À espera do ónibus, naquele ponto cheio de gente, encostava-me na grade de um estacionamento. Pensava em coisas corriqueiras da vida. Este é o lado bom de se andar de ónibus: a gente tem tempo de pensar na vida.
Veio na minha direção, olhando fixamente para mim, um jovem rapaz com cara de suspeito e um outro menor do que ele. Vinham juntos, determinados. Era eu que eles haviam escolhido: a próxima vítima. Desencostei-me da grade num movimento decidido e rápido. Eles perceberam que eu estava fugindo, mas continuaram vindo na minha direção. Caminhei mais para o meio das pessoas. Procurei em todos os cantos ver se havia segurança. Um carro de polícia tinha acabado de passar, mas agora não havia ninguém que me pudesse valer. Eu mesma teria de me virar. Entrei no primeiro ónibus que passou. Nem olhei para trás. E se eles tivessem tomado o mesmo ónibus que eu? Como seria? Teria de descer no próximo ponto. E se eles descessem também? Estava mesmo sem jeito. Disfarçadamente peguei o celular que já tinha gravado o número da polícia. Caso eu precisasse usar, estaria pronto.
O ónibus deu a partida, e eles não entraram. Respirei aliviada. Tomei coragem de procurá-los novamente. Eles estavam lá fora, enconstados na mesma grade e no mesmo lugar em que eu estava antes. Ainda olhavam para mim, e eu já não sabia se eles queriam mesmo me assaltar ou queriam apenas um espaço na grade.
Essa maldita violência, além de nos deixar amedrontados, fertiliza nossa imaginação.