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Contos-->Juízo Final - versão do escritor -- 23/04/2007 - 20:23 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A idéia de juízo final está presente em várias religiões e culturas. Em todas elas, esse evento seria marcado por um encontro com um ser supremo para um acerto de contas. Os egípcios, por exemplo, acreditavam que, nessa hora, um deus chamado Anúbis recebia os peregrinos e lhes arrancava os corações do peito para, em seguida, pesar no prato de uma balança que possuía uma pena como contrapeso. Se o coração fosse mais pesado que a pena, seria a condenação eterna. Apenas os donos de uma leveza incomum ganhariam uma vida de bênçãos. O exemplo permite afirmar: sempre há uma aura de terror a envolver o dia do juízo. Santos sádicos, árbitros cruéis ou castigos nazistas.
Não está em nenhum livro sagrado, mas aceite uma idéia original sobre o assunto. É uma proposta meio sem graça para quem gosta de rios em chama, corpos enterrados vivos, chicotes de serpentes com sete cabeças. Nesta singela versão de escritor, quando a hora do balanço de nossas vidas chegasse, seria um momento de festa em que uma platéia sem fim nem começo receberia os julgados com uma salva de palmas calorosa, gritos de euforia, músicas cerimoniais. Ainda sem entender bem o que estaria acontecendo, o réu seria guiado por um ser de luz para um púlpito. Ao seu lado, flutuando soberano, estaria o Deus-do-Seu-Coração com a expressão indefinível que um deus deve possuir. As palmas cessariam e o tal Deus ecoaria um breve discurso:
- Meu filho, hoje é o dia do seu julgamento. Se você pecou, esqueça seus pecados. Aqui não há essa idéia de bem e de mal como você chegou a acreditar um dia. Esqueça todos os seus pecados. Isso não é mais importante. Há, no entanto, uma pergunta a qual você, meu filho, deverá responder diante desta assembléia. Peço apenas que esvazie o seu coração de todo o medo e responda com pureza. A pergunta é: qual era o seu grande objetivo lá na Terra, o seu grande projeto?
O julgado responderia, meio desconfiado:
- Meu senhor, meu grande objetivo era ser escritor, mas foram tantas as dificuldades.
A platéia deixaria escapar um burburinho de expectativa e o Deus seguiria:
- Sei bem, filho. Por isso, hoje você será presenteado com a realização completa desse sonho que era tão seu. Você terá a chance de ser um grande escritor lá na Terra. Voltaremos o tempo e você publicará muitos livros e será lido em todos os países do mundo. Para isso, basta que você nos mostre um livro, apenas um, que tenha escrito. Mostre-nos, mesmo que - malditos editores do inferno! - esse livro não tenha sido publicado nem lido por uma alma sequer.
- Sabe como é, Deus, as coisas, como já disse, não eram fáceis. Eu precisei correr atrás de sustento, cuidar da família, cuidar de mim. No pouco tempo livre que tinha, estava tão cansado para escrever...
- Não tem problema, filho. Eu entendo, ora se entendo. Contento-me com uns poucos contos que você tenha escrito, ainda que com dificuldade, sob a luz de uma vela solitária em noite fria. Ou umas poesias revoltadas...
- Então, Deus, eu queria muito ser escritor, mas a vida, sabe, tanto corre-corre, não escrevi nada, não.
- Certo, certo, filho...
Depois das reticências, uma sinfonia de sons duros precederia a sentença anunciada pelo Deus, em tom grave:
- Que fique registrado: nesta data, esse homem mostrou-se diante de mim e obteve a chance de realizar seu maior sonho; mas, por não ter ele mesmo acreditado no que sonhava, será obrigado a viver eternamente no inferno.
A platéia:
- No inferno, no inferno, no inferno!
E o condenado perguntaria:
- Inferno? Onde fica o inferno?
Deus, sábio como só um deus pode ser, responderia:
- O inferno, meu filho, fica aí mesmo, no lodo da sua frustração eterna. Assim seja!
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