menino, sem esfarinhar os ossos, sem ficar narigudo ( Diabo! Só o que não presta aumenta!). Ficar velho como um bom vinho de guarda. Ficar velho sem carregar a fadiga de quem já não sabe mais ficar cansado. Ficar velho com um discreto brunimento de juventude. Ficar velho broxando o 7, sem broxar de 4. Ou – para ser mais indulgente – até broxando de 4 para apurar um saldo 3.
Quem sabe, um dia, alguém aspergirá esse bíblico elixir. Nesse dia, o bolo de aniversário será a lua e os cometas espocarão como velas.
Do mano Doutor, trabalhando, por enquanto, para levar vida até o último dia de validade.
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