Acabou-se o que era doce. A relação terminou. E quem sobrou, sofre, lógico.
Sofre por todos os motivos que a gente conhece bem: saudades, auto-estima abalada, impotência e uma certa mágoa que surge não se sabe de onde. Ou se sabe. Talvez a mágoa venha daquela constatação que a nossa maturidade, meio capenga, não consegue suportar: "ok, tudo bem que ele/a me deixou, tudo acaba nessa vida, um dia iria acontecer (até aí a maturidade está firme...) mas como é que ele/a conseguiu fazer isso de uma maneira tão fácil?" (...eis onde a maturidade tropeça).
Quando a gente perde o outro de vista, não sabemos mais o que se passa do lado de lá. Do lado de cá, sabemos: muito lenço de papel para segurar a choradeira, um desânimo, uma vontade de não ir trabalhar, de não sair da cama, fome nenhuma, tentativas frustradas de curtir uma noitada, revisão contínua nas fotos e e-mails que ficaram como registro do passado, enfim,
um dramalhão bem latino. Mas e do lado de lá? Parece que por lá a vida continua numa paz escandinava. Grrrrrrrrrrr.
Seria menos doloroso pra nós se a dor fosse repartida em partes iguais. Se eu sofro, e sei que o outro também sofre, oba, temos ainda algo em comum. É reconfortante saber que nosso/a ex também lamenta a ruptura (mesmo que a iniciativa tenha sido do cachorro/a), que o outro também se sente sozinho e não partiu para uma nova relação com total facilidade. Se os dois sofrem, é
como se ficasse confirmado que a relação tinha importância igual para ambos. Que o afastamento, apesar de coerente e definitivo, gerou a mesma
dor. Nem perca seu tempo me dizendo que isso é egoísmo porque sei disso muito bem. Más notícias, pessoal: somos egoístas.
Ser deixado já é dureza. Se, além disso, somos deixados tão facilmente, tão razoavelmente, tão racionalmente, tão assepticamente, aí vamos à nocaute.
No próximo namoro, melhor combinar antes: amor, se você decidir acabar, por favor, sofra um pouquinho pra me agradar.
(Martha Medeiros)
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