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Contos-->A SAGA DE UM QUARENTÃO -- 18/09/2007 - 21:25 (Magno R Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A SAGA DE UM QUARENTÃO
Por: Magno Roberto de Almeida
Em: Rio de Janeiro, Junho 2007


FRANCISCO PIMENTA DE OLIVEIRA E SILVA, este é o meu nome de batismo, mas sou conhecido como CHICO PIMENTA. Sou carioca, nascido e criado neste paraíso de mulher bonita chamado Rio de Janeiro - Cidade Maravilhosa. Tenho 45 anos, sou casado com Verinha, a mulatinha mais bonita do Brasil, pai de 3 filhos (juro pela tulipa do meu chope que são a minha cara, ou seja: lindos de morrer), sou funcionário público agregado na SSP-Secretaria de Segurança Pública onde exerço a função de escrevente em alguma Delegacia Policial do Rio de Janeiro. Vamos deixar bem claro: não sou detetive e nem investigador da Polícia Civil, não faço diligências, não faço prisões, nunca dei um tiro e nunca andei armado, enfim, sou apenas um bobalhão que registra, no computador, depoimentos de presos e queixas de vítimas. No jargão da bandidagem, otários iguais a mim são, carinhosamente, chamados de "bucha" (figura sem autoridade, não faz nada e leva a culpa, tipo assim: não comeu Mariazinha, mas assumiu a paternidade). Eu não ligo. É melhor ser "bucha" do que ser alvo das famigeradas AK-47, AR-15, 9mm e vários outros "dragões" que cospem fogo em cima da galera. Bem, agora que eu já me apresentei, vou contar a história que quase mudou a minha vida. Vamos lá!

Na véspera do meu aniversário de 40 anos encerrei o meu plantão às 18 horas, dispensei o tradicional chopinho no "Buraco da Cremilda" (boteco que tem em frente a delegacia que eu trabalho) peguei o meu Fiat 147, ano 1979, todo estropiado, e vazei pra casa. Queria chegar cedo e descansar para, no dia seguinte, comemorar os meus 40 anos em grande estilo.

Naquele dia, eu era o símbolo da felicidade. Imagina só, chegar aos 40 anos morando no Rio de Janeiro próximo ao Complexo do Alemão (conglomerado das favelas mais perigosas do Estado) e trabalhando numa Delegacia Policial. Cada minuto de vida é motivo para comemoração. Só uma coisa me preocupava: o tal exame da próstata que a minha mulher tanto falava e os meus amigos tanto sacaneavam.
Dizem que depois dos 40 anos todo homem tem que fazer esse exame, anualmente, e eu nunca simpatizei com essa idéia. A minha praia é outra, malandro, e esse papo de levar dedada não soa bem na minha cabeça. Não estou nem um pouco interessado em sofrer um estupro dessa natureza. O que tem me deixado mais puto é que, ultimamente, a Verinha, minha mulher, vem se mostrando muito prestativa para promover...digamos assim, minhas núpcias com um cara apelidado de proctologista e nessas horas, meu irmão, eu fico sempre mal humorado.

- Qual é Verinha? Sai pra lá, porra! Parece até que ta querendo se vingar mim. O que é isso, pretinha? Assim você vai manchar a honra do negão? Para com isso, vai. - Eu sempre reagia dessa forma quando Verinha tocava no assunto.

Muito bem, cheguei em casa dei um beijinho mal intencionado na minha pretinha cheirosa, brinquei um pouquinho com a criançada e fui jantar. Mal comecei a comer e lá vem Verinha com a porra do blá...blá...blá:

- Amor, marquei o proctologista pra segunda-feira às...

- Porra, mulher, não estraga o clima. Deixa que quando eu quiser perder a virgindade eu procuro esse cara.

- Mas...amorzinho...

- Amorzinho é o cacete, Vera! - cortei o papo - Eu não tô a fim de ser seduzido...chega...perdi a fome. Vera, quer saber? Vai lá no portão catar coquinho valeu? Aproveita e vê se eu tô lá na esquina batendo palmas pra maluco dançar. Não enche o meu saco ta legal? - falei puto da vida.

- Você é um grosso! Ta ficando neurótico.

