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Artigos-->ensaio -- 30/10/2002 - 10:13 (lione vieira queiroga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




ENSAIO - FICÇÃO



MANIFESTO DA AVTV - Associação Virtual de Emissoras de TV



Considerando a flagrante redução da audiência na TV em face:



* da aberta concorrência da atenção dos telespectadores pela Internet, video-games, CD, DVD, VHS, play-stations etc.;



* da realização, pelo potencial telespectador, de outras atividades "ao vivo" no chamado "Horário Nobre", ou seja aquele tempo, fora das dezesseis horas em que ele não está dormindo ou trabalhando;



* da sutil, porém constante, concorrência da atenção dos telespectadores pelas emissoras comunitárias de FM, trios elétricos, serviço de alto-falantes e até de AM;



A AVTV, no uso de suas atribuições, e com amparo na legislação internacional aplicável, resolve recomendar a seus afiliados os seguintes procedimentos:



1. Insistir na surrada técnica CD - Constant Disturbing (Alerta Contínuo), que consiste em relembrar o telespectador, no mínimo a cada cinco minutos qual o programa que ele está insistindo em assistir. Tipo assim: "Você está assistindo a FUOÁX!." E tome anúncio! Com isso, telespectadores cegos podem discernir programa de propaganda. Com tanto bombardeio de informações os telespecadores normais correm o grave risco de esquecer o canal e o que estão vendo, apesar do símbolo da TV permanecer chapado num canto da tela.



2. Intensificar o uso da técnica subliminar denominada SCOCI - Sudden Cut of Color Image (Mudança Brusca de Cena), à razão de um corte a cada dois segundos, e, em casos críticos, um por segundo, desde que não leve o telespectador a perceber. Em testes laboratoriais, (Tvsgo Labs Inc. UK), esse recurso obteve tanto sucesso, que levou a UIVO - União Internacional de Vídeo a recomendar pelo menos 10 minutos de trailler, antes do filme principal, em cada vídeo NTSC (Never Twice Same Color) para empréstimo nas locadoras.



3. Intensificar a técnica FCM - Fool Camera Moving - a movimentação sutil da câmera (no popular: câmera boba mesmo!). Em caso de imagens "paradas", por exemplo, enquanto há dois ou mais artistas dialogando, a câmera deverá ser manual, sem tripé. Como fica tudo mexendo, plano principal e plano de fundo, aprofunda-se a falsa sensação de três dimensões na tela, que é de duas, e assim estimula a atenção visual do telespectador. O uso do remote control - RC (controle remoto) reduz-se em 6%



4. Intensificar o emprego da técnica TZ - Turtle-Zooming, ou seja, o locutor vai sendo aproximado o mais vagarosamente possível da tartaruga, digo, telespectador, até ficar olhos nos olhos. Uso geral, ótimo resultado nos telejornais, tanto que as maiores redes de TV já estão padronizando revolucionárias técnicas denominadas MOUTHEYE, nas quais, a boca ou o olho, ocupem toda a tela exubernatemente colorida!



5. Intensificar o "close-up", ou seja, em diálogos ásperos, ou não, o rosto dos artistas deve ocupar a tela inteira, dando foco naquele que estiver falando. Mudou a fala, ou não, muda-se o foco. Quanto mais próximo, mais eficiente a atração. Em alguns casos, é importante manter o close de tela inteira na parte do rosto que estiver atuando, seja uma boca gritando, um nariz arfando, um olho lacrimejante (usar cebola), uma mão mexendo, uma orelha de abano em ação... etc. Isso tem garantido distância do controle remoto;



6. Intensificar nos diálogos, familiares ou não, entre dois ou mais artistas, além do close, o recurso do semi-cochicho, ou seja, o som semi-inaudível. Isso aguça a atenção dos telespectadores, pra saber qual é a fofoca.



7. Intensificar, nos diálogos em novelas ou não, o emprego de termos estrangeiros, principalmente italianos (por exemplo, Cáspita, Capice, Éééca! etc.) e franceses, além dos já consagrados sotaques "mongo", "mercosur", "alemón", "francês", "italiano", "japonês", "sertanejo", "nordestino", "gaucho" , "mineiro" e por aí adentro. Audiência garantida. Pelo menos para a respectiva fatia de telespectadores.



