Tinha personalidade forte
Quando menos se esperava, brilhava, em toda a sua simplicidade e pouca instrução.
Alta, magra, negra, com um turbante feito de fraldas enrolado na cabeça, sorria seu sorriso sem dentes e contava o que já havia feito na vida. Corajosa, saíra sozinha pelo mundo procurando salvar-se de uma doença grave. E conseguira.
Dizia: eu não sabia aonde era mas “peitei” e consegui.
Com ela passei horas conversando em banquinhos feitos de tronco de árvore fixados no chão de areia branca.
Na casa dela tomei café em xícara de lata, comi frango em prato de ferro.
Juntas fomos muitas vezes até a praia do rio e enquanto lavava roupa, eu nadava, seguindo suas instruções de como não pisar em uma arraia.
Fins de tarde, fixávamos os olhos no sol que se punha, nos botos que se retiravam em bando, nas canoas que, sendo remadas, voltavam para casa. Nessas horas ficávamos em silêncio, fumando nossos cigarros de fumo de corda (que ela me ensinou a preparar).
Com ela aprendi que o importante é ter coragem e que ser feliz é fazer bem feito as pequenas coisas e olhar os animais que crescem, as flores que nascem e as panelas que brilham nas prateleiras fixadas na parede de barro.
Lembro-me dela como quem se lembra de caminhantes, que firmes não se cansam de ir em frente.
Lembro-me dela quando vejo os rios e deixo que minha mente corra até a areia branca e veja seus olhos alegres ao ensaboar a roupa.
Lembro-me dela a cada vez que ergo o corpo, olho em frente e digo: “peitei” e consegui!
Cristina
16/07/08
|