- Chega Vera! Por favor, procura entender que...

- Entender o que, Chico? - gritou ela, babando e me atropelando de vez - Você depois de velho ta ficando babaca. Fazer exame de próstata não vai tirar a tua masculinidade, mas não fazer pode até te levar a morte. Vê se entende ô cabeça de camarão.

Fiquei calado para não agravar a discussão, mas no fundo eu achava que ela estava com toda razão. Mas como é que eu ia aceitar uma parada dessa. Eu fui educado no estilo durão tipo "homem não chora". Lá em casa é todo mundo macho, menos minha mãe, é claro. Meu pai tira cisco do olho com ponta de faca. O que ele vai dizer quando souber que eu, o seu filho mais velho, um legítimo representante da família Pimenta, além de mostrar a bunda, deixei um cara enfiar o dedo no meu ânus? Ele vai me matar, cara. No pior das hipóteses ele vai me deserdar, tenho certeza.

Pensando nisso, não dei o braço a torcer, levantei e fui para a varanda conversar com o "Fred" (Fred é o meu cãozinho vira-latas), nessas horas só ele me entende. Fiquei tão puto que nem tive ânimo de assistir a novela Paraíso Tropical (gosto de ver a Bebel maltratando o cafetão e seduzindo o babaca do Olavo).

Lá pelas 11:40 da noite, ainda muito puto, fui me deitar na esperança de fazer as pazes com Verinha, mas ela ignorou a minha presença. Virei para o lado e tentei dormir. Meu caro amigo, agora começa o meu sofrimento.

Parece que foi praga da Vera. Poucos minutos depois, comecei a sentir umas fisgadas no saco, para ser mais preciso, nos culhões, ta ligado? Era uma dor tão fininha que descia pela perna esquerda, subia pela perna direita, passava pela virilha, escalava os intestinos, driblava o esôfago e se alojava no cérebro. Doía pra cacete, meu irmão. Eu tinha a estranha sensação de que estavam apertando os meus testículos com um alicate de pressão. Tentei lembrar se eu tinha batido em algum lugar ou se tinha cruzado as pernas de mau jeito, mas não consegui encontrar explicação para o fato. Comecei a ficar preocupado e rezei para todos os santos que passaram pela minha memória, até para o recém formado Frei Galvão eu apelei. Quanto mais eu rezava mais o saco doía. Cheguei a pensar que um tratamento de canal sem anestesia seria mais confortável do que aquela dor infernal que martelava os meus inocentes bagos.
Como eu não conseguia dormir, levantei, liguei o computador e comecei a navegar na internet. Parei num site erótico e fiquei observando. A dor que eu sentia era tão grande que, mesmo diante daquelas cenas tão picantes, o "Nelson Ned" nem se mexeu (Nelson Ned é o tratamento carinhoso que eu dou ao meu pinto, até porque ele - o meu pinto - também é bem miudinho). Vale dizer que, quando navego nesses sites, fico frustrado com o tamanho do bilau daqueles caras. Aquilo não pode ser verdade, cara. Se for, Deus foi muito cruel comigo. Nesse dia, ou melhor, nessa noite, eu vi um cara que parecia estar com a mangueira do corpo de bombeiros entre as pernas. Como pode uma mulher se sujeitar aquilo? Deus me livre!. Se eu fosse mulher só transava com cara igual a mim, com o pintinho pequenininho igual ao meu. Pode rir, eu não ligo. Ele é pequeno mas resolve, é experiente, executa suas funções com ótimo desempenho e nunca ficou desempregado. Mas tudo bem, deixa o "Nelson Ned" pra lá e vamos continuar com a narrativa do meu sofrimento.

