Usina de Letras
Usina de Letras
147 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62182 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Vidas que ficaram sós -- 09/03/2007 - 10:49 (Jair Fonseca Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VIDAS QUE FICARAM SÓS - I CAPÍTULO

Edilza e Renato era um casal apaixonado. Eles se conheceram numa festa natalina da firma que Edilza trabalhava. Ele tinha sido convidado por um dos seus colegas do trabalho. Ao ver Edilza confessou ter visto uma estrela piscando em sua direção. Dito isto, Edilza o replicou dizendo que o mês de dezembro é o mês das “luzes”, talvez por isso o brilho de uma delas se pôs a sua frente na hora em que ele a viu e daí houve confusão. Ambos sorriram pela retórica tão bem imaginada para uma desculpa. Por toda a festa estiveram juntos e dali deu-se inicio a um relacionamento de grande sintonia, a princípio como amigos, logo após um mês, já não se podia admitir somente amizade, havia entre eles um quê de enamorados. Não demorou muito e ambos confessaram a si próprios o envolvimento apaixonado a que foram fisgados. Uma linda estrada florida abriu-se diante deles. O florescer dos sonhos e ideais proliferavam-se na forma mais radiante dos desejos. Edilza e Renato formavam um par invejável pela felicidade estralante que desfrutavam. Vivendo com intensidade cada momento de suas vidas amantes, partiram em busca de construí-las à dois vivenciando a frase “não mais eu e sim nós”.

Passado alguns anos, desta feita com familia constituida de dois casais de filhos; Renato Filho, Elza Cristina, Roberto e Eliane Kelly, filhos adoráveis, frutos do amor, orgulho da herança de Deus aos seus corações, a vida, lhes surpreendem com uma separação, não motivada por adultério ou morte, mas, por uma viagem inesperada de Renato. Era uma dessas quarta-feiras comuns , Renato chega em casa de volta do trabalho com a notícia de que viajaria para fora do país a serviço.

A empresa que Renato trabalhava era uma vidraçaria que produzia os mais originais derivados de sua obra prima e precisava urgentemente enviar um de seus funcionários com a uma missão de representá-la no congresso sobre cristais a realizar-se no Canadá, que sendo um país muito frio, os vidros revestidos de uma película especial desenvolvida pela tecnologia a prova de temperaturas menores estaria sendo discutido nesse congresso, que também visava outro objetivo, levar pessoas para residirem nesse país que tem sua populaçao minúscula, Surgindo então a posibilidade de que havendo interesse das indústrias, por certo fábricas seriam instaladas para o exercício do projeto levando funcionários de vários paises com suas respectivas famílias a domiciliarem-se no Canadá.

Esse convite recebido de última hora pela direção da empresa lia-se entre linhas um apelo “ pegar ou largar”, visto que, a concorrência de seleção para as inscrições eram por demasiado disputadas. O congresso reuniria empresários e industriais de alta seletividade no mundo dos negócios. A chance da empresa de Renato fazer conhecido o seu produto, com suas peças inovadoras de vasos e vitrines estava lançada. Renato além de ser um dos funcionários mais antigo e competente, como ele poucos conhecia a fórmula, o segredo do fabrico das belas peças especialidade da empresa.

A família recebeu a notícia com constrangimento. Eles nunca se separaram nem por um dia, e agora teria que se separarem por um período de quinze dias. Renato olhou para Edilza e viu que os seus olhos já lagrimejavam e abraçou-a com muito carinho dizendo: - Serão poucos dias, você vai ver, passam logo. Eu também não me sinto nem um pouquinho a vontade separando-me de você. Passar dias sem a minha família vai ser sacrifício. Se tudo der certo, quem sabe? Vamos todos morar no estrangeiro. Quebrando a emoção, Eliane Kelly, a filha caçula, foi objetiva, cobrou dele um presente trazido do Canadá e todos a imitaram e sorrindo disseram: –Nós também queremos.

Vivida essa primeira fase do impacto da notícia, Elisa tratou de separar as roupas, os sapatos os acessórios, tudo o que se faz necessário para uma viagem. Arrumando a mala, como toda boa mulher, pensou em colocar algo seu para que quando ele a abrisse se surpreendesse, e assim a lembrança dela estaria sempre acesa. Astuciosamente foi até ao seu armário e tirou de lá uma antiga blusa azul de decote um tanto ousado que para o casal contava uma história de sedução, sorriu ao deixá-la sobre todas as roupas da mala, fechou a mala e guardou consigo a expectativa da reação de Renato quando visse a blusa.

Chegado o dia da partida, a família reuniu-se em torno da mesa , deram as mãos e elevaram a Deus uma oração de agradecimento e proteção pela linda família, pedindo que o amor que os une fosse uma constante. Abraçaram-se, e Renato partiu para o aeroporto.

