Usina de Letras
Usina de Letras
98 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50614)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Também preciso de um barco -- 26/11/2004 - 21:23 (Maiesse Gramacho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Também preciso de um barco

Na coluna da semana passada, falei sobre meu encontro com Affonso Romano de Sant´Anna. (Aproveito a oportunidade para dizer que a editora L&PM está lançando, em dois volumes, uma compilação da poesia de Affonso, a preços, digamos, simbólicos (isso porque, na minha modesta opinião, os versos do autor não têm preço...). Num país em que a frase "livro é caro" ecoa pelos quatro cantos, exceções como esta são imperdíveis). Desta vez, vou falar sobre sua mulher (e que mulher!), a escritora Marina Colasanti.
Infelizmente, não tive a mesma graça de poder encontrá-la pessoalmente. Isso, sem dúvida, me daria muito prazer. De qualquer forma (e a forma foi o e-mail), foi também uma honra poder entrevistá-la.
Marina é dessas mulheres que dão inveja. Bonita, inteligente, bem-sucedida, escritora de talento ímpar. Nasceu em Asmara (Etiópia), veio para o Brasil em 1948, aos onze anos de idade. Seu primeiro livro, Eu Sozinha, foi publicado em 1968.
Todavia, confesso que só fui conhecer sua obra já adulta, assim como aconteceu com as obras de Lya Luft e Adélia Prado. E fiquei encantada! Que delicadeza, que manejo ela tem com as palavras...
Ao sondá-la sobre a possibilidade de me conceder uma exclusiva, Marina topou "desde que as perguntas não sejam lá coisa muito complicada de responder", uma vez que ela estava (como sempre, aliás) muito ocupada com seus "projetos". "Ando sem tempo para nada", escreveu.
Assim, tentei ser o mais sucinta possível. Acho que as perguntas que fiz foram óbvias e, certamente, Marina já estava cansada de respondê-las. Mas as respondeu. Com atenção e ironia refinada, típica de intelectuais.
Na entrevista, Marina me falou sobre o início de sua carreira e admitiu as influências do Jornalismo e da Publicidade - áreas em que atuou - em sua obra literária. "Com certeza o Jornalismo e a Publicidade me ensinaram a concisão", disse.
A concisão, aliás, tornou-se uma das características mais marcantes da escrita de Marina, evidenciada em seus minicontos. "Quem escreve condensado tem que aprender a abrir mão, a desfazer-se de tudo o que possa ser, minimamente, supérfluo", explicou, na ocasião. Marina Colasanti também falou de sua paixão pelo ofício: "Se eu não amasse o meu fazer não estaria, em 2004, escrevendo e produzindo com a mesma vibração, o mesmo entusiasmo que descobri em 1968".
Mas não é sobre a entrevista que quero falar neste texto... Quero falar sobre a capacidade que os (grandes) poetas têm de nos fazer crer que eram em nós que pensavam quando escreveram seus versos.
Preparando as perguntas, pesquisei sobre a escritora. E nas páginas da Internet encontrei um certo poema pelo qual, digamos, me apaixonei à primeira vista: o poema em que ela diz precisar que um barco atravesse o mar...
Eu também, Marina, preciso que um barco atravesse o mar comigo a bordo, que me leve para longe, para o outro lado do Atlàntico, que me tire desta cadeira e me faça esquecer este computador, nesta tarde quente e seca de Brasília. Lá, neste longe indefinido, estou certa, está a minha felicidade.
Uma amiga diz que insisto na terrível mania de achar que a felicidade não está onde estou. Mas ela não entende. O mar me chama. Sou sereia. Quero sentir o vento batendo em minhas escamas e o gosto de sal em minha boca. Como no poema: "Quero deitar nas ilhas e olhar de longe esse prédio, essa sala, essa mulher sentada diante do computador...". Quando isso acontecer, serei feliz.

PS: um detalhe: das duas filhas que quero ter, uma vai se chamar Marina. Por causa de Marina Colasanti. A outra, Alice, em homenagem a minha avó.

Preciso, para (Marina Colasanti)

Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrónica
e pensa no mar.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui