TRÍDUO MOMESCO
I
Pleno domingo de Carnaval em New York
Um silêncio de fazer inveja a qualquer surdo
Sem bumbos, sem pandeiros, sem repiques,
sem cuícas, sem surdos nem tamborins
Longe do barulho, dos gritos, das buzinas,
dos latidos dos cachorros, dos choros de crianças,
dos trinados dos trios elétricos
Que doce vida!
Silêncio que faz bem a alma
Até a música do rádio desliguei para
poder pensar, escrever e arrumar papéis...
Acabei de ver na televisão (canal americano)
o filme Tenda dos Milagres,
de Nelson Pereira dos Santos,
baseado no livro homônimo de Jorge Amado
Todo em português com legenda em inglês
(Os americanos se dão a esses luxos!...)
Tudo que vi já sabia de cor.;
já tinha vivido na infância distante
Nem senti saudades da Bahia, que
deve estar uma loucura hoje e nos próximos dias,
festejando 450 anos de sua fundação
Quero estar longe dos folguedos
A minha idade não permite mais,
ou talvez, hoje, não quero me permitir...
II
Segunda-feira de Carnaval
O silêncio continua em Manhattan
É feriado: President’s Day -
Dia de todos os presidentes
puritanos ou não.; democratas
e republicanos comemorando juntos
Dos que mentiram e desmentiram
Que fizeram e saíram ilesos
Armaram guerras, exploraram o mundo
e fizeram deste país a potência maior
Visto a fantasia de poeta:
Leio Pessoa, Camões, Dante
e tantos poetas dantes
Ando pelos círculos do Inferno
Escrevo versos!!!
Estou longe de Veneza e Nice,
de Barranquilla e Florianópolis,
Colônia, Cidade do México e Viena.;
Trinidad e Tobago e Nova Orleans
Estou longe do Rio de Janeiro
onde o entrudo come solto
III
Terça-feira Gorda. Último dia
Tudo em derredor volta ao normal,
exceto para os lugares citados
Aqui nem parece que há festa
no resto do mundo - só na televisão
Farra hoje é o santo trabalho
Escrevo contos e versos,
conto dinheiro dos outros
Ninguém me manda mensagens
Meu telefone não toca - tudo é silêncio
Silêncio é música doce
que muita gente não entende
É hoje só, amanhã não tem mais
E o Carnaval dos meus dias
é hoje e outros tantos depois
Talvez até ligue o rádio,
quero escutar uma música,
pois nestes dias passados,
no silêncio dos carnavais,
imaginem, lembrei-me até do Latim:
“Memento, homo, quia pulvis es
et in pulverem reverteris”
© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
(in Revista Alternativa - Boston-MA/USA - Março 2000)
http://tanajura.cjb.net
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