Como eu não conseguia ficar excitado com aquelas cenas, deduzi que o meu pinto estava literalmente morto. Desliguei o computador e fui assistir TV na esperança de dormir. Vocês não vão acreditar, mas é a pura verdade. Num desses canais da TV a cabo, acho que era o GNT, estava passando uma reportagem sobre câncer de próstata. Fiquei ligadão na parada e até esqueci a dor. O locutor falava tudo em inglês, mas tinha legenda e eu fui lendo com a máxima atenção. Amigo, na medida em que eu ia lendo as informações do cara, eu ficava cada vez mais desolado. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto quando o cara falou que os primeiros sintomas de câncer na próstata manifestam-se com fortes dores na tal de bolsa escrotal. Bolsa escrotal! O que é isso? - Pensei e imediatamente deduzi que bolsa escrotal, saco, culhões, bagos e testículos, são tudo a mesma coisa e, naquele momento, o que eu menos queria saber era o nome científico dos companheiros inseparáveis do meu glorioso "Nelson Ned" (não esqueçam: "Nelson Ned" é o apelido do meu pinto). A cada informação que o locutor passava, o meu desespero aumentava. Quando terminou a reportagem balbucie desolado:

- Puta que pariu, chegou a minha hora, vou morrer!
Chorei copiosamente. Parecia uma criança que teve o doce roubado ou que levou um cascudo do pai quando mexeu nas suas revistinhas de sacanagem.

Desliguei a TV e tive vontade de quebrar aquela maldita por ela ter me dado aquela notícia tão triste. Dominei o meu ímpeto porque a minha tão sonhada 29" tela plana, tinha custado uma grana e foi financiada em 12 prestações das quais ainda faltavam pagar 10 parcelas que, certamente, não seriam pagas porque eu morreria antes.

Chorei todas as lágrimas que um ser humano pode chorar. Tive a sensação que minhas glândulas lacrimais abandonaram o meu corpo porque não poderiam mais cumprir com a sua sagrada missão: produzir lágrimas. A esta altura a dor nos culhões era tão grande que eu já não conseguia andar direito, parecia que eu estava carregando um peso de 100kg nas costas.

Eram 3 horas da manhã e faltavam 2 horas para o dia amanhecer. Como eu explicaria para minha mulher e para os meus filhos a razão daquela cara inchada de tanto chorar? Comecei a pensar na vida. Achei que Deus estava sendo injusto comigo. Porra! Tudo bem que eu já fui da pá virada. Já amarrei bombinha no rabo do gato, já roubei farofa de pai de santo, já roubei vinho na sacristia, já fugi do restaurante sem pagar a conta, enfim, já fiz uma porrada de coisas ruins, mas agora eu to regenerado. Sou um cara bacana. Distribuo balas no dia das crianças, ajudo a comunidade nos mutirões, divido a marmita com os mendigos, levo a minha sogra para passear e até aprendi a rezar. Será que o cabeludo lá em cima não tá vendo isso?. To lutando, no sapatinho, pra salvar a minha alma e aí vem Ele e me dá uma rasteira. Você concorda que isso é injusto? Ou será que Ele está querendo me dar um corretivo. Talvez a idéia Dele seja me dar um banho de mel e me deixar, pelo menos 24h, sentado em cima de um formigueiro. Porra, cara, imagina aquelas saúvas gigantes, tipo tanajura, cravando o ferrão no meu saco que já está todo dolorido. O lado bom desse castigo é que eu vou pagar todos os pecados que já cometi e ainda vou ficar com crédito para compensar nas futuras traquinagens.

Sem esconder minha tristeza fiz um último apelo, ao meu bom Deus, para que Ele não deixasse os meus filhinhos órfãos de pai. Chiquinho, Creuzinha e Marcelinho, 2, 5 e 9 anos, respectivamente. Penso também na Verinha, minha fiel esposa, um encanto de mulher, bonitinha, corpinho nota 10, não é uma Camila Pitanga, mas chega perto, apesar dos 3 filhos, todos de parto normal, mais para mim, continua uma eterna virgem, extremamente sensual, carinhosa, delicada e gostosa. Na cama, uma tremenda astronauta com vaga garantida na NASA, graças a ela eu pude conhecer o Sol, a Lua e as Estrelas nas viagens alucinantes em que ela me conduz com maestria nas nossas noites de amor. Coitadinha da minha pretinha se cair nas garras do Zeca pé de mesa, o garanhão do pedaço. Ele nunca se meteu a engraçadinho com ela porque sabe que eu arrebento a cara dele de porrada. Mas como defunto não bate em ninguém, o caminho vai ficar livre para o espertalhão. Imagina aquele monstro transando com a minha Verinha. O cara tem uma caceta igual àquelas que eu vejo nos sites eróticos e Verinha nunca viu isso. A única caceta que ela viu na vida foi a minha (se é que eu posso chamar isso de caceta) e a dos meus filhos. Quando casamos ela era virgem, eu fui o primeiro e único homem na sua vida e ela já está acostumada com o meu pintinho. Tomara que Verinha não caia no papo daquele tarado, se cair já era. Quando a trolha do negão começar a entrar minha pretinha vai chorar lágrimas de sangue. Vai gritar, espernear, tentar fugir e desesperadamente vai me pedir socorro, mas eu nada poderei fazer. O cara vai dividir Verinha ao meio. Meus Deus! Que horror! Nem quero pensar nisso!

