O dia amanheceu com a luminosidade esperada para a estação. Esplendoroso, como ontem, quando dispus meus ouvidos para uma escuta surpreendente.
Permaneci sob forte impacto. Sequer consegui olhar em direção ao sol, como fizera na manhã anterior.
A dor que agora lapidava vincos profundos em minha face impediu-me de revenciá-lo, como de costume, para receber seu calor. Era possível perceber cada vinco fazer seu caminho.
O tempo não respeitou meu estado de espírito e já se fazia tarde, quando ensimesmada em meu quarto, voltei os olhos para a fresta da janela.
O tom purpúreo alastrava-se pelo céu. Um presente que sempre absorvi com os olhos do coração.
Cada dia, um novo jogo de cores, uma nova visão, um sentimento impar que insurgia.
Em especial, a visão daquela tarde começou a embrenhar-se pelo interior de minha alma e paulatinamente aplacou meu desassossego.
Uma benção, que por vezes, somente a natureza é capaz de providenciar em meio a trama do silêncio.
Dois toques trouxeram-me de volta à realidade.
Meu filho estava ali, em busca de uma resposta muda.
Como dialogar sobre um tema tão delicado?
Até então, nunca havia percebido qualquer mudança na relação de meu filho com Roberto, seu melhor amigo. Amigo desde a mais tenra idade.
Fitei-o com os olhos úmidos. O único ser que descendia de mim estava de partida.
Naquele momento, decidi dispor da amplidão de meu coração e enlacei-o como quando criança. Ignorei os motivos da razão que me impeliam para um movimento contrário.
Senti-me aliviada por ter sido capaz de vencê-la. O tempo, com certeza, daria conta de solidificar os sentimentos ali explicitados com uma força incomum.
Naquele átimo, ainda pude vislumbrar a delicadeza da despedida do sol enquanto acenava para os dois e o carro distanciava-se mais e mais... do meu campo de visão.