A BALEIA BRANCA E SUAS NADADEIRAS IMÓVEIS
Fernando Zocca
Jarbas, o prefeito caquético e testudo, recém eleito de Tupinambicas das Linhas acabara, naquela noite, de assistir a Odete Lara e seu desempenho, em A Rainha Diaba.
Depois de pegar no sono, viu-se numa praia onde uma baleia branca, ainda viva, fazia movimentos limitados pela adiposidade das suas nadadeiras. Passou a imaginar o sufoco do bicho: se fosse gente a pobrezinha teria dificuldades imensas para colocar os sapatos. Precisaria de ajuda especializada se quisesse cortar as unhas dos pés. Será que ela alcançaria, com seus braços curtos, o bumbum peludo, quando estivesse debaixo do chuveiro?
Jarbas sabia ser a obesidade um castigo decorrente dos dois pecados mais infames: a gula e a preguiça. Como se sentiria, o nosso prefeito caquético e testudo, se com aquela barriga imensa, tivesse de manter relações sexuais com alguém?
E as modelos anoréxicas, não ririam à socapa, se se defrontassem com o bilau reduzido e oculto por aquelas camadas grossas de banha? Outra pergunta percorreu o intelecto do nosso prefeito: estaria sujeito ao homicídio, aquele que tivesse a coragem de aproximar-se do fofo e dizer, assim na bucha "baleia poia, pudim imenso de banha, se fosses rolha, serias tu as de poço?"
Jarbas, pensando nas dificuldades dos trabalhadores, durante o período da manhã, quando tomavam seus ónibus, que os levariam aos seus trabalhos, acrescentou outra à s da baleia branca de nadadeiras imóveis: se fosse operária, aquele ajuntamento de banha, sentiria ainda o desconforto de entalar nas roletas, sob o riso de mofa dos circundantes!
Se humano fosse, aquele mamífero largo, com certeza, não caberia na poltrona dos cinemas, erroneamente projetadas aos mais normais.
A baleia, formada por aglomerados compactos de células adiposas, usaria, se pessoa fosse, mais do que dois rolos de papel higiênico em cada incursão que faria ao W.C., ou a despesa seria ainda mais inclemente e cruel?
Se aquela baleia, amontoado de banha, tivesse de manter relações sexuais, qual seria sua posição preferida, sem que expusesse sua parceira ao perigo iminente, de morte por esmagamento?
As nadadeiras adiposas, do ser imenso, travavam-lhe inapelavelmente os movimentos. O máximo que poderia fazer era riscos na areia. Em determinado momento surgiram homens com guindastes e enlaçando aquele corpanzil compacto, tentaram remove-la a um local mais propício. A luta árdua não deixou de causar, nos bombeiros, o pensamento de que seria impossível retira-la dali, ainda com vida.
Se humano fosse, aquele bicho teria de passar por tratamentos infalíveis: redução drástica do tamanho do estómago e lipoaspiração. Só assim estaria de volta ao mundo dos normais.
Fernando Zocca é escritor, advogado e jornalista
Leia também da série Finalmente Tupinambica das Linhas se Ferrou: TARJAS FÚNEBRES, TARJAS FÚNEBRES II, A PACHEQUICE, ABRE TEUS OLHOS, O COLARINHO BRANCO DO JARBAS, ZÉ TAPINHA, JARBAS, O NÓ CEGO, A LOUCURA COLETIVA, O RELÓGIO e O CORAÇÃO.
Breve: O CHUVEIRINHO.
|
