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Erotico-->O PAU DE AÇÚCAR -- 03/07/2004 - 08:49 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Peguei o jornal naquela manhã fria. Busquei no bolso traseiro, minhas amiguinhas derradeiras e as entreguei ao jornaleiro. Eu sentira, momentos antes, dúvidas terríveis: teria que escolher entre tomar um café, ali no Filé Miau, ou pagar pelas notícias. Manjei logo a manchete: "Vereadores aumentam seus próprios salários!"
O mundo estava desabando! Tupinambica das Linhas, literalmente trafegava pela contramão das ocorrências, e no sentido contrário ao fluxo do pensamento normal da humanidade.
De fato, as pessoas sensatas, do mundo inteiro, procuravam dedicar-se ao próximo, exercendo a filantropia com seus plenos poderes. Mas ali naquele túmulo do progresso, os ideais vicejavam em torno da misantropia.
Ah, Tupinambica das Linhas! Seus políticos descocados haveriam de manchar os mandatos populares recebidos, com atos contrários aos interesses dos próprios cidadãos eleitores? Aquele terrorismo legislativo, não seria motivado por insatisfação e revolta contra um estado de coisas invencível?
Eu pensava, naquele domingo, caminhando cabisbaixo pela praça, com o periódico na mão, em busca dum banco confortável, nas ocorrências que turbilhonavam a sociedade Tupinambiquence. De repente surgiu Shuma, o galhofeiro espevitado, que de tanto arreliar as autoridades, precisava agora circular as escondidas, devido ao justo receio de ser atropelado ou sofrer um "mal súbito" esquisito.
Ele caminhava dando passos curtos, mas num ritmo acelerado. Isso o fazia parear com qualquer grandalhão que usasse os largos, mas exercidos numa cadência lenta.
Shuma, era considerado, por seus amigos de vadiança, com relação aos noticiários, como "o mais por dentro do que azeitona de empada". Então, quando lhe falei daquela sacanagem dos vereadores ele respondeu logo, assim, na bucha: "Essa cidade esta sofrendo mais do que pé de cego e sovaco de aleijado. Não tem jeito com esses porqueiras"..
Ele pigarreou, e com o dedo médio da mão direita apontou um banco vago, com sarrafos inteiros. Dirigimo-nos até o assento. Passamos, durante o trajeto, por inúmeros deles quebrados e sujos.
Sentamo-nos, e quando ia começar meu discurso malhando a estultícia dos políticos, surgiu uma senhora baixota, bem balofa. Tinha os cabelos vermelhuscos e curtos.; o aro grosso dos seus óculos era preto. Ela transportava duas sacolas (uma em cada mão) de plástico branco.; estavam cheias com alimentos que acabara de comprar no supermercado do Abélio. Shuma apontou-a, com um gesto de cabeça, e disse num tom baixo e disfarçado: "Olha que coisinha mais ridícula! Não parece uma minhoca dentuça?"
Pude perceber um pouco de inveja naquele meu vizinho. Abri o jornal e concentrava-me na matéria sobre a safadeza legislativa, quando ele perorou apontando com o indicador direito: "Carvãozinho, não é pára-quedista, mas que desce bonito, desce!"
Olhei para ele com expressão de zanga a fim de conte-lo. De repente, apareceu um sujeito com uma bandeira enorme. Ela era branca e tinha um escudo amarelo gigantesco cruzado por um xis verde. Mas o que seria aquilo, afinal?
O último engraxate apareceu perguntando se eu não queria limpar meus sapatos. O garoto fungava e, com o indicador direito batia leve e continuamente no nariz, como se buscasse sua desobstrução.
Sem esperar por minha resposta sentou-se na caixa e, colocando meu pé direito sobre ela começou a escovar meu sapato. A fungação continuava.; era um cacoete horrível. O menino, a cada momento, jogava a escova pro alto e, rápido a trocava por uma flanelinha, tamborilando com ela, no meu calçado.
Igual a um gato angorá ressentido, Shuma olhou para o garotinho, buscou no bolso esquerdo da camisa um cigarro e falou: "Como ta ruim essa cidade!" Eu lhe pedi calma, paciência. Ele estava ficando velho e ranzinza. O guri não se apoquentou com a oposição do Shuma e continuou: "Sabe, seu Zé... deu agora no rádio que a prefeitura vai trocar as plantação que tem aqui, nas redondeza, por mamona. Será que é verdade?" Shuma, batendo a cinza com o indicador esquerdo, perguntou: "Mas plantação de quê, eles vão trocar?" O moleque entusiasmado por encontrar um pouco de simpatia naquele homem chato, embaraçou-se, mas continuou: "Como é que se chama aquelas coisa que tem prantado na redodeza? Ë... é... é..." O moleque perdia o fio da meada, quando então o Chuma, emendou sacudindo a braguilha: "É pau de açúcar!" O garotinho olhou de soslaio pro Chuma, fungou raivosamente o narigão vermelho, e rosnou: "Puta cara chato, sô!" Naquele momento, um helicóptero sobrevoou a praça.; o rasante causou um barulho infernal e vibrações arrepiantes.
Eu pensei que ali não haveria mesmo acordo. A incompatibilidade dos gênios faria a coisa desandar, a qualquer momento. Então pedi ao Chuma que fosse até a farmácia do Caju e comprasse vitamina C, sulfato ferroso e um complexo B. Ele deveria pedir ao dono que marcasse tudo na minha conta. Aí o Chuma falou: "A fruta está de secretaria nova. Ela tem cara de coelho veado. Mas, o ruim mesmo da menina, é a bunda larga e a canela fina".
Quando ele saiu, pensei comigo: "Esse sujeito tem uma cara de pau incrível.; é peroba mesmo. Não deveria considerar os percalços que lhe surgissem na vida, como embargos desanimadores e invencíveis. Em Tupinambica das Linhas tudo era possível. Se havia até passista coxo, de escola de samba campeã, por que não haveria, uma figura como essa, nos anais Tupinambiquenses?
Lembrei-me do fato dele dever tanto, e pra tanta gente, que objetivando dificultar as cobranças, arrancou os números identificadores da sua casa.
Ainda bem, que no ano vindouro, meus salários seriam majorados para R$5.781,34.

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