8. Intensificar o emprego da sensualidade implícita, principalmente evidenciando a anatomia feminil em cenas cuidadosamente montadas, para que o videota (eu no 1/2), digo o telespectador, possa entender mentalmente e com detalhes, o que teria ocorrido na cena sugerida. Isso tem garantido muitos pontos de audiência (infelizmente alguns "pontos cirúrgicos" em artistas, mas isso é outra coisa). Aos domingos, permite-se além da sensualidade explícita, evidenciar também a anatomia masculina e o emprego de certos recursos domésticos tais como banheiras, sabonetes, etc.



9. Intensificar, em programas, seriados e novelas, o uso de situações e frases ôcas, do tipo: "É isso mesmo que você queria dizer?" "Está falando comigo?" "Olá! Você por aqui, de novo, hein?" Isso fez tanto sucesso que já foi patenteado e hoje faz parte de um horrorizante programa chamado "Tolerância Zero", recentemente exportado para a Velha Zelândya.



10. Intensificar o envolvimento com o telespectador. Por exemplo, nas novelas, fazê-lo mesmo participar subliminarmente, mediante o uso de elaborados diálogos onde o artista fique "falando sozinho" (cá entre nós, com o telespectador); paralelamente deve ser dada ênfase aos gestos, respiração e tiques (nervosos ou não) de cada ator. Uma piscada de olho (para o telespectador) ainda tem o seu valor.



11. Intensificar o emprego efetivo da tonalidade de voz do locutor/ator, conforme o teor da notícia ou da cena, combinado com a seriedade ou não do seu rosto. Isso garante fidelidade do telespectador, que consegue vislumbrar traços de sentimento na voz dos bonecos e bonecas falantes.



12. Intensificar o emprego de temas, filmes, seriados, programas de auditório, onde o conteúdo da mensagem transmitida seja próximo de zero. Pesquisadores (Myo Pya Research ILTD.) anunciaram que o uso do controle remoto aumenta, se o conteúdo da mensagem cresce. Estimula-se a produção de programas com crianças, pela facilidade de manipulá-las, à semelhança de antigos telespectadores;



13. Intensificar o emprego da técnica OV - Obvious Verb (verborragia óbvia) em eventos esportivos (futebol, tênis, fórmula-1, 2, 3 etc.) ou sociais e políticos. Esse negócio de imagem valer por mil palavras é coisa de chinês! Tem que falar, e muito mesmo, principalmente frases destituídas de conteúdo (no popular, abobrinhas). Isso "galvaniza" a mente do telespectador e ele passa a não ter tempo de lembrar do controle remoto! O som representa 69,69% do poder de convencimento da TV. Qual a eficiência de vendedor calado?



14. Intensificar o conteúdo programático com eventos de culinária, cinofilia (cães), gatofilia (gatos), equitação (pangarés), tratamentos de feiura (beleza não precisa de tratamento!) e publicidade eventual (inserida em eventos). Incluir propaganda disfarçada no "conteúdo" dos programas. É proibido propaganda de cigarros antes das 22h, mas dentro dos programas, das novelas, dos seriados parece que pode. Ainda não faz sentido colocar o lembrete azul do "Mistério (sic) da Saúde" que fumar causa câncer, no meio de um filme cheio de Oscar.



15. Insistir, nos noticiários, em veicular predominantemente ocorrências que causem o máximo impacto psicológico nos telespectadores. (É batata: eles sempre vão querer saber mais, comprando jornais, revistas, que por sinal, pertencem à mesma rede de TV, ou ficar grudado em seus sites na internet). E terminar as notícias, sempre que possivel, com a presença de um telespectador dando um depoimento gravado, previamente corrigido pela produção; Isso garante um "grau" de familiaridade do telespectador com a TV, tipo assim: Manhêee, olha eu lá!!!



16. Insistir em anunciar, a cada bloco de comercial - no início e no final - as próximas programações do canal. Re-re-pe-pe-tição é o que conta! Essa é época também de lavagem cerebral. Tem muito cérebro sujo! Além disso, se a própria TV não faz propaganda de si mesmo, quem o fará? Outdoor?



