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Cronicas-->Uma pacata cidade não muito longe daqui -- 26/11/2004 - 21:35 (Maiesse Gramacho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma pacata cidade não muito longe daqui

Primoroso. Dogville, do diretor Lars Von Trier, merece lugar de honra na prateleira dos clássicos. Não pela estética diferente, em que praticamente não há cenário - apenas alguns objetos - e os atores encenam o roteiro no que mais parece ser um grande palco de teatro (vai ver é e eu estou desinformada). E nem porque é um filme "difícil", mas por associar inovações técnicas a um roteiro bem amarrado, à primeira vista simples, mas que vai se revelando perturbador.
Perturbador por quê? Porque a película trata do comportamento, do caráter humano. Os que ainda não viram o filme não precisam se preocupar, não vou contar a história, o que acontece tim-tim por tim-tim. (Aproveito para explicar que o título que dei a esta crónica é o subtítulo do filme). Só vou dar algumas pinceladas, afinal este texto não é sobre o filme e sim sobre o que podemos apreender dele.
Dogville trata da arrogància, da vaidade, da dissimulação, da falta de ética e de lealdade dos homens (espécie, que fique claro). Mas também fala do contrário: de ética, boa-vontade, lealdade, misericórdia, compaixão e amor. Numa sacada de mestre, usando pouquíssimos recursos cênicos, Von Trier consegue mesclar todas essas coisas. Ele "arranca" de Nicole Kidman sua melhor interpretação. Não sei se ela recebeu algum prêmio pelo papel da "doce" Grace (graça, em português), mas merecia.
Depois que o filme terminou, fiquei com dor de cabeça. Acho que senti em mim as dores das penas a que Grace foi submetida. E invejei-lhe a oportunidade de acertar as contas com seus malfeitores. Mesmo com a cabeça doendo, se Dogville não fosse tão longo (171 minutos!) assistiria de novo, em seguida. Há trechos antológicos, que merecem ficar gravados na memória. Afinal, cedo ou tarde podemos nos deparar com situações semelhantes, guardadas as devidas proporções, obviamente.
Dogville comprova a tese de que o homem é o lobo do homem, de que o homem é, como diz minha vó, "o bicho mais ruim desse mundo". E que muitas convicções e certezas caem por terra quando se percebe que se pode tirar vantagem de algo ou, ao contrário, sair prejudicado. Até o amor sucumbe ao medo, à vaidade, à ambição e, por que não?, à arrogància. O filme também mostra que até mesmo num pequeno vilarejo - ou justamente por isso, por ser um lugar onde a vida alheia é atração - a maioria das pessoas vive de aparências, são infelizes, insatisfeitas e solitárias.
Eis que, então, surge Grace! Num primeiro momento ela se torna alvo da curiosidade e da benevolência dos moradores de Dogville. Mais tarde, entretanto, ela passa a ser vista quase como um objeto. E, para com ele, os moradores vão - um a um - revelando suas mais odiosas facetas. Para piorar, Grace é acusada de ser, ela mesma, a culpada por plantar a discórdia no lugarejo, mesmo sendo a vítima de todo tipo de abuso e a mais honesta, misericordiosa e atenciosa das criaturas que já pisaram os pés por aquelas bandas. Até quem Grace confiava - o sonhador e prestativo Tom -, se revela ambicioso e "farinha do mesmo saco".
Ok, ok. Alguns podem argumentar que esta é uma visão pessimista do ser humano, blá, blá, blá. Não, não é. A estes sugiro que vejam o filme. E que prestem atenção ao último capítulo (sim, o filme é dividido em capítulos). E, se for o caso, voltamos a falar sobre ele.

PS: Outra boa sugestão - que aborda o mesmo tema, as fraquezas e as virtudes do caráter humano, só que de maneira mais delicada, digamos assim - é o iraniano A Cor do Paraíso.
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