Nem sempre a páscoa é tecida em cores. Ontem, apresentava-se cinzenta, quando águas doces da chuva atingiram-na com violência, respingando grosseiramente nos vidros já embaçados do carro.
Meus olhos ainda jorravam água salgada que vinha de dentro do peito e não foram capazes de avaliar o risco de prosseguir na estrada.
Estava feito! A cesta de páscoa havia sido entregue na portaria e o carinho com que a arranjara faria entoar minhas mensagens.
Não teria o toque na pele, ainda que o sangue pulsasse em demasia, contudo, sementes tinham sido plantadas em cada laço.
O som emitido pelo celular livrou-me do torpor. Encostei para atender a chamada, com esperança de que a voz anunciasse o desejo de minha presença.
Engano! Mais um engano atravessava minha expectativa, sem sequer, um ínfimo gesto de compaixão.
Retomei a estrada revezando soluços e orações. Há algum tempo, minhas preces não se faziam merecedoras de atenção, tal a fragilidade com que as cercava. Neste momento, não! Eram pronunciadas com fervor. Sentia o calor do acolhimento.
O pranto não cessou, mas vi-me diante da face do SENHOR e, me acalmei diante do óbvio: a necessidade do ajuste nu e cru à realidade.
O sentimento de tristeza ainda me devasta, contudo, tive oportunidade de retomar a fé no primoroso instante em que pedi uma vida regada com um pouco mais de cor e ELE enviou-me um arco-íris.
Sim, um arco-íris para arrematar o final de tarde que parecia não querer sair de cena, tal a lentidão com que se arrastava...