Olho para o relógio e vejo que são 6 horas da manhã. Penso rápido e decido ir ao médico examinar minha próstata. Para não acordar Verinha vou até o varal, pego uma cueca limpa, tomo uma chuveirada, visto a mesma roupa e saio em silêncio com destino ao consultório do tal proctologista. A esta altura do campeonato, o meu saco doía menos ou então eu já estava me acostumando com a maldita dor. Mesmo assim, decidi ir de táxi para não fazer esforço que pudesse incomodar meus gloriosos culhões. Quando eu estava saindo no portão um vizinho passa de carro e me oferece carona. Ôba, legal, assim eu economizo o dinheiro do táxi para comprar os remédios. Agradeci ao Luiz e entrei no seu Monza vermelho. Que beleza! Aquilo é que é carro. Nem se compara com o meu Fiat - (F)ui (I)ludido (A)gora é (T)arde - 147 todo ferrado. Me senti "o cara" no banco daquele Monza vermelho.

Luiz era um cara muito discreto, religioso, caladão, caseiro e vivia só para a família e para a igreja evangélica que ele frequentava. Era um homem de Deus, como costuma dizer. Nunca vi o cara metido em bagunça. Aos domingos ele ia para a igreja de manhã e de noite. Em sua casa só se ouvia músicas evangélicas. Samba, pagode, forró, rock, hip hop, eram gêneros musicais que o seu aparelho de som recusava-se a tocar. Apesar de todo esse fanatismo ele era um cara gente fina e muito querido na vizinhança.

Como o Luiz é muito calado e eu, apesar de muito falante, também não conseguia falar sem provocar dores no saco, a viagem seguia em silêncio. Parecia que estávamos indo para um velório. Tentei "quebrar o gelo" para o tempo passar mais rápido:

- Luiz, - perguntei meio temeroso - tu sabe o que é câncer de próstata?

- Claro que sei, Chico. Meu pai morreu disso. Foi terrível. Dava pena ver o coitado gritando de dor. Quando ele morreu foi um alívio para todos nós, inclusive para ele.

- Puta que pariu - pensei comigo mesmo - Era melhor ter vindo de táxi ou ter mantido o silêncio.

O que o Luiz me falou fez o meu saco doer ainda mais.

- To ferrado, - pensei com tristeza - meu fim está próximo, preciso saber quanto tempo ainda tenho de vida.

Luiz quis saber a razão da minha pergunta e chegou a insinuar que eu estava com a maldita doença.

- Porque me perguntou isso, Chico? Você está com câncer na próstata? Se tiver vai lá na igreja domingo e vamos pedir uma oração para curar a tua doença. Se você tiver fé, vai sair de lá curado.

- To não, Luiz. To não. É que eu fiquei impressionado com uma reportagem que assisti ontem a noite na televisão. - falei tentando disfarçar o nervosismo.

Pela cara que ele fez, acho que não acreditou, mas ficou calado e eu comecei a pensar na possibilidade de acompanhar o Luiz até a igreja no domingo. Mas, por enquanto, resolvi dar uma chance a ciência antes de recorrer a Deus que deve estar muito atarefado tentando convencer o Congresso Nacional de que verba pública é dinheiro do povo e deve ser investida em benefício da nação e....bem deixa pra lá. Isso é uma outra história.

