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Contos-->Eutanásia -- 03/03/2007 - 10:24 (Tere Penhabe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eutanásia
Tere Penhabe

A minha vida, de repente, encontrava-se no olho de um furacão.
Toda a paz, serenidade e coerência que emanavam dela, deixaram de existir sem aviso prévio.
Eu não consigo me lembrar de outro momento mais crucial do que aquele, para o meu pensamento, para o meu coração, para todo o meu ser.
Minha mãe, que sempre fora a minha melhor amiga, minha grande companheira para tudo nessa vida, estava mal, muito pior do que eu cheguei a imaginar na época.
Mal acabara de sair do coma, os médicos me chamaram para providenciar a transferência para o hospital de Base de Bauru, onde ela teria uma chance de sobrevivência, uma pequena chance.
Eu não conseguia vislumbrar a sua morte, era simplesmente inaceitável para mim. Ela era uma mulher forte, uma verdadeira guerreira e durante todo o tempo, nós, os seus filhos, encontráramos nela o muro de arrimo que havíamos precisado, a muralha que nos amparou e nos empurrou para a frente, o repouso, quando este se tornou necessário.
E de repente aquilo... um enfarto! Socorrida por mim, em menos de 10 minutos adentramos o hospital, onde ela recebeu a medicação necessária, parecia tudo certinho, Deus fora complacente conosco, eu estava de saída para o trabalho, quando ela passou mal, não era por acaso que eu ainda estava lá, era um desígnio, ela não podia morrer, não ainda...
Mas o coma se instalara e durara mais de doze horas, tempo suficiente para eu me dar conta do quanto eu precisava dela, do quanto ela era importante para mim, para a minha vida.
Por isso, quando eu entrei naquela UTI alguns dias depois e me deparei com ela naquele estado tão lastimável, meu coração se contraiu dentro do peito.
As coisas não estavam correndo como eu esperava... seu rosto era uma máscara de sofrimento atroz, haviam efetuado incisões nas artérias, na altura do pescoço e aqueles tubos todos pareciam trucidá-la. Deus Meu, como foi triste ver aquilo!
O mais triste porém, ainda estava por vir... quando ela balbuciou lentamente que precisava me falar de um assunto sério. Eu imaginei tudo, menos o que ouvi a seguir...
Ela não queria ser operada, e só eu poderia impedir. Segundo ela, o médico dissera que a menos que o responsável assinasse uma carta negando a possibilidade de cirurgia, eles a operariam, e era isso que ela queria me pedir: para negar veementemente a autorização para a cirurgia.
Eu fiquei sem chão... isto era equivalente à eutanásia, seria como matá-la antes da hora, e ela queria isso.
Até hoje eu não soube discernir o que doeu mais: se a possibilidade de matá-la ou vê-la desejar morrer... a minha melhor amiga, a pessoa que eu amava tanto, que tornava a minha vida com tanto sentido, de repente... preferia morrer a viver...
Onde eu errei? Foi o que eu mais pensei naqueles dias todos... a dor era imensa, a dúvida maior ainda... e eu orei a Deus pedindo-lhe ardorosamente que fizesse ela mudar de idéia.
Mas ela não mudou, e ainda mandou-me um recado pela minha tia, quando ela esteve lá no domingo. Eu havia deixado a vaga da visita para ela, porque ela desejava muito, e me ligou animada depois que saiu da UTI dizendo que minha mãe estava melhor, que havia conversado bastante mas havia dito algo que ela não entendeu. Era um recado para mim, dizendo para eu não esquecer do que havia lhe prometido.
Meus olhos não se fechavam mais, eu não conseguia dormir, como se o sono pudesse me roubar a possibilidade de pensar e encontrar uma solução...
Mas Deus resolveu o impasse para mim. No dia seguinte, nas primeiras horas do dia, alguém me ligou para avisar do seu falecimento... eu sinto remorsos quando penso no alívio que senti, não por desejar a sua morte, obviamente, mas por me ver livre do encargo ao qual ela me submetera em seu desespero.
Por isso, a eutanásia, que sempre foi um assunto a bailar no meu pensamento com certa simpatia, passou a ser a pior idéia que alguém pode ter. Não pelo ato em si, que se configura pela sensação de poupar alguém de mais sofrimento e dor. Mas pelo que esse pedido pode causar na mente de quem o recebe... é horrível a sensação de rejeição que toma conta de nós, quando alguém que amamos diz que não quer lutar para viver, é impossível descrever com precisão esta sensação, mas de uma coisa eu tenho certeza: eu jamais a proporcionaria a alguém, por mais sofrimento que estivesse tendo.
Dirão todos, e até eu mesma: "mas a eutanásia é para ser aplicada a quem não tem mais chance de cura..." sim, parece simples, mas quem, além de Deus, sabe disso sem margem de erro?
Para mim, eutanásia não é crime, é um instrumento de tortura da maior atrocidade possível, utilizado inconscientemente, pelo doente, contra pessoas que ele ama ou aquelas que o amam muito. Não vale a pena...

setembro/2005_Santos_SP

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