“Você não sabia que todo mundo sabe? E olha que não foi eu que espalhei!” (Zé Lagarto quando informava ao Mariel Pentelini que a cidade inteira sabia ter ele se juntado a uma farçante).
Adélia e Hermínio estavam preocupados com as ocorrências envolventes da sua filha Alcinda Nair.
De fato depois que a família toda do Feliciano soube que ele tivera um filho adulterino com Alcinda, as consciências nublaram-se com muita vergonha.
Tupinambicas das Linhas inteira sabia da história. Se não fosse o amor de Mariel Pentelini Demorais por Alcinda, que a levou para morar com ele, a menina ainda puxaria carroça.
Alcinda Nair sentia uma raiva muito forte; seu ódio era intenso. Ela queria saber quem foram os ordinários que espalharam a verdade dos fatos para a torcida do E.C. 7,5 de Novembro.
Na realidade os amigos do Feliciano, seus contemporâneos que trabalharam com ele na metalúrgica do Jacir Guaba não tiveram muito cuidado em guardar aquele segredo.
Nos bares, nas rodas de truco e churrascos, todos comentavam ter o Feliciano uma amante de 17 anos, que vivia a puxar carroça pelas ruas do bairro.
Feliciano não compreendia que as pessoas na rua viam quando ele abria a porta do carro para a jovem entrar, naquelas noites em que viveriam momentos de volúpia intensa?
Ele não sacava que o pessoal todo ficava de olho quando ele chegava do motel com a menina (ela sempre vinha chupando um sorvete ou pirulito) e a deixava na esquina perto da casa dela?
Afinal ninguém era obrigado a não falar nada sobre o assunto. Ninguém da comunidade fizera voto de silêncio ou se comprometera a não divulgar o que sabia.
Nelsão-boca-de-porco, pai de Mariel Pentelini, tomara as dores da menina e como se fosse um professor irado que desejasse manter o silêncio dentro da classe, abordava nos bares, quem estivesse conversando para saber se falavam da sua nora querida.
Nelsão-boca-de-porco bebia pinga, e feito um touro enfurecido soltava vapores deletérios pelas ventas. Diziam que quem tivesse a ocasião de sentir aquele bafo medonho logo sofreria uma laringite desgastante.
Lola, a magricela, uma velha conhecida do Nelson, dizia que ele estava a um passo da paranóia. Ela pensava que se isso ocorresse (se ele pirasse mesmo na batatinha) teriam que tomar providências. Quando tocavam no assunto ela dizia:
- Tem que internar! Tem que internar!
A mãe de Alcinda Nair, a brava dona Adélia, apesar de todos os conselhos médicos, não parava de consumir massa. Diziam que o tamanho do seu ventre logo comprometeria as articulações dos joelhos e tornozelos. Mas Adélia não se importava com os comentários e para sentir alívio da angústia que lhe causava aquela história toda, mandava goela abaixo muito pão com mortadela.
Quando os vizinhos souberam que a garota saia com um homem casado, pensaram logo que Adélia também conhecia e aprovava o caso.
O fato de a moça insistir em passar horas e horas, dos finais de semana, nos motéis com o aposentado, fez com que muitos inferissem ter também a mãe dela consciência das ocorrências.
Adélia irava-se ao extremo quando sugeriam ser ela a maior incentivadora do comportamento volúvel da filha.
A boca pequena comentava ser a própria mãe a estimulante da conduta irresponsável de Alcinda Nair, por não mais suportar a presença daquela menina histérica a falar besteiras o dia todo.
Mas a maioria perguntava: será que a mãe sabe?
Adélia sabia e achava que o Feliciano era o único responsável pela gravidez da moça; e que ele pagaria muito caro pelo descaramento que fazia com ela.
Afinal a filha era “de menor”. Ela podia dirigir um carro, uma moto, eleger um político, ter um filho, mas... era “de menor”.
A história foi parar no gabinete do prefeito. Jarbas pensou em tirar vantagem do rolo. Poderia usa-lo para lançar uma turba contra Van Grogue seu adversário político.
O extraordinário do drama estava na concepção das personagens: todas elas achavam que ninguém sabia de nada, quando na verdade até a torcida do Flamengo tinha conhecimento do assunto.