Luiz trabalha no IBGE, lá em Mangueira, e como se estivesse adivinhando que o meu saco doía, seguiu pela Av. Mal Rondon para me deixar na estação do metrô já que eu ia para o centro da cidade, pois o consultório do meu famigerado estuprador ficava na rua Uruguaiana.

Tudo bem, chegamos. Desci, agradeci e fui para estação do metrô pegar o trem. Para minha surpresa e indignação, quando o trem abriu a porta, dei de cara com o Zeca pé de mesa:

- Fala aí Chico. Ta abatido, cara, o que você tem? Ta doente, mano?

- Não, Zeca. - falei tentando disfarçar a minha dor - To cansado, cara. Virei a noite no plantão e estou até agora sem dormir.

- Não enche o meu saco que ele ta doendo muito - pensei.

- Vê lá, cara. - insistiu o engraçadinho - Te cuida, maluco. Vai dar mole e morrer deixando Verinha perdida nessa selva. Sabe como é mano...rapidinho chega um caçador para abater a caça.

Tive vontade de mandar o Zeca para a puta que pariu, mas dominei a minha raiva e fiquei calado. Pensei na felicidade que eu sentiria se um dia pegasse aquele filho da puta fazendo coisa errada. Ah! Seu eu pego aquele desgraçado "mijando fora da bacia". O mínimo que eu faria era cortar o pau dele em quatro pedaços, enfiar um em cada ouvido, um na boca e outro no seu ânus (no dele, é claro) e ainda deixaria o porco pendurado em praça pública com uma placa no peito escrito: aqui jaz um tarado.

Ainda bem que o miserável desceu na estação Praça Onze e eu segui minha viagem até a estação Uruguaiana. Desci do trem, tomei um cafezinho e lá fui eu caminhando devagar, desolado e na esperança de nunca chegar ao meu destino, mas a realidade e outra e infelizmente cheguei no "abatedouro" e imaginei a cara do meu algoz babando de felicidade esperando a minha chegada.

Peguei o elevador e quando ele parou no 3º andar senti um arrepio que subiu da ponta do dedão do pé até o último fio de cabelo (da cabeça é claro) dando-me a sensação que uma entidade de Umbanda estava tentando se apoderar do meu corpo. Fiz o sinal da cruz três vezes, rezei pelo meu anjo da guarda e entrei no consultório.

A atendente era uma senhora gorducha e metida a engraçadinha, apesar da aparente simpatia. Entreguei o cartão do plano de saúde para fazer a ficha.

- Bom dia, minha senhora!

- Bom dia Sr.Francisco. - respondeu ela, olhando para o cartão.

- É a primeira vez? - perguntou olhando nos meus olhos.

- Sim - respondi baixinho como se estivesse contando um segredo.

- A primeira vez aqui ou a primeira vez que vai fazer o exame? - insistiu a chata.

- É a primeira vez que vou fazer o exame, moça - respondi morto de vergonha.

- Aí que lindo! Moça? Só se for no ouvido, bonitão! - disse ela sorrindo.

- Obrigado pelo bonitão e desculpe pela moça - falei meio constrangido.

- Hoje você perde a virgindade, mas fica tranqüilo que a vaselina é da boa. - Falou a engraçadinha.

- Heim!? - balbucie incrédulo com o que acabara de ouvir.

- Liga não Sr. Francisco, rapidinho o senhor acostuma. - respondeu a gorda, deixando a mostra, no seu sorriso, a ausência dos dois principais atacantes.

Pelo calor que senti no rosto, acho que fiquei vermelho de vergonha e ensaiei um sorriso meio sem graça. Ao mesmo tempo deduzi que os dentes que faltavam no sorriso da gordinha fugiram agarrados na mão de alguém menos paciente do que eu.

Como o meu saco não parava de doer, peguei uma revista para tentar esquecer a dor. Nisso chegou um cara, tipo executivo, de terno e gravata, boa pinta, desembaraçado. Cumprimentou a gorda e sentou-se ao meu lado. Eu não conseguia ler, mas continuei olhando para a revista. O cara tentou puxar conversa:

- Bom dia, amigão, tudo bem?

- Tudo - respondi sem tirar os olhos da revista.

- Troço chato esse exame né?

