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Cronicas-->Na cama do gato -- 26/11/2004 - 21:37 (Maiesse Gramacho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na cama do gato

Uma das primeiras lições que recebi na faculdade de Antropologia é a de que o antropólogo deve - para compreender o outro e suas práticas - sempre "transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico". Com isso em mente e com uma boa dose de curiosidade, entrei na livraria e comprei o livro que namorei por alguns minutos na vitrine: Cama de Gato, de Miguel Paiva. A intenção, ao adquirir o livro, era ler o que o "gatão de meia-idade", personagem criado por Paiva já há alguns anos, tinha pra "contar". Afinal, pensei, talvez eu consiga entender melhor os homens se entender, como eles pensam, como percebem o mundo e, principalmente, como nos "enxergam". Elementar, meu caro Watson...
Valeu a pena. O livro é muito engraçado e descreve situações hilárias "vividas" pelo "gatão" em seus bons anos de "estrada". Não gosto de estereótipos, mas os utilizados por Paiva para descrever os vários tipos femininos com quem o "gatão" dividiu a cama são bastante "reais" e, apesar de umas pitadas de machismo (mas, afinal, que homem não é, lá no fundo, um pouquinho machista?), conseguiram me fazer rir. E muito. Isto porque, como eu disse, são "tipos" reais e a carapuça me serviu em vários momentos. Por exemplo, quando o "gatão" fala da(s) mulher(es) que odeia(m) ar condicionado. Eu sou assim, apesar de nunca ter tido nenhum problema de ordem amorosa ou sexual por causa do tal eletrodoméstico. (By the way, gostaria de saber por que o ar condicionado tem que estar sempre na potência máxima dentro das salas de cinemas. É um crime para quem tem sinusite, como eu!).
Também achei muito interessante quando ele descreve, em breves e certeiras palavras, o que chama de "resumo antropológico das relações homem-mulher": Mulheres querem carinho, homens querem sexo. Quando as mulheres querem sexo, os homens querem ver futebol na TV. É bem por aí mesmo... Aliás, posso dizer que meu objetivo ao comprar a obra foi alcançado. Acho que consegui me aproximar do universo masculino e entender a little bit more como eles, gatões de meia-idade ou não, olham para a gente, gatonas de meia-idade ou não.
O livro é dividido em três partes: Dormindo Junto, Acordando Junto e Dormindo em Lugares Estranhos. Selecionei alguns trechos da primeira parte, para que vocês, meus queridos leitores, sintam o "gostinho". Confiram:

Dormindo Junto: A Carente
Dizem que hoje em dia os homens são muito carentes, que estão perdidos diante das transformações que a emancipação feminina causou e, com isso, passaram a exigir muito das mulheres. É aquela velha história do bebê que tem medo de perder a mãe que o alimenta e então a provoca, para ver até que ponto ela é capaz de "abandoná-lo". Só que foram as mulheres que inventaram a carência, principalmente a afetiva. Desde priscas eras que ouvimos vozes femininas murmurando no ouvido de seus parceiros "Amor, quero carinho". É o mote feminino. Mulheres querem carinho, homens querem sexo. Quando as mulheres querem sexo, os homens querem ver futebol na TV. Esse é o resumo antropológico das relações homem-mulher.
Ao contrário do homem, a mulher é muito generosa com o parceiro. Ela se veste para o macho, faz comida para o macho, cuida da casa para o macho, dá para o macho. Às vezes recebe em troca, mas normalmente é por acaso. Daí as mulheres se sentirem injustiçadas em relação a seus maridos, que não pensam da mesma maneira. Se você começa a ver o outro à sua maneira imediatamente vem a cobrança, e na proporão das expectativas.
Mulher quer atenção - e uma jóia de vez em quando. Mesmo na hora do sexo, ela quer o parceiro olhando no olho, dizendo coisas no ouvido, elogiando seu corpo e até mesmo sua performance. Ou seja: dá o maior trabalho. Estamos ali, tão empenhados em não falhar em relação a nós mesmos, que fica difícil satisfazer as carências da parceira.
Adélia era muito carente. Dormia nos meus braços como um bebê faminto no colo da mãe provedora. Quando adormecia, eu não conseguia mais me mexer com medo de acordá-la. Ela depositava em mim todas as esperanças em relação ao gênero masculino. Olhava para mim e sorvia minhas palavras como se eu carregasse a verdade e a sabedoria. No início aquilo me envaidecia, mas depois de um tempo começou a me assustar. Sabe lá o que é dormir com alguém que acha que você é uma mistura de Rodrigo Santoro, Mel Gibson, Gandhi e Zeca Pagodinho? É muita carga.
Entre deixar a vida me levar e proporcionar para Adélia uma vida de princesa, não há dúvidas de qual caminho escolhi. Depois de algumas noites em que adormeci com torcicolo, desvio na lombar e braços e mãos dormentes para não assustar Adélia, cheguei à conclusão de que, se quisesse outra filha, seria melhor adotar.

Interessante, não?!
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