Minha alma soltou um vago soluço e o braço descarnado da consciência apontou para um vaga-lume. Hipnotizado ele veio devagar e pousou na palma de minha mão. Os olhos fixos na fluorescência de sua luminosidade destilaram gotas de orvalho salgado. É a vida com seu drama do amanhecer, fim de noite, fim de caso amoroso.
Eu não queria terminar, mas foi preciso. Ele sempre fora o meu vaga-lume de estimação. À noite o tinha presente, embora distante, e aqueles olhos luminosos acendiam achas de amor. Era bom sentir fogo no corpo. Dos encontros ardorosos, a paixão deixava um lastro de prazer incomensurável. No silêncio, a alma fremia com os toques de carinho que faziam minha pele sentir-se rainha. E foram tantos os poucos momentos só nossos, no sigilo do anonimato, por isso ardentes. Suas mãos fortes ainda seguram minhas faces para o beijo prolongado. E as constelações bailam ao som harmonioso do vaivém dos carinhos que deixam cair pingos de estrelas no céu de minha primeira e única paixão. Agora meus pés passeiam solitários na relva úmida e sei que o sol apagará as marcas, única prova deste andar dorido. A vida é um caminhar sem retorno que deixa cicatrizes profundas. O homem é um cego que tateia as próprias feridas e, pela dor que sente ao tocá-las, se orienta, toma novos rumos. Olhar para o passado é inútil. A névoa toma conta de tudo e as pegadas já desapareceram. Desencanto. A taça sempre está vazia. O sonho foi interrompido. Faço uma pose displicente, teatral. Estamos sempre no palco. Ando por uma ruela escura. Os gestos são meros pirilampos que acendem e apagam, deixando confusa a lembrança. Procurei em vão nos meus sonhos o céu bordado de estrelas e lantejoulas. Jogo no chão o olhar triste e converso com a relva, pois os vaga-lumes já se foram. É dia. Ouço ritornelo da ladainha amorosa no balançar repetitivo das folhas e os lábios cedem à tentação do sorriso. Ele aflora devagar e, na mesma face onde os olhos choram, a boca sorri tristemente.
Uma borboleta baila seduzida pelas flores. Chego mais perto. Ela voa surpreendida pela minha presença inútil. Olho as flores. São efêmeras, apesar da beleza. Fascinam pela fragrância e calma. Crescem sem pressa, assim como Deus que trabalha na eternidade. Olho para dentro de mim e sinto que estou desfolhando.