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Contos-->O Retorno -- 06/03/2007 - 18:14 (Jair Fonseca Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O RETORNO
CAPÍTULO I


Todas as tardes quando o sol se despedia, Julia uma jovem de 21 anos, filha de dona Sofia, escrivã do cartório da cidade, dirigia-se a calçada da igrejinha da praça propositamente. Já faziam dez anos que seus pais se separararam e Julia lembra das úlmas palavras dele, o senhor Rosal, quando dela de despediu – “Um dia filha, o pôr do sol me trará de volta”. Essa frase Julia guardava com grande esperança de um dia vê-la concretizada.

Dali por diante os fins de tarde tornaram-se um ritual de espera. Sentada na calçada da igrejinha, seus grandes olhos castanhos eram atenados em todas as direções a procura da imagem objeto da sua esperança. Sempre bem vestida, costumava usar uma saia godê que a fazia faceira, uma mulher sensível e româtica. Naquela tarde, usava uma blusa de tecido organza, que deixava transparecer no decote seu lindo colo adornado por um trancelim de extrema delicadeza com um pigente de pérola, presente de sua madrinha nos seus quinze anos tão marcado pela separação de seus pais. Ela trazia sempre consigo um livro de romance. A leitura lhe distraia enquanto o tempo passava com as pessoas que passavam. O brilho do arrebol a afascinava, enquanto ela caminhava para o lugar costumeiro; a calçada da igrejinha. E pensou: - a tarde esta diferente, sinto cá na alma um olhar que me observa. Pensando assim presenciou a noite chegar. Mais um dia se passou.

A olhar o infinito, viu que os primeiros pontos de luz reluzentes brilhavam no céu piscando com ela um namoro. Julia então resolveu caminhar um pouco pela praça. Adiante tropeçou, resmungou e prosseguiu, quando encontrou-se com Marina sua amiga, que sorridente lhe pergunta o por quê da sua caminhada solitária. Julia finge não ouvir. Marina a faz companhia sem ser convidada e seguem juntas o passeio contornando a praça. Mais adiante, encontram dois rapazes que por ali transitam e as cortejam assoviando uma música sertaneja. Elas se divertem muito com esse flerte. Passada toda a euforia, Marina se despede e Julia percebe o quanto se ausentou da calçada da igrejinha, embora já fosse noite. Precisa voltar pra casa, o amanhã lhe trará um novo pôr do sol.

A calçada da igrejinha agora oferecia seu espaço para a diversão de pessoas no agrupamento de um bate-papo habitual e informal de todas as noites. O cenário de uma igrejinha, uma calçada e uma praça, já não era mais seu. Porém permaneceu ali por mais alguns minutos distraída pelo tumulto dos encontros, quando um mensageiro lhe trouxe uma rosa amarela. Curiosa perguntou quem a enviou e o mensageiro lhe respondeu graciosamente: - “Quando o sol se pôs, deixou que um de seus raios caídos sobre a terra, se transformasse em uma rosa amarela para lhe ofertar”. Julia agradeceu sorrindo envaidecida pelo carinho, mas, havia curiosidade de saber quem a enviou aquela rosa . Conformou-se em poder ser um adimirador secreto, até que seus olhos encontraram a resposta almejada; a imagem dos fins de tarde tão esperada, estava diante dela, impoluta, graciosa e amada. Seu querido pai de volta como prometera. Tal foi a sua reação que sufocada pela emoção, seu grito de alegria ecoa nas lágrimas. Passara-se dez anos pra aquele tão esperado reencontro acontecer. Julia agora olha para seu pai e a recordação do adeus que os separara é aflorado em seu peito com repúdio a sua presença. Toda aquela espera lhe caí como uma tempestade com trovoadas. Não reconhece mais o tão desejado reencontro. Estático, o pai de Julia não a entende e procura a custo convencê-la do seu retorno. Julia contorbada sai corendo buscando para si a liberdade daquele momento.

