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Cronicas-->Kika, me dá seu telefone? -- 26/11/2004 - 16:44 (Maiesse Gramacho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Kika, me dá seu telefone?

Lendo um dos maiores clássicos da literatura universal, O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger, me deparei com o trecho: "Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer".
Engraçado que essa vontade se abateu sobre mim dias antes, quando lia um lançamento da Geração Editorial, "Kika, a estranha". Quando cheguei à última página do livro que narra as venturas e desventuras de Kika Salvi, minha colega de profissão e de degustação de sapos, fiquei com uma vontade louca de ligar para ela, mandar um e-mail, uma carta, um telegrama, whatever.
Claro que, como (boa) jornalista que sou, sei que conseguiria os números da autora na editora, mas - se é que vocês, leitores, me entendem - eu queria trilhar os caminhos mais longos para chegar até ela. Talvez - e com certeza esta seria a análise do meu terapeuta - é porque, na verdade, eu não quero fazer contato com ela. Da mesma forma que ele diz que só procuro me relacionar com homens que não querem se envolver porque, no fundo, eu é que não quero me envolver. Coisa de gente problemática mesmo. E também, pensando friamente, não conseguiria dizer, por telefone, tudo o que gostaria. Pareceria, a minha interlocutora, mais uma leitora qualquer, ligando para encher o saco.
Aí me lembrei que o Vivaldo, editor da revista eletrónica Verbo 21 (para a qual colaboro com algumas entrevistas), sempre me pediu um texto em que colocasse minhas impressões sobre algo. Assim, resolvi atender o pedido do meu amigo. Mas não esperem que eu teça considerações teóricas acerca da obra. Só quero dividir com quem se aventurar a ler este texto o que diria a Kika, se tivesse oportunidade.
Eu queria falar sobre a semelhança de nossas histórias. Também sempre me achei (muito) estranha. Também nunca soube dizer "não" e isso me botou em muita encrenca; também sempre coloquei o sentimento e o desejo dos outros acima dos meus, "como se fosse inconcebível a idéia de frustrar, ferir ou rejeitar uma pessoa"; deixei de dizer muito palavrão quando devia tê-los gritado a plenos pulmões; e, também, com a mesma ànsia louca por ser amada, cedi a muita gente - homens especialmente -, "embarcando em tudo o que pediam, direta ou indiretamente". Também desejei um homem rústico, e cheguei a cogitar a possibilidade de me casar com um marceneiro irlandês, quando de minha estada na Irlanda.
Pensei, assim como ela, ter encontrado o grande amor num moreno de voz rouca. Mas, tempos depois, num encontro igualzinho ao que ela descreve no livro, "falamos como dois estranhos um com o outro" e "naquele dia eu o odiei, não por não me amar ou não querer ficar comigo, mas por mobilizar em mim sentimentos tão nobres sendo tão pouco merecedor daquilo tudo". E, assim como ela, "voltei para casa me sentindo a mulher mais incompetente do mundo em matéria de relacionamento".
Como Kika, amarguei noites ardendo de desejo de gente que talvez nem se lembre mais de mim. E, nessas horas, diferente dela, não tive um "alemão" (quem leu ou ler o livro entenderá o porquê das aspas), para saciar ao menos a necessidade biológica (leia-se sexual). Mas como Kika - e também como ela, que contou com a ajuda de alguma tarja preta pra levantar e sacudir a poeira -, resolvi tentar aprender a gostar um pouquinho mais de mim. (Os livros de auto-ajuda dizem que esta é a única fórmula para fazer as coisas melhorarem...).
Todavia, não sei se, como Kika Salvi, algum dia vou publicar um livro para vomitar os sapos engolidos. Ela foi corajosa em sua catarse, é preciso reconhecer. Eu sou mais reservada. Transformo meus sapos em poemas que, ironicamente, chamo de "impublicáveis". Mesmo assim, como o livro de Kika serviu para ela exorcizar seus males, meus versos - mesmo que restritos apenas a minha leitura - me ajudam a me sentir mais limpa, mais leve. E solta.
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