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Poesias-->ALECRIM (Maria José Rijo) -- 13/06/2008 - 21:28 (Heleida Nobrega Metello) |
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Foi uma cantiga, que me disse a mim,
que a flor do mato era o alecrim.
O alecrim é uma planta popular.
Cria-se sem cuidados em terrenos pobres,
como gente sem linhagem.
Não impõe distância a ninguém como as
altivas e nobres flores de estirpe.
Do alecrim até se devia pensar
em sentido colectivo -
como quando se diz: - Povo!
A flor do alecrim é azul anilada, miúda, franzinita, mas doce na sua modéstia.
As abelhas libam-na com gula
e as pessoas cheiram-na com gosto.
Cresce nos campos, vive nos quintais e não desdenha mesmo como sebe,
viver em jardins mas... tem tradições !
Cumpre ritos e crenças.
É cinza em Quarta – Feira de Cinzas!
Vai à missa em Domingo de Ramos.
Vai moiro – volta bento.
É oferecido para lapela de padrinho,
decote de madrinha...
onde fica a murchar e a recordar
obrigações de amêndoas
para Quinta-feira Santa.
... “Aqui está este raminho!
Verde é e verde cheira...
e fica preso para Quinta-Feira!...”
Seca esquecido. Vai para o lixo
ou para o fundo da gaveta
e dele nos apercebemos pelo
discreto e vago perfume,
como de uma reminiscência.
- É tempero !
- vai ao forno no assado
(há quem aprecie) mas, calha a
preceito no cozinhado
do coelho manso a que corta
a insipidez da carne doce e branca !
- Faz chá de beleza para cabelos fracos. Recompõe roupas pretas já
gastas e ruças pelo uso.
- Entra nas mézinhas das bruxas
quando fazem benzeduras!
“Eu te coso, por carne quebrada e nervo torto!
Melhor cose a Virgem do que eu coso.
A Virgem cose por vão - eu coso pelo osso
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Padre Nosso e Avé Maria!
E... a velha a coser no novelo
com a agulha sem linha e o alecrim
inocente - a arder! - a arder!
a arder!... - a consumir-se ao
som das loucas ladainhas .
É uma panaceia !
Aviva a memória!
- conserva a juventude !
E... nas trovoadas’!
- Que é do alecrim ?
- o alecrim benzido ?
- onde para ele ?
- onde está metido ?
p’ra queimar um pouco
que afasta os trovões !
Ai, Santa Barbara
– nos acuda
Ai que aflições!
Barbara bendita
- que no céu está escrita
e na terra assinalada!
Superstição e fé de mãos dadas.
Verdades e lendas com o
mesmo perfume: - alecrim!
- Ai alecrim, alecrim!
Também te cantam !
- Cantam-te aos molhos mas logo te acusam:
“Por causa de ti choram os meus olhos”
És pobre e modesto! - logo te culpam !
- Então como querias?
- mas tu, alecrim - porque não desmentes?
Ai alecrim! Alecrim!
Não fora a fogueira, o fumo
e toda a gente veria
- se isto não fora assim
como me ardem os olhos
como minhas faces queimam
de chorar triste por mim !
Ai alecrim! Alecrim!
Das cinzas que restam - do tempo passado
o vento que sopra - espalha sem dó
tudo o que encontra do fogo apagado
e no chão varrido - na mancha sem pó
Só baila a saudade
Só, saudade, só !
Maria José Rijo
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