Com apressados passos o seu pai a persegue e a alcança; segura o seu braço, procura o seu olhar assustado e diz: - Filha toda espera é cansativa e toda ausência é atrevida. Com a espera vive a esperança e na ausência a alma é despida. Dito isto Julia pára e em versos lhe fala:

“A cada manhã eu apressei a tarde
para no pôr do sol lhe ver chegar,
e encerrar com a poesia das cores,
toda a sua ausência que me fez chorar.
Mas, foi a noite que lhe trouxe
com seu manto negro a lhe cobrir.
prenúncio de que sob as sombras
novamente podes partir”

E seu pai lhe replica:

“As horas são lentas
no aguardo de um momento.
Se promessa fiz
no pôr do sol chegar,
quis a noite impedir
para com as estrelas
nosso encontro reluzir.”

Julia já branda, abraça o seu pai dizendo: - O senhor tá certo, não importa se manhã, tarde ou noite, o certo é que voltaste pra mim. Considerado seja esse novo raiar que nos iluminará até o fim. Os dois seguem na direção de um novo dia, encerrando com o pôr do sol a distância martírio dos seus dias.

Dia seguinte, no vilarejo todos tricotam o retorno do senhor Rosal, enquanto isso no cartório da cidade, dona Sofia registra em função de seu trabalho, mais um apontamento das ocorrências da vida. ******




O RETORNO


CAPÍTULO II


De volta à casa, senhor Rosal é só esperança. Ele procura reconquistar Sofia, que teme uma nova desilusão. Julia percebe o esforço de seu pai para mostrar que mudou e que uma nova vida ele pretende iniciar junto a família, pede a sua mãe que tenha paciência. Entende que não é facil, afinal foram dez anos de separação, e nessa ausência muita coisa mudou e como seu pai mesmo disse “a alma ficou despida”, a pureza dos sentimentos não se faz mais sentir, foi dado lugar a desconfiança, fantasma de um passado. Dona Sofia conversando com Julia diz que o senhor Rosal, voltou pra ela, Julia, e que nesse período de separação ele deve ter se comprometido com uma outra pessoa e completa: - O pôr do sol existiu para você. Julia replica: - Quem sabe mamãe se esse elástico da separação não tenha o destino soltado para haver um impacto da aproximação entre vocês; afinal eu surgi de vocês dois. Diante dessa verdade Sofia responde a Julia: - continuamos a falar depois. Mas Julia insiste: - Mamãe é a senhora que ignora a presença do pai, coitado! Tenha dó dele. Ele a olha procurando receber da senhora uma atenção para melhor se explicar. Sofia respira fundo e diz: - Foi por você Julia que eu o aceitei de volta a esta casa, mais não na minha vida. Ele é seu pai, cuide dele você. Julia ficou triste com o desabafo da mãe e saindo um pouco para disparecer, encontra-se novamente com Marina e conta pra ela o que vem acontecendo em sua casa com o retorno do seu pai. Marina a ouve atentamente e lhe deixa um parecer: - “Sabe Julia se eu fosse você faria o seguinte; daria atenção devida ao meu pai, e quanto a minha mãe deixava que ela com o passar do tempo fosse sentindo o calor da presença do dele dentro de casa e com isso num estralo de dedos eles hão de se entender com toda certeza. Lembre-se que muito antes de você existir, eles precisaram de um entendimento para que você acontecesse, quero dizer, eles se auto-conhecem e tem suas manhas de abordagem cabível entre um homem e uma mulher. Faça pouco caso do fato e veja se não tenho razão.” Marina beijou Julia e se foi dizendo “outra hora a gente conversa”, ,Julia matutou a sugestão de Marina e resolveu acatar.

Passado alguns dias, o senhor Rosal já bem recuperado, saiu para um passeio no Vilarejo, saudando a todos por quem passava sob o olhar de censura de alguns, mas nada que o incomodasse. Ele estava feliz. Adiante parou numa banca de frutas e começou a escolher as mangas mais bonitas, os cajus mais viçosos e por fim os sapotis, ah! Os sapotis, quantas lembranças povoaram sua mente com aquela fruta que sempre prensenteara a dona Sofia no período de namoro e que tornou-se rotina após o casamento. Sapoti era a fruta predileta de dona Sofia. Comprada as frutas, o senhor Rosal volta para casa satisfeito, cheio de ânimo. As lembranças lhe fizera bem. Chegando em casa lavou as frutas e as pôs na fruteira. Mais tarde dona Sofia chegando do trabalho seus olhos vão como que automáticos sobre os sapotis, ela ri para Rosal e diz: você lembrou? E ele responde: Nunca esqueci. Os dois sorriem e o clima passa a ser ameno entre eles. Julia de nada sabia. Alguns dias a frente, senhor Rosal tem uma idéia e conta para Julia: - estou pensando em me tornar um voluntário a serviço da escola, sei mexer bem com artes plásticas, vou ensinar a essa garotada, quem sabe eu não descubra alguém que pinte o cenário do pôr do sol? Julia amou a idéia, e disse : conta comigo se precisar.