17. Insistir em dar ênfase à técnica IN - Incidental Noise (barulheira incidental). Isto é, aqueles ruídos do tipo, salto alto em táboa corrida, trotar de cavalos, grilos, trotar de burros na brita, pássaros, papéis rasgando, chícaras e colheres tilintando, motores, pneus cantando, explosões, TNT, batidas de veículos, sem esquecer aquelas campainhas baratas de residências (cigarras), para que o telespectador acorde, digo, sinta-se estimulado a prestar atenção "na próxima atração". (Há "tração" mesmo, que arrasta a mente do telespectador. E isso deve ser cultivado nas redes.



18. Insistir na técnica de não falar ou mostrar a hora certa, principalmente em eventos esportivos, filmes, seriados, anúncios (mesmo que sejam de relógios), novelas. Nessas, evitar indicar o número dos capítulos atual e os restantes. Relógio é veneno para a TV (do lado de fora do balcão, é claro; dentro, cada minuto de Horário Nobre vale uma fortuna!). Exceção: quando se deseja simular que o programa é ao vivo.



19. Insistir, no emprego de frases de efeito, nas auto-propagandas do própria canal, a cada intervalo comercial. Assim do tipo: "TV - sua janela para o mundo.", "Sua liberdade está aqui.", "TV o mundo aos seus pés, no sofá.", "TV - você ainda vai ter várias.", "TV - Momento Muito Mais.", "Ela e você: tudo haver.", "Ré, de TV.", "TV: nossa força está em suas mãos, não desligue.", "TV: em sua mente está todo nosso poder, latente." "Agente CV por aqui", etc.



20. Insistir em aumentar sutilmente o volume do som nos intervalos comerciais, lembrando de retorná-lo ao nível normal, nos programas.



21. Dar prioridade na veiculação de propaganda de cervejas e bebidas alcoólicas, inclusive com redução do custo por minuto, tendo em vista que um telespectador "mais alegre" após algumas latinhas tende a deixar o controle remoto mais sossegado.



22. Intensificar a presença de free-lancers em programas de auditório, pois transmite a infalível sensação no telespectador: "Oh! Quanta gente boa vendo - ao vivo - esse animado programa. Deve ser bom. Vou ver também!"). Quanto mais exótico o pessoal do auditório, (anões, grandalhões, gordos, magros, contribuintes, profissionais liberais, outros nem tanto, paraplégicos, cegos, você, eu, elle, etc.) mais audiência, e portanto, mais $UCE$$O!



23. Ter o máximo cuidado na elaboração da programação para que o telespectador jamais tenha noção de onde termina a ilusão e onde começa a realidade, mesmo em telejornais. Porém focalizar, à máxima extensão possível, a realidade das fontes de renda, digo, anúncios. Se não der certo, o jeito é partir para desenhos animados que atraem pais e filhos, nesta ordem.



24. Dar preferência a figurantes, locutores que sejam filmados com chapéus. Quanto mais extravagante o chapéu, melhor o efeito. O telespectador pode esquecer as pessoas, mas lembrará dos chapéus. (Técnica de circo, de custo inferior aos caríssimos "defeitos especiais").



25. Mencionar sempre, nas interrupções oficiais, para propaganda política "gratuita" o chavão; "Interrompemos nossa programação "normal" para o pronunciamento do Sr. Previdente". Isso faz com que o telespectador use o controle remoto imediatamente. Encontrando a mesma imagem e o mesmo som em todos os canais, acaba "normalmente" indo para os canais duplamente pagos (mensalidade somada a anúncios).



26. Insistir em usar "Programas AH!AH!AH!", Auto-Hilariantes. Aqueles em que os atores fazem uma cena de humor e a produção coloca o disco de risadas. O telespectador, ao ouvir isso, capta o pensamento: "Muita gente boa rindo, devo rir também: AH!AH!AH!". Evita o complexo de culpa ao televisófilo: A TV pode ficar sozinha no canto da sala, fazendo gracinhas e rindo de si mesma...



TV: cinescÓPIO DO POVO!



FONTE: TESE DE PÓS DOUTORADO: "ESTUDOS COMPARATIVOS SOBRE A INFLUÊNCIA DA TV NO COMPORTAMENTO IMPOPULAR" por B. Gomes, PhD. (B, de Beerlocked, primo rico de Berloque Gomes)



ATENÇÃO: ISTO É UM ENSAIO-FICÇÃO-LITERÁRIO. QUALQUER VICE-VERSA É MERA SEMELHANÇA OU COINCIDÊNCIA.

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