A primeira escala do vôo seria na cidade do Mexico, depois seguiria para Chicago/Estados Unidos e de lá direto para o Canadá. Chegando no México, ligou para casa. Ao toque do telefone todos correm a segurá-lo. O maridão e paizão fala da tensão e da ansiosidade com que vive essa viagem. Diz que tá tudo bem e que agora só ligaria quando estivesse chegado no Canadá. Despedindo-se da família já saudoso, Renato volta ao hall do aeroporto esperando a hora para continuar viagem. Enquanto Edilza e os filhos vivem os primeiros momentos de distância de Renato.


VIDAS QUE FICARAM SÓS - II CAPÍTULO


09h de uma manhã bonita de uma segunda-feira sob o frio canadense. Renato e todos os outros congressitas chegara no destino. A comitiva de recepção os esperava para conduzí-los ao hotel. A primeira reunião do congresso aconteceria naquele mesmo dia no salão de convenções.

Os dias se sucederam de muito trabalho. Terminado o congresso com direito a uma grande noite festiva, hora de voltar pra casa, de despedir-se dos novos amigos. Enfim colocar o êxito das propostas acatadas em execução. Um ônibus levaria todos os congressistas ao aeroporto na manhã seguinte para o embarque.

Na manhã seguinte, conforme combinado, todos estava, presentes, menos Renato.

Uma das recepcionistas lembra que na noite anterior, no témino da confraternização, ele recebeu um convite para visitar uma exposição de vitrines confeccionadas em fibra de vidro de última geração, em uma cidade vizinha. Quem o convidou pediu para que ele não se importasse com as despesas, porque seriam ressarcidas, o importante era ele aceitar o convite. Essa foi a ultima vez que Renato foi visto.

No Brasil sua família não se conformava com o seu desaparecimento. O sofrimento parecia desfalecer Edilza diante da falta de notícias. Os anos se passaram. O caso foi dado como sequestro, embora alguns julgassem que Renato simulara toda essa situação motivado por uma ambiciosa proposta.
Edilza prefere acreditar que Renato foi vítima de gangues que busca segredos de trabalho alheios para se darem bem com produção, e dedicou-se desde então aos seus quatro filhos de maneira a anular-se, Não considerando que a vida continua sua trajetória, e quem pára somos nós.

Após doze anos, o inesperado esperava Edilza. Foleando uma revista famosa que aborda a vida de celebridades, a reportagem de um industrial bem sucedido em design sofisticados lhe chamou atenção. Ele defendia a construção de uma casa com paredes de vidro a prova de impactos. Seu projeto estava sendo discutido por engenheiros competentes. Como os olhos de quem ama não se engana, o olhar daquele homem na fotografia, que respondia por nome Frank Bill não deixava dúvidas, era seu marido Renato. O coração de Edilza acelerava confirmando. Procurando mais informações na reportagem que viesse a endossar a verdade, Edilza acelerou aquela leitura e encontrou a frase que definiu toda a sua suspeita. Ao ser perguntado como descreve o vidro, a resposta foi – Como a mais perfeita base para refletir o piscar de uma estrela . Foi o suficiente, Edilza já ouvira antes parte dessa frase ”o piscar de uma estrela”, quando eles se conheceram numa confraternização de natal. Não podia ser coincidência. E continuando a ler aquela reportagem; Frank Bill completa que a casa de paredes de vidro que pretende construir, será na verdade de cacos de vidros, pedaços do seu coração que ele irá juntar, e com a transparência ainda que vazados pela emenda, possa ver no retroativo distante de um passado, pela película da saudade, uma mulher de blusa azul, com decote ousado a lhe expor algumas sardas, e com sorriso maroto lhe dizendo “vesti pra você”. Ao acabo de ler tal declaração de Frank Bill ou seja Renato, Edilza comunica-se com os filhos relatando a reportagem. O filho mais velho, retruca dizendo: - Mãe, já passaram-se tantos anos, tenta esquecer o pai como ele nos esqueceu. E Edilza lhe responde: - Como posso esquecer quem me presenteou vocês? O filho emudece.

Na certeza de ter encontrado Renato, ainda que distante, seu coração de mulher se aquieta. A blusa azul estava com ele, a lembrança dela não morrera, apenas vidas ficaram sós.

Frank Bill ou Renato, esqueceu que a vida é preenchida com o ser e não com o ter. O ser é uma linha vertical que toca a imensisão, o infinito. O ter é uma linha horizontal que acumula o perecível numa posição deitada. A essa estória de separação de vidas amantes, fica um aprendizado de que a paixão pelo poder perde seu sentido quando conquistado. Já o amor quando conquistado é poder em absoluto.



Jair Martins - 29/01/07 01h34
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui