Não tinha coragem de se mexer. Quem seria?
Escutou o barulho de passos e pensou: ele está chegando.
A porta se abriu e uma rajada de vento muito forte invadiu o quarto, levantando os lençóis.
Segurou com força o travesseiro e ficou ali, na cama, enquanto voavam o livro que estava lendo, a roupa da cadeira, o abat-jour, os óculos, a cortina...
Era incrível o que acontecia. O vento tomava conta de tudo.
Sim, era ele que estava chegando. Ao chegar sempre trazia mudanças em todas as coisas.
A situação a colocava numa posição que detestava, porque era algo que não podia controlar. Não tinha forças.
Decidiu ignorar o que acontecia.
Enquanto o armário tombava, as luzes se acendiam e apagavam, a mesinha de cabeceira caía no chão, ficou quieta, deitada, abraçando o travesseiro.
Não olhou para a porta e não viu quando ele entrou.
Foi quando o vento parou. Ele sorriu.
Gostava de vê-la daquela maneira, com o corpo a mostra, sem cobertas, aparentemente desamparada, em cima da cama.
Sentiu-se poderoso.
Ela não se abalou. Sabia que quando o dia amanhecesse ele se tornaria pequeno e desamparado, pois tinha a força daqueles que só vivem na penumbra.
10 04 2007
Tita
|