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Contos-->Queimando a lata -- 13/07/2007 - 12:45 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Queimando a lata

Fernando Zocca

Van Grogue sentou-se para ler mais um dos inúmeros livros de contos policiais que comprara no Sebo supimpa da “mais melhor de boa” cidade interiorana do Estado de São Tupinambos, a conhecida Tupinambicas das Linhas.
Por estar o tempo muito frio, agasalhou ele os pés, colocou na cabeça um gorro de lã cinza, cobriu-se com o cobertor laranja e, para hidratar a economia ingeriu um copázio de chá morno.
Nas primeiras páginas vermelhas, do livro de capa preta, havia já um cadáver. Recostado num daqueles almofadões feitos com espuma, Grogue sentiu medo. Pensou em parar com a leitura, mas não tinha mais nada para fazer, por isso resolveu seguir em frente.
A taxa de epinefrina secretada pelas supra-renais baixou, rareando sua concentração no sangue. Grogue concluiu isso ao perceber uma certa bradicardia que se instalava.
Na quinta página Van achou que a serotonina produzida no estômago e cérebro tomava conta do seu corpo. Essa conclusão foi possível pelos sinais de sono que lhe envolviam.
Aí então Grogue viu aquele menino caminhando sozinho por um terreno baldio. Eram mais ou menos dez horas da manhã; havia muito mato, lixo e a emanação do mau cheiro incomodava.
O garotinho caminhava pé ante pé e seguia distraído adentrando aquele mataréu fechado; ele pôde avistar logo a sua frente uma espécie de cabana, feita com galhos, pedaços de papelão, restos de paus e tábuas.
O menino aproximou-se (ele deveria ter uns dez anos, mais ou menos), e olhando barraca adentro viu muito lixo acumulado ali. Havia um amontoado rústico de tijolos dispostos de forma a favorecer a feitura de uma fogueira de galhos aquecedora de uma lata continente de arroz e feijão. A fumaça era densa e o cheiro de mato queimado impregnava-lhe as narinas.
Dentro do casebre o garoto sentiu uma necessidade premente de fazer xixi. Mas aquele fogo e fumaça poderiam se propagar e queimar todas as coisas ao redor. Foi por isso que ele, de inopino, sacou o pipi e iniciou o apagamento das chamas perigosas. Alguém mais desavisado poderia perguntar, ao ver a cena: “Mas isso é jeito de treinar para ser bombeiro?”.
Acontece que o jorro do liquido excretado foi interrompido por um ruído forte e indicativo de que chegava alguém. A pessoa se aproximava muito rápido.
Apesar do cabo de vassoura, que usava como bengala, atrapalhar a celeridade no deslocamento, o dono da choça chegou com força botando o rosto na entrada e flagrando o mijão com a minhoca na mão.
Com uma taquicardia produzida pela descarga violenta de epinefrina na corrente sanguínea, a contrição dos esfíncteres uretral e anal, fechamento dos poros e a glote pode o moleque sair em disparada pela direita do velho indigente, não sem antes tentar um drible pela esquerda e derrubar com um chute violento de esquerda a lata queimada.
O morador do trecho, com os olhos esbugalhados soltou um grito de guerra e tentando esbordoar o pseudo saci-pererê com seu tacape, só conseguiu emitir um som gutural que fez o menino correr ainda mais.
O safado quando percebeu estar longe daquele ente perigoso olhou para trás, notando haver, na varanda da casa construída depois do barraco (ao fundo), um homem que ao vê-lo a fitar, abaixou a cabeça.
Nesse momento uma mosca zunideira entrou pela janela semi-aberta parando sobre a narina direita do Grogue. O prurido fez o leitor adormecido acordar muito irritado.
Como se lhe tirasse um sarro humilhante a mosca sacana esvoaçava dando rasantes sobre aquele cocuruto semidestelhado.
Irado Van tentou derrubá-la desferindo golpes no ar com o livro; mas parou logo ante o perigo de ver concretizada a possibilidade do espalhamento das páginas que voariam.
Com raiva Grogue fechou as janelas da sala. A mosca estava presa, pousada sobre um cone de papelão; era coisa ruim, transmissora de doenças e causava prejuízos à saúde das pessoas de bem. Deveria ficar reclusa e sofrer nas escamas o mesmo mal que fazia aos demais. Sem essa de roubar a sorte dos outros.
Pensando assim Van deitou-se puxando sobre a orelha direita o cobertor laranja, sentindo que teria mais um sono com a consciência tranqüila. Quando acordasse daria uma chinelada naquela malvada.

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