As máquinas chegaram cedo para a destruição dos lares, fazendo barulho aterrador. Os moradores, ressabiados, trataram logo de juntar os seus cacos e pensar na melhor maneira de fugir o mais rápido possível. Lares inteiros haveriam de tombar sem nenhum tipo de piedade das impetuosas máquinas. Os pequenos, sem nada entender, encolheram-se nos cantos na vã esperança de uma ilusória proteção – muitos morreriam ali mesmo na sombria inocência de seus poucos tempos. Quando as implacáveis máquinas tocaram pela primeira vez a estrutura do condomínio, o desespero e a histeria dominaram os alucinados fugitivos. Era um amplo e completo caos. Muitos se jogaram tragicamente nas alturas, espatifando-se no chão vitimados pela falta de prática. Outros, esqueceram dos filhos que morreriam minutos depois, sem ao menos ter a condição de fugir. As motosserras e seus algozes manipuladores, em 16 minutos colocariam abaixo um ancestral angico de 76 anos. Sem rumo, as aves que ali construíram seus lares voaram para bem longe – estavam desalojadas novamente. Boa parte dos filhotinhos morreu, embaixo de uma confusão de folhas, galhos e ninhos. O tombado angico daria lugar a um imponente e erguido casarão.