Tomada que estava pela luxúria a cigarrinha aproximou-se do zangão assustado e com aquele ar de quem diz "agora te como", afastou as cadeiras que os separava na saleta, e quando soltava a voz zunindo o convite para o amor, ouviu um ríspido "sente-se alí!" do macho trêmulo.
Contra a dissonância que se produziu no seu interior ele argumentou com os fatos evidentes de que aquele inseto seco feito uva passa, com perninhas finas e branquelas era casada com papel passado e tudo.
Aquele chega prá lá do zangão transformou a sanha libidinosa da cigarrinha em ira cruel e retida, que deveria agora ser liberada aos poucos, em doses homeopáticas, ao longo do tempo contra o bofe rejeitador.
Realmente quando a lua cheia instalava-se lá naquele céu e produzia com sua luz pálida humores sexuais, a cigarrinha era tomada pelo ódio que a induzia à vingança.
Apesar de ter sua origem numa família de semi-analfabetos ou como se diz modernamente de analfabetos funcionais, a cigarrinha de canela fina, ouvira a história da Branca de Neve e os Sete Anões. Havia no conto uma bruxa malvada, nariguda e escalafobética que dentre cinco palavras pronunciadas quatro eram sobre sí mesma.
A bruxona valeria-se do envenenamento com a maçã para nocautear o zangão. Seria pois com esse metodo que se vingaria daquele abelhudo esnobe.
E assim foi. Com um cafezinho aquí, um docinho alí, um pitéuzinho hoje, e amanhã também, viu-se o zangão com suas azinhas flácidas. Instalou-se nele uma disfunção retrátil.
Incapacitado para praticar a mais pífia de suas funções que era a de voar, o zangão não pode valer-se nem ao menos dos serviços oferecidos pela saúde pública, de tão escangalhado que ficou.
Mas como não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe, e por estar plenamente convicto da reciprocidade nas relações sociais orientou-se para reagir positivamente caso algum dia a mesma situação novamente se lhe apresentasse. Prometeu que não melindraria a cigarrinha, sem pelo menos antes lhe perguntar: "E flauta... tocas???"
A ira da cigarrinha não passou porém enquanto não comentou com a lagartixa sobre o ocorrido com seu desafeto. Contou mentiras, criou boatos e pintou o sete.
A lagartixinha, coitada, acreditando nas mentiras e invencionices da cigarrinha criou um certo ódio preconcebido contra o zangão. Lembrou-se de quando durante certas brincadeiras algumas abelhas chamavam-na de bicho-feio-de-goiaba.
No dia seguinte o zangão encontrou em frente de sua casa uma camisinha usada.Tomou da vassoura e varreu toda a região defronte a sua morada. Notou também que as flôres do seu jardim estavam quase sem vida, já meio esquálidas. Mas controlou-se.
O zangão percebeu na garagem do seu carro uma bola murcha com o distintivo do seu clube de futebol mais querido e pensou: "aquela cigarrinha tarada está me provocando..."
A lagartixa bebericando no boteco da esquina dividiu com o ratão suas mágoas dizendo que o zangão tinha preconceito contra as pessoas que tinham comércio de produtos que faziam mal para a bicharada.
O ratão esperto visualizou uma oportunidade para disseminar sua leptospirose.E foi então aí que os males começaram a acontecer. E só terminaram quando apareceu aquele exorcista.