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Contos-->TAL QUAL CÃO SEM DONO -- 14/08/2007 - 17:01 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TAL QUAL CÃO SEM DONO

Heleida Nobrega, 2007



"O relógio assinalava 21 horas e a igreja batia os sinos exatamente no horário em que os caminhões de lixo costumavam fazer a coleta naquela rua. Todos aqueles sons me deixavam confuso.

Não me sentia bem, suava de modo estranho, nunca igual ao suor debaixo do sol na minha terra. O chão gelado me prendia e me sugava para um mundo escuro. Por vezes essa sensação ainda me assombrava.

Diante da platéia que me intimidava, todos ouviram em silêncio as palavras que tinha para dizer-lhes. Eu havia sido alcoólatra por muito tempo e, penosamente, havia conseguido a recuperação. Mal pude acompanhar o crescimento dos meus cinco filhos.

Entendo agora, depois de tanta penúria, que o lugar de herói sempre esteve com minha mulher e não comigo como julguei por muito tempo, pelo simples fato de ter vindo para a cidade grande desbravar sertão no asfalto.

Foi quando chegaram os netos que me sobressaltei: o tempo havia se escoado rápido demais.

Neste momento, sinto-me aliviado por saber que faltam poucos cacos para o redesenho do mosaico da minha vida... e que poderei finalmente voltar para casa, para minhas raízes, para sujar de novo as mãos de terra na lida do dia a dia pobre e sadio.

Hoje sou outro homem: eis o motivo pelo qual conto minha história, mesmo com as poucas palavras que minha cabeça produz. Ela pode servir de incentivo para muitos.

Hoje sou o que logo, logo... qualquer um de vocês poderá ser: um homem que se levantou, que está de pé como os coqueiros de minha terra. E não tem vento que a derrube novamente. Até hoje nunca vi nenhum deles pender pro chão, não senhor!"

A platéia, quase todos alcoólatras, alguns, acompanhados de seus familiares, aplaudiu Severino.

Enquanto o escutava, no fundo da sala, pensava que seu pequeno discurso para falar da dureza do seu caminho pôde demonstrar com veemência, sua esperança no amanhã.

Muitos largados que ainda transitavam por aí, alguns, conhecidos de Severino, tentaram se espelhar na sua história. Tiveram apoio semelhante ao que ele havia recebido há tempos atrás, de um anjo desconhecido de pele negra.

Sei que até hoje ele tenta identificá-lo pelas redondezas enquanto empurra seu carrinho de limpeza pelas ruas para juntar os últimos ‘trocos’ que lhe permitirão a viagem de volta.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, uma sombra de asas largas recolhia um outro Severino que havia chegado na cidade grande para ganhar a vida e que também tinha perdido grande parte dela se arrastando nas calçadas, tal qual cão sem dono.

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