- É - respondi com a cara na revista

Ele percebeu que eu não estava a fim de papo e nada mais falou. Pegou o celular, ligou e avisou que ia chegar mais tarde. Deu algumas ordens desligou e virou-se para a atendente:

- O Dr. Alfredo já chegou?

- O Dr. Alfredo viajou. - respondeu a gorda abusada - A Dra Heloísa está atendendo os pacientes dele.

- O que!!!??? Doutora!!!??? - indaguei a mim mesmo, horrorizado.

Ai meu Deus...é uma mulher...to fodido...porque esse filho da puta resolveu viajar logo hoje? Acho que vou embora...prefiro morrer do que mostrar minhas partes tão íntimas para uma mulher desconhecida.

Antes que eu pudesse me recompor do susto, ouvi uma voz feminina:

- Sr. Francisco Pimenta.

Olhei na direção do cara na esperança de que ele fosse o meu homônimo.

- Sr. Francisco, pode entrar - falou a gorducha, olhando pra mim.

O mundo desabou na minha cabeça. Levantei em silêncio e adentrei o recinto pornográfico que estava a minha espera.

- Bom dia, Sr. Francisco, tudo bem?

- Porra, minha senhora, se estivesse tudo bem eu não estaria aqui. - pensei, mas não falei.

- Tudo mais ou menos doutora - respondi um pouco desanimado.

- Sr. Francisco, conte pra mim, em detalhes, o que o senhor está sentindo.

- Bem...é...é...eu to...na verdade...sabe doutora...eu...
- Pode falar, Sr. Francisco, - disse ela - não fique envergonhado, eu estou acostumada com isso, pode se abrir comigo.

- Se abrir!!!??? Ficou maluca, mulher? Acha que eu sou desses que vai se abrindo para qualquer mulher logo no primeiro contato? - novamente pensei, mas não falei.

Ela, com a mão no queixo, olhava pra mim com ternura e aguardava pacientemente a minha resposta. Fiquei contemplando o rosto lindo daquela mulher de pele bronzeada contrastando com seus olhos levemente esverdeados e que deixavam transparecer toda a sua sensualidade. Voltei para a realidade quando ouvi sua voz.

- Vamos, Sr. Francisco, preciso saber o que o senhor está sentindo.

- É...como eu ia dizendo...to...quer dizer... - eu tentava, mas não conseguia falar.

- Sr. Francisco, - disse ela demonstrando impaciência - o senhor precisa confiar em mim e falar abertamente o que está sentido para que eu possa examina-lo. Não podemos ficar aqui olhando um para a cara do outro. Lá fora tem outros pacientes aguardando atendimento. Vamos lá! O senhor tem duas opções: falar ou falar. - sentenciou a fera vestida de fada.

Criei coragem, ou melhor, aceitei o velho ditado, "quando o estupro é inevitável, relaxa e goza". Comecei a falar tudo sobre a dor que me atormentava desde a noite anterior. Eu só não falava abertamente que era no "saco", eu dizia que era na região da bolsa escrotal e apontava para o "Nelson Ned". Falei que após a reportagem do GNT eu tinha ficado desiludido e achava que ia morrer. Contei tudo sem esconder nada. Falei até da discussão que eu tive com a Verinha. Ao final da minha confissão, pedi a ela que fosse sincera comigo e estimasse quanto tempo eu ainda teria de vida. Ela tentou me tranqüilizar:

- Calma, Francisco, nem sempre dores nos testículos significa câncer de próstata. Fica tranqüilo que eu vou te examinar.

- Francisco!!??. Há poucos minutos atrás eu era Sr. Francisco e agora já está me tratando com intimidade. - pensei em silêncio - Onde ela está querendo chegar?

- Vá para trás daquele biombo, tire toda a sua roupa e vista esta camisola, quando estiver pronto me avise, ok?

- Camisola!? Puta que pariu! Quarenta anos na cara e tenho que vestir camisola na frente de uma desconhecida. Oh! Meu Deus! Quanta humilhação. - pensei, quase chorando.

