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Contos-->Mamangava Uncle -- 22/06/2007 - 18:21 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mamangava Uncle


Fernando Zocca


Naquela manhã fria do início de inverno, Tupinambicas das Linhas amanheceu com uma névoa tão espessa que fez Van Grogue pensar nos perigos do trafego sem os cuidados devidos.
Àqueles que diziam estar ele gagá, Van engatando uma terceira no seu Corcel II descorado, lembrou-se do secretário municipal Mamangava Uncle do governo de Jarbas o verme, cabeça de sanguessuga.
Para quem não conhecia, o testudo empossara o professor Mamangava no cargo de secretário dos transeuntes cuja função era a de ordenar o fluxo de pedestres nas ruas centrais da cidade.
Na sua primeira entrevista coletiva, transmitida ao vivo pela rádio, Mamangava confundiu ao seu com Alceu e isso serviu de lenitivo ao Grogue que se sentia abalado pelas impertinências dos adversários que já o consideravam caduco.
Van dirigia seu calhambeque pelas ruas quase desertas da cidade; seus vidros estavam embaçados, e a todo momento ele esfregava as mãos no pára-brisa para poder enxergar. Era muito cedo e ele teve que se submeter ao sacrifício de acordar naquele horário porque fora convidado a fazer uma entrevista na sede de uma empresa provável empregadora.
Para espantar o sono ele ligou o rádio e pôde ouvir o locutor que anunciava: “Nesse domingo, no estádio municipal Barão da Colina Preta acontecerá a partida final do campeonato varzeano da cidade. As 16h o Esporte Clube 7,5 de Novembro enfrentará o Esporte Clube Beiço Júnior que vem fazendo a melhor campanha. O Beiço Júnior não perdeu nenhuma partida nesse campeonato e tem condições de levar o caneco. Se vencer, o time aguerrido do Beiço Júnior será o dono da cidade.”
Van Grogue chegava ao seu destino e disse em voz alta, fazendo um comentário sobre o adversário do 7,5 de Novembro:
- Beiço de porco, isso sim!
Grogue parou seu galipão no estacionamento defronte a empresa que o convidara para entrevista.O local era amplo, bem varrido e tinha muitas árvores frondosas. Havia dois carros parados. Um vigia, sentado ao longe, observava os movimentos na área.
Van desceu do Corcel II arruinado e observou uma gorda varrendo a calçada no outro lado da rua. Ele notou que conforme as pessoas passavam a mulher bunduda-barriguda sincronizava os golpes, que dava no chão com seu instrumento, aos passos do caminhante.
“Isso só pode ser coisa da seita maligna do pavão desorientado”, pensou ele girando a chave na fechadura.
Então, certificando-se que as portas e vidros da sua propriedade estavam todas fechadas, pôs-se o candidato a andar em direção a porta de vidro que precedia um salão enorme bem ventilado e limpo. Entrou no elevador e com sacudidelas iniciou a ascensão.
Quando desceu Van perguntou pelo gabinete do gerente da indústria. Depois de informado, dirigiu-se à sala onde o recebeu uma senhorita atenciosa.
Dez minutos de espera, sentado numa poltrona de couro, foi suficiente para Grogue (que nunca trabalhara na vida) vislumbrar a possibilidade concreta da existência daquele tipo de milagre.
Com as mãos suadas ele se perguntava: “Será o Benedito? A essa altura do campeonato, me aparece assim, sem mais nem menos, um trampo, com carteira assinada e tudo, salário no fim do mês, férias, FGTS, INSS, convênio médico, cesta básica e vale transporte? Mas não é possível! Deve ser aprontada!”
Tirando-o do devaneio a moça chamou-o para a realidade:
- Seu Grogue pode entrar.
Van ajeitou a gravata, pigarreou e percebendo os efeitos de um suspiro fundo iniciou a caminhada como se começasse a marcha num batalhão.
Ele quase teve um piripaque quando viu quem o esperava. Era Mamangava Uncle, o empresário, que nas horas menos intensas, funcionava também como secretário do cabeça de chupa-sangue.
Mamangava Uncle, atrás da mesa, lembrava um general das SS nazista. Ele estava de pé; seus lábios finos tinham as bordas voltadas para baixo e se aquilo não demonstrasse rigor ou sisudez de comandante de tropa, Grogue não saberia e nem poderia defini-lo de outro jeito.
Então Mamangava pedindo ao candidato que se sentasse, falou:
- Precisamos de uma pessoa com o seu perfil, com suas qualidades. Porém sabemos que o senhor faz oposição aberta contra o chefe do executivo. Se essa sua disposição continuar é provável que sua temporada no emprego não seja muito longa....
A peroração prosseguiu por meia hora. No final, depois da despedida, quando caminhava no estacionamento da empresa, Grogue viu-se envolvido numa dúvida cruel: se o anelídeo lhe arrumasse um emprego cessariam as bodocadas?



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