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Artigos-->Razão não é "muntu" (O que é filosofia africana?) -- 27/03/2001 - 20:53 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mas, afinal, existe filosofia africana?

Um estudo de Ulrich Lölke.



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Resenha de Andreas Eckert

Trad.: zé pedro antunes

[agradeço a leitura e as sugestões do Prof. Dr. Newton Ramos, que também é tradutor do alemão]

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Existe filosofia africana? Na primavera de 1994, a revista Merkur submetia à nossa leitura uma opinião em contrário. Com uma arrogância não incomum nos círculos universitários alemães em face da produção científica que não seja européia ou norte-americana, o jornalista e filósofo Willy Hochkeppel despudoradamente sentenciava: "Mas do ponto de vista do conteúdo, da substância, não há nada à vista em termos de filosofia africana, mesmo que ampliássemos o conceito de filosofia, já maleável, ao aleatório." Esta citação evidencia-se, no pequeno grupo de autores, que, no espaço lingüístico alemão, se esforçam no sentido da transmissão de debates de origem africana ou sobre o continente africano, como exemplo da ignorância que caracteriza o pensamento dominante.

O filósofo Ulrich Lölke coloca o veredicto de Hochkeppel no início de sua tese de doutorado. Também ele quer se inscrever contra uma postura que situa a África como “representante de uma diferença radical, do inteiramente outro”. Com exagero, ele caracteriza esta atitude como “provincianização do pensamento europeu em sua inquebrantável insistência na auto-referencialidade", em caminhar em círculos ao redor do próprio umbigo. Trata-se, para ele, de resgatar algumas perspectivas que os filósofos africanos desenvolveram na confrontação com a história intelectual européia. No caso, produziu-se um livro original, infelizmente de difícil acesso aos não-iniciados. A inúmeras idéias inteligentes, o autor confere uma embalagem de formulações confusas e, por vezes, de frases que parecem não querer acabar mais.

De acordo com quais critérios um texto filosófico pode ser etiquetado como “africano”? Lölke cita a definição pragmática de Paulin Hountondji: "Como filosofia africana, eu denomino um conjunto de textos, melhor dizendo, aquele conjunto de textos que foram concebidos por africanos e que são qualificados como filosóficos por seus próprios autores." Como acertadamente expõe Lölke, com esse recorte o filósofo de Berlim passa ao largo, no entanto, de algumas questões centrais. Como, por exemplo, “O que é um texto?” ou "O que pode ser legitimamente descrito como ‘filosófico’?”. Mas ele próprio busca um pouco esse mesmo caminho da facilidade, ao escrever que um consenso acerca do problema seria impossível e até mesmo desnecessário.

De acordo com Lölke, o discurso filosófico na África deve ser reduzido como reação ao colonialismo. Em primeiro lugar e com riqueza de detalhes, tenta defender a tese pela vertente da ‘négritude’. Esta corrente literário-política surgiu em Paris nos anos 30. Léopold Sédar Senghor e Aimé Césaire estavam, como se sabe, entre os seus parteiros decisivos. Mas foi Jean-Paul Sartre, que, em seu ensaio clássico “O Orfeu negro”, analisou com ênfase a ‘négritude’ e, como observa Lölke não sem ironia, como que lhe conferiu também a benção de ser parte do espírito universal. Sartre construiu a ‘négritude’ como um “racismo anti-racista”, cuja tarefa seria “tomar consciência de sua raça”. Contrariamente a isso, Senghor, cujo conceito filosófico, como bem o demonstra Lölke, nutria-se de muitas fontes, colocou a tese, extremamente controvertida, de os africanos apropriarem-se do universo não pela razão, como os europeus, mas pelas emoções.

Paralelamente à ‘négritude’, surgiu um debate mais tarde descrito como etno-filosofia, que está intimamente vinculado à obra do missionário flamengo Placide Tempel. Este afirmara que a “energia vital” (muntu) seria o princípio básico do pensar e agir de todo africano. A crítica a estas duas direções desembocou em variadas correntes filosóficas, ora rastreadas por Lölke. Filósofos ocidentais, de acordo com a sua formulação, teriam de colocar em questão a sua aspiração pela universalidade da filosofia, que é uma aspiração própria dos que se julgam os seus únicos representantes. Ninguém o formulou melhor do que Kwame Anthony Appiah, filósofo de descendência britânico-ganesa, docente em Harvard: “A questão sobre o que significa ser moderno deveria ser conjuntamente colocada por africanos e ocidentais. Minha tese é de que ninguém haverá de entender o que é a modernidade, sem antes nos compreendermos uns aos outros.”



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Ulrich Lölke: Kritische Traditionen Afrika. Philosophie als Ort der Dekolonisation [Tradições Críticas África. Filosofia como lugar da descolonização]; IKO/Verlag für Interkulturelle Kommunikation, Frankfurt 2001; 250 S., 39,80 DM



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