A vida lá era diferente, falou olhando para a lua.
O corpo não tinha peso e planava mudando de direção conforme o movimento dos braços e das pernas.
Pelo fato do corpo planar, a cabeça não se fixava e os pensamentos não tinham parada, iam longe, traziam novas hipóteses e conclusões a cada momento.
As emoções, tornavam-se um turbilhão, como tempestade sem rumo certo, maremoto sem aviso.
Era estranha a vida na lua.
Impossível fazer planos, impossível tomar decisões. Ninguém saberia em que lugar do satélite planaria o corpo em determinado momento.
Não havia rotina, horário, método, roteiro.
De fome não se ouvia falar. Quanto ao sono, nunca se tinha certeza de estar dormindo ou acordado.
Era solitária a vida na lua.
Não se via ninguém. Até parecia que cada corpo ficava cercado de um grande campo magnético que não deixava nada se aproximar. Num repente via-se uma sombra que poderia ser humana, passar ao largo. Um som longe longe...
Mas era difícil falar, na lua. As palavras se dividiam em letras que se espalhavam, perdiam o significado e planavam, como os corpos.
A vida na lua apenas era.
Sem realmente ser.
Estivera lá não se sabe quando e seria impossível determinar quanto tempo ficara.
Depois disso, passou a ser considerado estranho por todos com quem convivia. Queriam que explicasse a lua, mas ele não sabia. Queriam certezas que ele não tinha, queriam uma lógica que não existia.
E então, porque na lua, aprendera a não ser, passou a viver na vida sem ser.
E seguiu não sendo.
Até que a terra tornou-se a lua.
E então, nada mais era.
Tita Ancona Lopez
17/12/07
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