Fui para trás do biombo e mais uma vez um pedaço do céu caiu sobre a minha cabeça. Percebi que não tinha como escapar daquele estupro e me entreguei. A tristeza e a vergonha tomaram conta de mim. Vesti a tal camisola e gaguejei:

- Esto...tou...pron...pron...to...dou...to...to...tora.

Ela pediu que eu aguardasse um pouco. Fiquei igual a um babaca, peladão dentro daquela camisola horrível e toda aberta atrás. Pensei em despertar o "Nelson Ned para amenizar um pouco a vergonha, mas quando tentei acaricia-lo não o encontrei. O danado estava só com o olhinho de fora, o corpo e a cabeça simplesmente desapareceram e quase que eu digo para a médica: traga uma pinça doutora.

- Francisco, - chegou ela toda decidida, cortando o meu pensamento - senta na maca, coloque esse pedaço de borracha entre os dentes, pegue essas duas bolinhas e aperte-as, alternadamente, uma em cada mão.

Não entendi porra nenhuma, mas fiz o que ela mandou. A danada levantou a minha camisola e deixou a mostra o maior motivo da minha vergonha. Percebi um risinho sarcástico no rosto da filha da puta. Possesso de raiva, fechei os olhos e comecei a morder a borracha e apertar as bolas que estavam em minhas mãos. Senti quando o meu saco foi envolvido pela maciez de suas mãos e fiquei todo arrepiado, mas o "Nelson Ned" nem deu sinal de vida, continuou escondido na sua toca. Ela começou a esfregar os meus testículos...eu calado...ela esfregava...eu calado...parou de esfregar e começou a apertar...eu calado...mais pressão e eu calado engolindo a minha dor. De repente, não satisfeita com a tortura, a danada apertou com mais força. A dor foi tão violenta que me fez quicar na maca. Eu não conseguia gritar porque estava mordendo a borracha, mas gemi com todas as forças da minha alma e numa manobra desesperada, larguei as bolas que eu estava apertando e agarrei a doutora pelos cabelos.

- Meu Deus! - pensei comigo - Como pode um pai permitir que a sua filha passe o dia todo apertando os culhões dos mais variados tipos de homem que aparecem a sua frente. Ah! Se fosse minha filha...eu não deixava...eu não deixava e se insistisse entrava na porrada.

Agarrado aos cabelos daquela bela mulher eu me sentia um verdadeiro inútil balançando a cabeça negativamente.

- Por favor, pare. Não me torture mais. Largue o meu saco, pelo amor de Deus. Não faça isso comigo. Eu sou um cara legal e não mereço esse sofrimento - implorava o meu olhar desesperado.

Acho que ela compreendeu o apelo dramático que eu fazia com o olhar e largou o meu saco.

- Tudo bem, Francisco, fica calmo, já vai acabar. Quer tomar um pouco de água?

- Porra! - pensei revoltado - Água numa hora dessa. Na verdade eu precisava é de uma garrafa de pinga pra tomar um porre e não vê o que estava acontecendo. Não, doutora, quero não, muito obrigado - respondi.

- Francisco, - começou ela toda sedutora - a próxima etapa é um pouco desconfortável e você precisa relaxar para que tudo corra bem, ta legal? Não se preocupe que eu não vou machucar você.

- Que porra é essa de "não vou machucar você"? - pensei de cabeça baixa olhando, de soslaio, os movimentos que ela fazia.

Vi quando a minha bem intencionada estupradora pegou um par de luvas e uma latinha de vaselina.

- Puta que pariu, chegou a hora da dedada. Será que vai doer muito? - pensei.

Olhei para as mãos da mulher, tentando fotografar suas unhas, e o que eu vi deixou-me preocupado: as unhas não eram longas, mas, também, não eram tão curtas para que, no meu modo de pensar, pudessem evitar um acidente. Transtornado, ouvi, em silêncio, o que jamais gostaria de ter escutado.

- Francisco, agora eu vou examinar a sua próstata e o único caminho para chegar nela é o seu ânus. Vou ter que penetra-lo, mas se você colaborar, seguindo todas as instruções, o exame será rápido e indolor, preste atenção: Relaxe, fique de frente para a maca a uma distância de 1,50m, aproximadamente, abra as pernas, apóie as mãos na maca, não se mexa e não olhe para trás.

