Tati tinha uma tia. Uma tia danada de feia por fora e uma belezura por dentro. Cada dia expressava uma surpresa de bondade diferente da outra.
Não havia ninguém na vila que não falasse dela. Muitos esgotavam suas tagarelices na aparência. Outros, sequer percebiam as imperfeições de seu rosto.
Zé do Galo, por exemplo, zelador do armazém da esquina, bem próximo à casa da tia da Tati, chegou a lhe propor casamento. Ela até que saboreou a proposta, contudo, pediu tempo para a resposta. Afinal, só porque era feiosa, não poderia fazer um pouco de charme?
Um dia corria atrás do outro e nem sempre tomava o caminho que a gente imaginava. E foi assim, num destes em que o sol decidiu embaçar a vista de um motorista desavisado, que Zé do Galo foi atropelado no centro da cidade. Dizem que não sobrou sequer um naco da crista para contar a história.
Uma tristeza assolou a vila. A tia da Tati, por um longo período passou a se esconder nas sombras das esquinas. Casar-se com um só, não era mesmo a sua sina, pensava ela enquanto atravessava a rua.
Retornou à sua rotina, pois não podia viver da tristeza. Abriu as portas e mais idosos das cercanias se amontoaram em sua sala.
Não existia explicação de como tudo havia começado. Todos os dias uma história nova acompanhava a melodiosa cadência do tricotar das agulhas e trançar das palhas.