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cronicas-->Um Dois Três de Oliveira Quatro -- 26/01/2005 - 20:04 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Formundo. Esse era o nome do professor mais temido dos meus anos de ginásio. Professor de matemática, claro. Assim mesmo: Formundo, que rimava com muitas palavras malvadas. Era um bom educador, mas tinha sempre que interromper a aula para responder a mesma pergunta: de onde veio esse nome? Uma boa pergunta. Como os pais escolhem os nomes dos filhos?
No Brasil que crescia cinquenta anos em cinco, os casais apostavam na manutenção da boa fase da economia batizando seus primogênitos com o nome do papai. Para a mamãe era um achado. Quando berrava com marido já assustava o guri e vice-versa. Hoje, os Juninhos são cinquentões, grisalhos ou calvos, divorciados com três pensões alimentícias para administrar e mais Juninhos que nunca.
Pouco depois, os nomes duplos inundaram os cartórios. Debaixo duma ditadura brava, era mais inteligente dar dois nomes aos recém-nascidos. Se o primeiro nome ficasse carimbado pelo Doi Code, o garoto usaria o segundo; se o segundo entrasse na lista, usaria o primeiro; se os dois fossem vistos como inimigos do estado, o jeito era rezar e passar férias forçadas em Cuba. Os Carlos Henriques, Márcios Felipes, Joões Albertos, Pedros Guilhermes cresceram e gostam mesmo é dos apelidos: Cacá, Lipe, Betinho, Gui.
Com Geisel e a quase abertura política, os ex-hippies começaram a bater cartão de ponto, usar gravata listrada e tomar café expresso. Para compensar, batizaram seus rebentos com nomes indígenas ecologicamente corretos. Um jeito de não perder contato com a paz e o amor. Invadiam nossa aldeia os Caians, Cauês, Raíras, Sóis e Luas. Todos esses subprodutos de bicho-grilo acabaram entregando-se aos Big Macs e diluindo a ideologia ancestral num gole gelado de Coca-cola, para desespero dos pais-cabeça-boa.
Entrando de Calói Cross nos anos oitentas, com o Rock Brasileiro brotando de um New Wave chupadíssimo, explodiam bebezinhos nas maternidades feito contrabando paraguaio, etiquetados com nomes-marcas padronizados. Eram os Brunos. Ou os Rodrigos. Ou seriam os Tiagos e Gustavos? Também as Camilas, Melissas, Paolas. Nomes que invadiram a década de noventa e que estão nas certidões de nascimento dos adolescentes de hoje, moradores de condomínios fechados, torcedores do São Paulo e bruníssimos.
Nem só de moda se valem os pais desesperados por encontrar um mantra especial para seus filhos. As tendências e modismos convivem com uma técnica de criação de nomes que, de tão originais, chegam a ser esdrúxulos. Quem não conhece o Um Dois Três de Oliveira Quatro, um mito dos cartórios de registro civil? Ou o comprovado Madeinusa, nome bonitinho tirado de um rótulo de cerveja importada Made in Usa? Famoso também é o Hemam, moderno derivado do herói de Graiskol, He Man e seu Gato Guerreiro. Exemplos de que ser criativo frente ao escrivão pode gerar uma celeuma familiar que só quinze anos de terapia poderão resolver. Sigmundo Freud intensivo para a dona Barrigudinha, o senhor Chevrolet e o amado Letisgol. Let´s go!
Missão difícil dar um nome a outro ser humano. Uma opção salvadora seria dar um número a cada nascido, esperar que o pequeno se transformasse em adulto responsável e escolhesse, ele mesmo, o nome em sua identidade. Além de exercitar a democracia, veríamos adultos mais felizes com o próprio nome e com o seu significado bem pessoal. Um amigo meu seria o Glauber, de Glauber Rocha. Outra seria a orgulhosa Virgínia, de Woolf. E tenho quase certeza que o professor Formundo escolheria, sem pestanejar, o nome do criador do teorema que me valeu nota baixa numa prova bimestral: Pitágoras, muito prazer!

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Jefferson Cassiano é publicitário. Jefferson de Jefferson Airplane por parte de pai.
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