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Contos-->O símbolo do cobre -- 31/08/2007 - 14:59 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O símbolo do cobre


Fernando Zocca


Em Tupinambicas das Linhas, por muitos considerada a cidade maldita, naquele tempo, Grogue estava reduzido a pó de bosta de cachorro do indigente; os integrantes da seita maligna do pavão-muito-bem-louco, que amparava o governo corrupto do Jarbas, o caquético chagásico, não lhe davam trégua.
Com aquele seu andar de pombo, Van dirigia-se ao boteco verde da esquina, naquela manhã e, ao passar por uma pensão que abrigava, naquele dias, segundo as más línguas, cerca de 137 retirantes pretendentes às vagas de margarida no serviço de limpeza pública municipal, pensou ele: “como pode caber tanta ociosa num espaço tão reduzido e, passarem o tempo todo murmurando coisas más, inclusive indutoras de sensações que se tem quando se interage frente a frente, nos abilolados velhotes esquizóides da vizinhança?”
Sacando o derradeiro cigarro do maço pôde o bebum entrar no botequim, mas ainda que demonstrasse vacilo com aqueles passos trôpegos, conseguiu agarrar o balcão onde se firmou.
Van percebeu que havia alguém que ali nunca estivera. “Com certeza”, pensou ele “é marinheiro de primeira viagem”. E assim dirigiu o cumprimento inicial àquele que seria seu parceiro das jornadas etílicas.
- Bom dia! - Disse efusivo o Van.
O homem era alto, sua tez alva, a barba rala e o narigão vermelho. O proeminente da barriga indicava a ingesta diária de chope. Apesar do tamanho, da ossatura desenvolvida, tinha traços eunucóides.
- Bom dia! Meu nome é Ary Dengoso. Vejo sempre o senhor passar por aqui. Vai uma cerveja?
Van olhou para os lados e notou que na mesa do canto, perto da porta, havia um outro bebum; ele tinha na cabeça um boné que lembrava o de maquinista de maria-fumaça e ao ler o jornal, o macaqueiro passava as mãos pelas coxas. “Ainda bem que são as coxas dele”, pensou o Van.
Logo em seguida Grogue sentou-se e aceitou a bebida oferecida por Ary Dengoso. Então Van começou a falar:
- Ando com uma dor nas ancas que você não pode imaginar. Já fui ao médico, farmácia e até em benzedor. Imagine que esse último disse que eu tinha de fazer uma simpatia para melhorar. Eu precisava arrumar um fio enorme de cobre que tivesse cinco voltas e depois de passa-lo pelo corpo deveria sentar-me em cima dele, conferindo-o no final.
Ary Dengoso arregalou os olhos. Certamente nunca tinha ouvido tanto disparate assim, mas manteve sua atenção no parceiro, mesmo que aquilo fosse uma manifestação conseqüente das taxas altas de álcool no sangue. Então Grogue continuou:
- Essa simpatia não resolveu o meu problema. Mas dizem que a que ensinaram ao Jarbas, o caquético testudo pode ter resolvido o problema dele. Como todo mundo sabe ele sentia angústia só de ouvir sirene ou ver ambulâncias. Então num centro da seita maligna, disseram que ele tinha de ir até Campinas de ambulância e que quando lá chegasse deveria comprar dois pacotes de amendoim. Mas tinha que ser amendoim. Paçoca não! Um dos pacotes tinha de ser maior que o outro. E no local mesmo da compra ele precisava comer um deles.
Depois que tivesse feito isso iria à Indaiatuba onde, defronte a prefeitura de lá, comeria o outro pacote.
Ary Dengoso perguntou:
- Ele fez isso tudo?
Grogue confirmou:
- Fez sim. E quando chegaram em Tupinambicas das Linhas, o motorista perguntou-lhe: “Seu prefeito, o senhor perdeu o medo de ambulância?” Contam que Jarbas teria respondido que sim, que perdera o medo e angústia das ambulâncias, mas que não podia nem sequer sentir o aroma do amendoim que lhe vinha logo a soltura.
Nesse momento Ernesto Mail entrou ofegante no botequim. Ele perguntou aos demais ébrios atônitos:
- Lembram daquela bunduda que mora no 1.103? O “marido” atual dela deu o maior flagrante nela e no ex. Dizem que quando ela sentia saudades e queria que o amor antigo viesse, dispunha, na janela as cortinas de um jeito que só eles entendiam. O amante ao passar pela rua e ver as cortinas sabia que podia chegar e... pimba!... ficavam a tarde toda fazendo amor. Acontece que o gordinho desconfiou e manteve a marcação. Deu o maior fuzuê.
E assim, entre copos, notícias e o hino do Corinthians que vibrava em homenagem aos seus 97 anos, no radio a pilhas, depositado sobre os pacotes de cigarros, outra tarde modorrenta esvaiu-se, naquela cidade mais querida do Estado de São Tupinambos e do Brasil.
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