Grogue o melífluo, naquela tarde, vestido com a calça azul e camisa branca mais parecia um cotonete ambulante. Ele vivia todo envaidecido. Também não era para menos: a produção inteira da sua gravataria era comprada com muita rapidez pelos comerciantes da capital.
A movimentação no bairro e na rua onde se instalara a fábrica chamou a atenção dos políticos e como não poderia deixar de ser, Jarbas o fronteiriço, viu naquilo uma oportunidade para enriquecer os combalidos cofres da prefeitura.
O prefeito mandou olheiros para assuntarem as ocorrências e as primeiras informações trazidas ao gabinete davam conta de que alguns comerciantes de S. Tupinambos adquiriram toda a produção da fábrica pelos próximos seis meses futuros.
Ora, esse fenômeno foi considerado altamente humilhante para toda a diretoria da seita maligna-do-pavão-abilolado, que percebendo inócuas as medidas repressivas dirigidas contra Van, via-se agora constrangida pela chamada “virada do jogo”.
Então os integrantes da seita planejaram, chefiados pelo alcaide chato, uma mumunha com qual poderiam pôr fim àquela ousadia sem tamanho.
Tendes Trame foi o escolhido. Por ter sua imagem, em razão do cargo, muito difundida na mídia, ele foi obrigado a usar um disfarce que lhe acrescentou uma cabeleira vistosa, um bigode imenso, e teve a pele alva, bronzeada com aerógrafo. Parecia um galã de novela mexicana.
Travestido de fiscal municipal, Tendes adentrou à fabrica e mostrando uma face sisuda foi logo perguntando à secretária pelo presidente da empresa. Trame se apresentou assim:
- Boa tarde senhorita! Meu nome é Valmir Schiafusca da prefeitura; quero ver seus livros contábeis e fiscais; seu alvará também.
A mocinha, ante aquele homem enorme, encabulou-se; mas tomando o interfone comunicou à chefia a presença do agente público.
Van Grogue sentiu um frio no estomago quando soube que havia ali um ser capaz de tentar acabar com aquela alegria toda.
O industrial mais bem sucedido de Tupinambicas das Linhas, sereno levantou-se e foi ao encontro do problema.
Ao se encontrarem na portaria, depois das apresentações, Grogue convidou o visitante a entrar. Caminharam então ao gabinete da presidência quando Van ouviu:
- Recebemos denúncia sobre suas atividades ilícitas aqui no município. Tenho ordens para lacrar esse estabelecimento e encaminhar o senhor às autoridades judiciárias.
Grogue percebeu que a coisa era séria. O homem não estava brincando. Mas como a todo acuado sempre surge um gesto defensivo, iluminou-lhe a mente brilhante a possibilidade de ofertar ao cidadão ali presente um lindo conjunto de gravatas.
Trame logo percebeu as intenções do Grogue. E simulando boçalidade levou a conversa pelos meandros conducentes aos presentes fecha-beiço no final da incursão.
A intenção de Tendes era a de enquadrar Grogue por tentativa de corrupção ativa. Por isso ele aceitou de bom grado a oferta do industrial portentoso.
Então Van Grogue escolheu duas gravatas mais vistosas e se ofereceu para coloca-las, uma depois da outra, no viajado e famoso pescoço de Tendes.
Acontece que a secretária entrou subitamente no escritório e ao ver Trame enlaçado pelas costas pelo patrão, enrubesceu atribuindo a cena uma conotação afetiva.
É claro que os cavalheiros notaram o embaraço da moça e com pigarros tentaram passar a noção exata do que acontecia no compartimento.
Mas foi invencível para Tendes aquela sensação esquisita de ser possuído pelas costas e, todas aquelas histórias sobre sua homossexualidade enrustida vieram-lhe à lembrança. Foi um turbilhão insuportável.
Completamente vexado teve Trame de sair às pressas da empresa abandonando o projeto de fustigar, com multas, o empreendimento do Grogue.
Van salvou-se novamente, e desta vez, por causa de um nó na gravata.