Porra, cara, apesar do frio que fazia no consultório, eu comecei a suar. Fiquei estático e com os olhos arregalados observando o ritual macabro da médica colocando as luvas. Minha alma desprendeu-se do corpo e saiu em disparada daquela sala de torturas. Eu queria acreditar que estava sonhando e pedia, desesperadamente, que alguém me acordasse daquele pesadelo.

- Meu Deus! - pensava querendo gritar - Isso não é verdade. Isso não pode estar acontecendo comigo.

De repente senti uma fisgada na porta de saída do meu reto e alguma coisa deslizou para dentro de mim invadindo o que de mais sagrado em tinha. A tragédia estava consumada. O invasor, arrastando-se pelas paredes do meu reto, adentrou e bagunçou o recinto da minha intimidade. O meliante, dentro de mim, mexia-se com desenvoltura e pressionava, impiedosamente, as minhas entranhas maltratando a minha bexiga e a minha uretra, fazendo-me sentir sensações que eu jamais sentiria se tivesse agasalhado os meus culhões com compressas de água morna. Agora é tarde. Fui estuprado sem piedade e abandonado ao relento, pois ao final daquele genocídio a minha algoz virou as costas, retirando-se e deixando-me deflorado na rua da amargura.

- Tudo bem Francisco você está ótimo, pode vestir a sua roupa.

Senti um líquido quente escorrer pela minha bunda e manchar o lençol. Era sangue. Acho que a unha da assassina arrebentou minhas pregas.

- Filha da puta!. - pensei revoltado - Me leva na conversa, faz o meu pinto sumir, aperta o meu saco, enfia o dedo no meu ânus, arrasa com a minha moral, rasga o meu inocente cuzinho, deixa-me traumatizado, satisfaz o seu ego e depois manda eu vestir a roupa e cair fora, dizendo que eu estou ótimo. Ah! Sua vagabunda, quando eu sair daqui vou direto para a DPVAM-Delegacia de Proteção a Virgindade Anal Masculina registrar uma queixa crime contra você. Vou fazer de tudo pra mantê-la trancafiada no xadrez evitando, desta forma, que você saia por aí estuprando outros inocentes iguais a mim. Você vai pagar pelo que fez sua desgraçada!

Peguei a receita com os exames que ela recomendou e sai varado. Passei pela recepção de cabeça baixa, sem olhar pra ninguém. Não esperei o elevador, desci pelas escadas e segui em passos largos para a estação do metrô. Naquele momento o que eu mais queria era chegar em casa para tomar um banho e apagar todos os resquícios da maldade que eu sofri e, depois, fazer compressas de água morna no saco e no ânus, agora eram os dois que doíam.

Peguei o trem do metrô e fiquei em pé porque eu não queria machucar o meu ânus mais do que as agressões que ele acabara de sofrer. Para meu castigo, quando a porta do trem abriu, na estação Praça Onze, entrou o miserável do Zeca pé de mesa.

- Chiiico! - falou o filho da puta, sem quaisquer cerimônias - O que é isso, amigão? Que cara é essa? Parece até que foi estuprado!
- Zeca, tu já fez exame de próstata? - perguntei, respirando fundo para aliviar a minha dor.

- Qual é, malandro!? Ta me achando com cara de quê? Eu sou espada! O meu reto é uma estrada de mão única e o fluxo é de dentro pra fora, nunca em sentido contrário.

Fiquei em silêncio por não ter condições de falar o mesmo.

- Chico! Chico! Acorda, homem de Deus! O teu exame com o proctologista é hoje às oito horas. Rápido, meu amor, senão você vai perder a consulta e o Dr. Alfredo viaja hoje.

Era Verinha me acordando. Puta que pariu! Vai começar tudo de novo. Só que agora é pra valer. Levantei fazendo beicinho e querendo chorar.

Jun/2007
Magno R Almeida

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Obra registrada na Biblioteca Nacional
e protegida pela Lei 9610 de 19/02/1998
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Nota do autor:
Todos os personagens e suas respectivas qualificações, bem como o enredo desta obra, são fictícios. Quaisquer semelhanças serão consideradas meras coincidências.
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