O velho Winchester morreu. Era o apelido do meu computador. Vítima de vírus. Ainda bem que salvei a maior parte dos arquivos em disquete.
Crônicas, trabalhos, pedaços da vida que ficaram à mercê dos vírus carregados por disquetes. Não foi o primeiro e nem será o último computador a morrer.
Serviu aos propósitos de refrescar a memória, criar textos românticos ou políticos, ajudar a enriquecer ou empobrecer a língua portuguesa.
Foi num dia desses, mostrando que a história tem seus momentos em que a mudança se faz necessária.
Um pouco antes das eleições. Sobraram na tela informações como este programa não funciona, aquele também não, análogos aos programas desenvolvidos pelos governos municipais, estaduais e federal.
Quando já não funcionam mais têm que ser substituídos. Curiosamente, não cuidei muito bem da máquina.
Era antiga, já tinha cumprido seu papel e esperava pela morte a qualquer momento.
Agi como os governantes agem em relação aos idosos e aposentados. Prá dizer a verdade, até forcei a situação, levando disquetes com informações mais pesadas(como o governo que paga salários minguados a quem precisa de remédios caros para segurar a carcaça mais algum tempo).
Mas não fiz festinha no dia do computador velho(se é que existe isso) para disfarçar minha indiferença com o arcaico instrumento de trabalho.
Fui sincero como um bom capitalista deve ser(concepção neoliberal de trabalho). Usei a máquina, sem manutenção preventiva, explorei todos os recursos, e agora devo comprar outra, mais adequada, para substituí-la.
Como é apenas uma carcaça sem direito a FGTS, INSS, PIS-PASEP, e outras siglas da previdência oficial, o destino natural é um lixão, já que os metais são desperdiçados em Porto Velho.
Destino cruel o dos velhos computadores e cidadãos. Serem jogados em qualquer canto por não oferecerem mais à sociedade o retorno financeiro.
Para o velho Winchester sobra o consolo de ter suas partes derretidas e reaproveitadas. Para os velhos cidadãos apenas fraldões, esquecimento e talvez, se for algum ilustre filho da terra, ter seu nome associado a pracinhas ou ruas de subúrbio, empoeiradas e tristes.
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