A noite a família reunida, Julia contou da ideia de seu pai a sua mãe e ela permaneceu calada até que em dado momento quebrou o silêncio e disse: ...contanto que esse cenário do pôr do sol , exista nele alguns sapotis...sorriu....e todos sorriram. O senhor Rosal e Julia tremendamente abismados olharam-se e compreenderam que o pôr do sol também chegara para Sofia. Julia reconheceu que Marina tinha razão ao dizer que eles se auto-conheciam e que como todo casal tem suas mania de abordagem. Feliz Julia os abraça. *******










O RETORNO

CAPÍTULO III


Feita as pazes, senhor Rosal e dona Sofia, vivem o que se chama ‘Lua de mel”. Para eles todas as manhãs o sol surge mais aquecido e os rouxinois mais encantadores. Tudo se faz primavera e no campo os animais são mais produtivos e as flores sorriem da beleza deste casal.

Passado mais dez anos, Julia comemora seus 31 anos. Agora casada e mãe de uma linda menina de 6 anos chamada Suzile. Seu marido, o Mário é pessoa afeiçoada e um político respeitado na cidade. O que Julia não sabe é que Mário não lhe é fiel. Seus discursos tão democráticos esconde uma personalidade falsa. O amor de Julia pela sua família perfeita começa a ruir quando percebe as trocas de olhares e as gentilezas exageradas de seu marido pela sua melhor amiga Marina. Sua desconfiança cria ainda mais fundamento. Marina é convidada por Mário para trabalhar no Comitê, sem que haja antes um planejamento de ocupação de cargo. Indgnada pelo ciúme, Julia é objetiva e pergunta qual o interesse “político” entre eles, o que Mário responde: - interesse que cuide mim, digo, divulgue o meu nome, o meu trabalho. Julia pasma com a resposta, olha bem para Mário e lembra mais uma vez das palavras da própria Marina em tempos passados quando da reconciliação de seu pai com a sua mãe; “eles se conhecem e tem suas manhas de abordagem”, desta vez a frase soou diferente no seu entendimento. Marina simplesmente quis dizer que um homem e uma mulher se auto-conhecem num simples olhar das vontades e que daí para a conquista é preciso apenas se tocarem. Marina passou a ser a construtora e a destruidora com esse seu parecer. As duas faces de uma lâmina.

Desiludida Julia foi lastimar-se junto a seus pais que com a experiência que a vida os tinha concedido poderia ajudá-la em aconselhamento. Depois de ouví-la o senhor Rosal e dona Sofia perguntaram; - Para que o sol se ponha o que é preciso acontecer? Julia sem pestanejar responde: - Que haja o dia. Dai surgiu o diálogo entre eles:

Senhor Rosal: - Muito bem! E o que acontece durante o dia?

Julia: - Trabalho, movimento e cansaço

Sofia: - E quando o cansaço chega com o fim do dia, quebrando suas pernas no fim da tarde?

Julia: - Os movimentos cessam.

Sofia: - E o que mais?

Julia: - Toda ação de efeito termina.

Senhor Rosal: - Qual o sinal para isso?

Julia: -... O pôr do sol

Senhor Rosal: - O pôr do sol significa página virada para o fim das atitudes daquele dia, e não para a vida. Pois bem filha, seu marido e esta sua “amiga” estão vivendo o “dia” da paixão que é cansativo e desfalecedor. Espera por ele no final da tarde, no pôr do sol, para vocês viverem a beleza de uma paisagem serena que põe fim a todo e qualquer labutar exaustivo,

E Sofia completa: - Espera o pôr do sol da sua vida filha, quando o sol descansar encontrarás o refugio das cores fortes e harmoniosas do viver, saudando para sempre o teu alvorescer *******


Jair Martins 28/09/06 00h06

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