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Contos-->EU E O VENTO -- 24/02/2007 - 12:05 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EU E O VENTO




imagem:http://www.planetaamorepaz.hpg.ig.com.br




Quando me debrucei, com certa melancolia, sobre o parapeito da janela para observar os transtornos deixados pelo arrastão da natureza, as lãs caídas aos pés do tear e emaranhadas em cores indefinidas, ainda tremulavam.

Foi neste instante, ao ameaçar fechar os vidros que, repentinamente, me perguntou o vento:

- Onde tu estavas?

- No porão, escondendo o medo e aguardando o resquício da tua violência de final de verão, respondi visivelmente assustada pela visita inesperada.

- Mas, carecia de tua presença, tu sabes. Era teu corpo que eu queria arrastar. Queria sentir tua paixão, ver os olhos do teu amor ou da tua dor, disse com voz rouca e cruel.

- Não poderias. Meu agito e temor fazem-se descomedidos, conforme o rumo de onde vens carregando tua fúria. Minha alma, quando vê toda a natureza em vôo cego, se injuria com tua ira insana. Não, ela não seria capaz de aceitar qualquer contato contigo. Aprecia a brisa do outono, tua irmã. Ah, ela sim, sopra suave e permite um adejo sem arranhões. As árvores não precisam agarrar-se às raízes, ferindo, tirando lascas e galhos de seu tronco. As folhas murmuram sonetos no doce balanço da despedida. A terra, como sempre, acolhe cada uma delas no abraço da calmaria. Os últimos frutos amadurecem e flores despedem-se espargindo, sutilmente, suas últimas gotas de perfume. As nuvens armam e desarmam infindáveis afetos no azul celeste. As águas... Ah, as águas, os espelhos da natureza, a não ser que se enregelem, jamais se privam de dar vida às imagens que nela se refletem.

Fez-se um silêncio duvidoso antes que o vento esbravejasse e começasse a construir caminhos com o sangue que borbulhava em suas veias, tais quais os escavados por lavas de um vulcão.

- É meu coração que fala ao teu, enfezado e amargo vento, continuava eu, em meio ao seu furor. Aquietes o espírito! Desejo tão-somente que sentes ao meu lado, para que possas compartilhar comigo o deleite do que vejo, escuto e sinto. Quiçá sejas capaz de constatar que não são ‘palavras ao vento’, estas que acabo de dizer.

De forma abrupta, sentou-se o vento sem delicadeza, fazendo tombar, involuntariamente, meu corpo.

Apesar do constrangimento, numa incalculável alegria, pude divisar em seu rosto sombrio, um ligeiro traço de olhar sonhador enquanto a brisa, paulatinamente, tomava posse do espaço e do tempo.


Heleida, 24 de fevereiro de 2007
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